Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2013 | Page 13
Caso clínico
Rev. Medicina Desportiva informa, 2013, 4 (2), pp. 11–13
Abordagem de lesões do
ligamento cruzado anterior
em idade pediátrica: a
propósito de um caso clínico
Dr. Bruno Barbosa1, Dr. André Costa1, Dra. Andreia Ferreira1, Dr. Pedro Lourenço2, Dr. Joaquim Lebre3
1
Interno Complementar, 2Assistente e 3Chefe de Serviço de Ortopedia. Centro Hospitalar VN Gaia-Espinho
EPE. V N Gaia
gaveta anterior positiva, teste de
Lachman e pivô shift positivos. Os
sinais meniscais eram positivos
para menisco externo. Foi realizado
estudo imagiológico com Rx e RMN
(fig. 1 e 2), os quais revelavam lesão
do ligamento cruzado anterior e
rotura em asa de cesto do menisco
externo, assim como fises femoral
distal e tibial proximal abertas. O
score de Lysholm pré-operatório era
de 63.
RESUMO / ABSTRACT
O tratamento da rotura completa do ligamento cruzado anterior em idade pediátrica é
ainda alvo de debate entre a comunidade Ortopédica. Os autores apresentam um caso de
um jovem futebolista de 16 anos, submetido a ligamentoplastia por via artroscópica com
enxerto de tendões dos isquiotibiais em posição anatómica, justificando a sua escolha com
uma revisão bibliográfica sobre opções cirúrgicas para tratamento deste tipo de lesões.
The treatment of the complete rupture of the anterior cruciate ligament on pediatric age is still on
debate among the orthopedic community. The authors present a case of a 16 years young football
player, submitted to arthroscopic ACL reconstruction with hamstrings on anatomic position, and
this choice was based on the literature revision of the surgical options for treatment of this type of
injuries.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Lesão do LCA, ligamentoplastia, jovem, desporto.
ACL injury, ACL reconstruction, young, sports.
Introdução
A maior participação de crianças e
adolescentes em desportos de competição levou ao aumento do número
de lesões do ligamento cruzado
anterior (LCA) na última década1 e,
segundo os vários estudos retrospetivos, a sua percentagem é estimada
entre 0.5-3%2,3,4.
O tratamento conservador de
lesões do LCA nesta faixa etária
conduz a maus resultados, com evidência de maior número de lesões
condrais e meniscais5. Os pacientes
com lesão do LCA que mantêm a
prática desportiva estão sujeitos
ao desenvolvimento a osteoartrose
mais precoce6,7, o que é resultado
dos movimentos anormais e das
lesões atrás descritas. Enquanto a
modificação acentuada de atividades nesta idade é quase sempre
irrealista, o uso de joelheira estabilizadora parece não impedir a instabilidade e consequente progressão das
lesões intra-articulares6.
No passado era comum protelar o tratamento cirúrgico até ao
encerramento das fises por receio
da sua lesão e distúrbios do crescimento do membro operado, mas o
desenvolvimento de novas investigações e técnicas cirúrgicas permitiu
uma melhor compreensão dos efeitos da realização de túneis atravessando as fises de crescimento. Estes
novos conhecimentos recomendam
tratamento cirúrgico mais precoces,
parecendo ser esta a melhor opção
para preservar a função do joelho
e evitar lesões intra-articulares
resultantes de episódios de instabilidade6,8,9,10,11.
Caso Clínico:
Tratava-se de um adolescente de
16 anos de idade, estadio de desenvolvimento de Tanner V, estudante
e praticante de futebol. Tinha tido
um episódio de entorse do joelho
esquerdo com cerca de 3 meses de
evolução. Ele recorreu a uma consulta de ortopedia por episódios de
instabilidade e bloqueio do joelho.
Ao exame objectivo apresentava
Fig. 1 – Rx do joelho (face e perfil).
Fises abertas
Fig. 2 – RMN demonstrando a interrupção
de fibras do LCA
O doente foi submetido a sutura
artroscópica do menisco externo
(técnica outside-in) e a reconstrução
artroscópica do LCA com enxerto de
isquiotibiais por portal medial acessório, usando material de fixação
ToggleLoc® (Biomet) (fig. 3). O pós-operatório não teve intercorrências.
Iniciou o protocolo de recuperação
fisiátrica, tendo retomado atividade
desportiva sem restrições aos 6
meses de pós-operatório. O Score de
Lysholm aos 9 meses era de 91.
Revista de Medicina Desportiva informa Março 2013 · 11