Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2013 | Page 18

E as “ artroses ” onde entram nesta classificação ?
JEM – As artroses inserem-se nas lesões cartilagíneas degenerativas e com lesão simétrica nas duas superfícies articulares . Esta doença afeta praticamente toda a espessura do tecido cartilagíneo de uma articulação , provocando lesão do osso subcondral . A degeneração do tecido cartilagíneo é um processo natural e progressivo que atinge o seu limite já em idades mais avançadas , devido à fraca capacidade de regeneração deste tecido . Associa-se a desvios de eixo , fraturas com atingimento articular , lesões meniscais e ligamentares . FL – A artrose é a resultante de fenómenos mecânicos e biológicos que desestabilizam o equilíbrio entre a síntese e a degradação da cartilagem e osso subcondral . As causas podem ser genéticas , metabólicas , traumáticas e constitucionais . Na artrose primária há perda progressiva da cartilagem acompanhada de tentativas da sua reparação , remodelação e esclerose do osso subcondral , com ou sem quistos subcondrais e osteófitos marginais . PP – A artrose é o fim da linha da lesão da cartilagem . Na fase final deste processo já não existe cartilagem e estamos perante um quadro de artrose .
O atleta está mais vulnerável ?
JEM – O atleta não está mais vulnerável , mas sim mais predisposto a contrair uma lesão da cartilagem articular que qualquer outro indivíduo , já que está mais exposto aos fatores de risco e aos diversos mecanismos de lesão . Contudo , as lesões cartilagíneas nos atletas ocorrem , na maioria das situações , associadas a outras lesões articulares , tais como as lesões ligamentares . FL – O mecanismo e a história natural da lesão aguda da cartilagem ainda não estão totalmente compreendidos . A cartilagem tem a capacidade de suportar grandes forças compressivas e grandes cargas instantâneas , mas os traumatismos repetitivos e violentos a que estão sujeitas podem conduzir á fragilização , rotura e a lesões focais , as quais estão associadas com vários graus de perda de cartilagem . Os atletas , pela exigente atividade física nos treinos e competição , tornam-nos mais expostos a estas agressões . PP – Sim , porque tem uma profissão de risco . As lesões osteocondrais aparecem sobretudo nas articulações de carga : joelhos , tornozelos e , em menor grau , nas ancas . É muito frequente ao fazer-se uma artroscopia do joelho encontrarem-se lesões osteocondrais . Se for o joelho de um atleta e a artroscopia for realizada por uma lesão ligamentar ou por luxação da patela , este número eleva-se :
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5.3 % of 1000 scopes age < 40 ( Hjelle , Arthroscopy 2002 )
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16-46 % of acute ACL tears ( Brophy , Arthroscopy 2010 )
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72 % of patella-femoral dislocations ( Nomura , Arthroscopy 2003 )
Porque é que tão difícil tratar a lesão da cartilagem ?
JEM – A cartilagem articular não possui vasos , nem nervos , nem capacidade de regeneração ad integrum . Assim , em muitos casos de lesão de cartilagem , o processo de regeneração resulta num tecido fibroso menos funcional e resistente que o tecido cartilagíneo inicial . FL – Essencialmente pela sua limitada capacidade de reparação , pobre suplemento vascular e deficiente capacidade de diferenciação celular ( é avascular e aneural ). O diagnóstico é muitas vezes de exclusão por falta de sintomas patognomónicos ou ocasional no decurso de cirurgia artroscópica ou na realização de RMN , e este atraso pode ter repercussões nefastas no tratamento e prognóstico . Existe também dificuldade na decisão cirúrgica , relacionada com o momento mais adequado para a sua execução e com a escolha da técnica mais apropriada para cada lesão e indivíduo . As diversas técnicas cirúrgicas ainda não permitem a obtenção de cartilagem com as mesmas caraterísticas e durabilidade da pré-existente . PP – A cartilagem é dos poucos tecidos do nosso organismo em que não existe um processo natural de autorreparação . Não tem vasos e se a lesão não atingir o osso subcondral não há reparação .
Ressonância magnética com lesão condral extensa – Foto JEM
Imagem de lesão condral e meniscal em artroscopia – Foto JEM
Lesão osteocontral grau IV ( seta ) e membrana de colagénio ( ponta de seta ). Foto PP
Lesão osteocondral do côndilo femoral externo ( seta ) e lesão osteocondral do planalto tibial externo ( ponta de seta ). Foto PP
Qual é o interesse da infiltração com ácido hialurónico ?
JEM – A utilização do ácido hialurónico , na designada viscossuplementação , tem-se vindo a revelar cada vez mais eficaz no alívio da
16 · Março 2013 www . revdesportiva . pt