Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2013 | Page 16
Fórum
Rev. Medicina Desportiva informa, 2013, 4 (2), pp. 14–19
A lesão da cartilagem
articular e o desporto
A lesão da cartilagem articular (CA) é uma entidade clinicamente
assustadora. Falar de lesão da CA é pensar em mau prognóstico. Não
faltam os exemplos de atletas que acabaram precocemente a carreira
desportiva, assim como outros que ficam com alguma incapacidade
após a “reforma” desportiva. A patologia da CA viaja desde a lesão
superficial até ao atingimento ósseo, de modo progressivo e diagnosticável, mas não tem sido possível interromper atempadamente esta
viagem. Não existe “força” para interromper prematuramente a carreira desportiva do atleta, nem este, nem os que dele dependem, estão
naquele momento interessados. Provavelmente não existem critérios
médicos para esta decisão. A terapêutica médica e cirúrgica é variável
e já muito experimentada, mas nem sempre os resultados finais são
os desejáveis. Existem várias técnicas, que dependem algumas vezes
de modas ou da experiência do cirurgião, mas não parece haver ainda
consenso. E a prevenção? Temos estado atentos a esta dimensão? O que
dizem os especialistas? Basil Ribeiro, diretor.
Prof. Dr. João
Espregueira
Mendes,
Porto (JEM)
Dr. Fontes Lebre, Dr. Pedro Pessoa,
Lisboa (PP)
VN Gaia (FL)
Saúde Atlântica
Estádio do
Dragão
Serviço de
Ortopedia
CHVNGaia –
Espinho, EPE
Sporting Clube de
Portugal
O que é uma lesão de cartilagem
articular?
PP – As lesões da cartilagem poderão se localizadas ou generalizadas,
traumáticas ou degenerativas e são
caraterizadas por alterações micro
e macroscópicas. Nas alterações
microscópicas encontramos alterações físico-químicas entre os seus
constituintes, nomeadamente entre
os proteoglicanos, os glucoaminoglicanos, o colagénio e o ácido hialurónico. Estas modificações vão dar
origem a alterações macroscópicas,
como a fibrilação, a fissuração e a
esclerose.
Lesão condral grau IV com gancho palpador a avaliar o defeito da cartilagem e o
osso subcondral – Foto FL
fricção, abrasão, torsão ou alterações abruptas das forças aplicadas
na cartilagem. Também doenças
sistémicas, infeciosas ou agressões
cirúrgicas que atinjam a cartilagem
e o envelhecimento têm importância
na sua génese.
PP – No desporto podem aparecer
num contexto de mecanismos de
hiper-solicitação e sobrecarga ou
resultantes de traumatismos diretos
ou rotacionais.
Como se classificam?
JEM, FL, PP – Podem ser classificadas de acordo com a penetração em
profundidade, da extensão, da inclusão ou não do osso, podendo ser de
espessura parcial, de espessura total
e fratura osteocondral.
As classificações (graus) mais utilizadas para a lesão condral são:
Classificação de Outerbridge
JEM – A lesão da cartilagem articular
é uma alteração da estrutura anatómica da cartilagem, que pode ir do
simples amolecimento até à rotura
completa com o osso subcondral
visível. Os doentes com lesão da cartilagem articular apresentam, numa
primeira avaliação, dor articular,
edema, inflamação e rigidez. Os exames complementares de diagnóstico
tornam-se, deste modo, essenciais
para avaliar e diagnosticar a lesão
da cartilagem articular.
FL – É qualquer agressão que conduza a dano celular ou dos componentes da matriz que alteram as
suas propriedades e lhe comprometem a função.
14 · Março 2013 www.revdesportiva.pt
Quais os mecanismos e situações
clínicas que a originam?
JEM – Na grande maioria as lesões
da cartilagem articular têm origem
traumática, estando muitas vezes
associadas a lesão de outras estruturas articulares, como é o caso das
lesões ligamentares e meniscais
na articulação do joelho. Este tipo
de mecanismos de lesão acontece,
predominantemente, em indivíduos
mais jovens, visto que numa idade
mais avançada a degeneração natural deste tecido, devido à sua fraca
capacidade de regeneração, leva a
artroses.
FL – São os traumatismos agudos
ou repetitivos, penetrantes, por
I – Cartilagem mole e edemaciada
II – Área de fissuração e fragmentação
com o diâmetro aproximado de 1 cm ou
menos
III – Área de fissuração e fragmentação
com o diâmetro superior a 1 cm
IV – Erosão da cartilagem expondo o osso
subcondral.
Classificação da International Cartilage
Repair Society (graus)
0 – Cartilagem normal
I – Fissuração e amolecimento superficial
II – Menos de metade da espessura da
cartilagem
III – Mais de metade da espessura da
cartilagem mas sem atingir o osso subcondral
IV – Atingimento e exposição do osso
subcondral