Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2013 | Page 12
As “barras” na
criança e adolescente foi o tema
abordado pelo Prof.
Dr. J. Páscoa Pinheiro.
É uma condição
patológica específica e refere-se à
fusão parcial ou total de 2 ou mais
ossos do tarso que condicionam
marcada limitação da atividade
física e do desporto. A 1.ª descrição
data de 1769 por Buffon. É uma
anomalia congénita autossómica
dominante associada a outras
displasias. A incidência é igual a
1-2% dos jovens, mas está sub-diagnosticada, já que os estudos por
RMN e cadáver elevam os valores
para 11 e 13%, respetivamente. Estas
displasias são bilaterais em 30-70%
dos casos e no mesmo pé podem
coexistir várias sinostoses. Podem
ser primárias ou secundárias, estas
são muito raras. Há 3 formas: união
completa ou incompleta de ossos, de
cartilagens (sincondrose) ou de
cartilagem (sindesmose). As talo-calcaneana e calcaneocuboideia
incluem 90% dos casos. O diagnóstico é difícil e tardio, geralmente por
volta dos 10-12 anos de idade, o que
poderá estar relacionado com o
aumento da atividade física. Os
dados clínicos incluem dor lateral
no pé / seio do tarso, alteração da
mobilidade, fadiga fácil e a existência de falsas entorses. Existe perda
da varização do calcâneo quando se
passa para a posição em bicos de
pés. O Rx de face, perfil e oblíqua
interna a 45° revela a dificuldade em
identificar a entrelinha articular
subtalar antero-medial. A RMN é
importante na envolvência cartilagínea. Na ausência de queixas pode-se
considerar o uso de ortótese plantar,
de utilidade duvidosa. O tratamento
conservador é favorável num terço
dos casos. Nas sintomáticas o
tratamento cirúrgico é obrigatório.
A luxação dos
peroniais foi abordada pelo Dr. André
Bahute do serviço de
ortopedia dos HUC.
Foi descrita pela 1.ª
vez por Monteggia em 1803 numa
bailarina e é referida no esqui, no
futebol, no basquetebol e na patinagem artística. Constitui 0,5% dos
traumatismos do tornozelo, ocorre
mais no sexo masculino, nos jovens
adultos e no membro dominante. A
dorsiflexão súbita forçada com o pé
em inversão e a contração excêntrica dos músculos peroniais origina
a lesão aguda. A lesão recidivante
ocorre nos eventos repetitivos de
luxação e constitui fator de risco de
rotura dos tendões peroniais. A
sensação de estalido local no
momento do acidente, com dor e
edema são informação inicial e, no
futuro, o teste de apreensão é
positivo e acompanhado por dor. O
Rx simples, na incidência de
mortalha, pode revelar o arrancamento ósseo na ponta inferior do
maléolo externo, sinal que é patognomónico. A ecografia dinâmica de
alta definição pode ser usada, mas a
RMN é o exame gold standart. Uma
classificação identifica o Grau I
(elevação do retináculo peronial
superior), o grau II (elevação do
rebordo), grau III (avulsão óssea) e o
grau IV (rotura posterior do retináculo), alterações que são visualizadas na RMN. Nos eventos agudos e
em sedentários o tratamento inicial
é ortopédico (gesso 6 semanas), mas
a taxa de sucesso é inferior a 50%.
Nos jovens atletas o tratamento é
cirúrgico, havendo várias técnicas
descritas. No pós-operatório usa-se
tala gessada (4-6 semanas), a que se
segue carga parcial às 6 semanas, a
reabilitação física às 8 semanas, pelo
que a paragem total ronda os 3
meses.
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10 · Março 2013 www.revdesportiva.pt
A prevenção de lesões
é um ramo emergente da medicina
desportiva e tem
vindo a ganhar
espaço específico nos
programas das reuniões científicas
relacionadas com a traumatologia e a
reabilitação desportiva. O Dr. Paulo
Beckert apresentou o tema “Os
Programas de Prevenção” em
patologia da articulação do tornozelo
começando por fazer uma breve
introdução de natureza conceptual
com base no modelo multifatorial
dinâmico proposto por Meeuwisse
para a etiologia das lesões desportivas, dando enfoque á lesão prévia,
insuficiências sensoriomotoras e
deficits de dorsiflexão como principais
fatores de risco intrínsecos. A superfície onde evento evolui, a natureza do
evento (jogo / competição), o calçado
e o tipo de modalidade são os principais fatores de risco extrínsecos. A
qualidade do apoio e o contacto com
o adversário são relevantes mecanismos desencadeantes das entorses do
tornozelo. De entre os programas que
apresentavam um bom nível de
evidência científica foi dado destaque
ao trabalho de Bahr e col, os quais
demostraram a redução da incidência
da entorse aguda do tornozelo (819
voleibolista noruegueses) após a
introdução de um programa de
prevenção centrado nos treinos
sensoriomotor e técnico específico do
voleibol (qualidade da receção) e
sensibilização sobre o mecanismo
lesional. Foi igualmente dado destaque aos resultados obtidos com um
programa de treino propriocetivo em
tábua e no solo (14 exercícios divididos em 4 subcategorias), publicado
por Verhaghen e col em 2004. Este
estudo, realizado também em
jogadores de voleibol, demostrou que
o uso do programa foi efetivo na
prevenção da recorrência de entorses.