Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2012 | Page 31

A vitamina E pode não ser vitamina E

A vitamina E pode não ser vitamina E

Resumo
Dr . Basil Ribeiro , V N Gaia
A questão da suplementação é controversa , não só na sua pertinência , mas , e principalmente , na dosagem adequada para os vários tipos de sujeitos e de contextos . É pacificamente aceite que a melhor vitamina é que provem dos produtos naturais , que a dieta adequada é suficiente para suprir na quase totalidade dos casos as necessidades diárias de vitaminas e que os suplementos … são apenas suplementos . Contudo , estes poderão não serem iguais aqueles . A vitamina E ( Vit E ) natural ( γ-tocoferol ), encontrada em sementes de plantas , é diferente da dos suplementos ( α-tocoferol ). Aquela é bem absorvida , é eliminada pelo rim , assim como o seu metabolito , pelo que poderá ter algum efeito natriurético , inibe a ciclooxigenase , isto é , tem propriedades anti-inflamatórias , e as concentrações plasmáticas têm efeito protetor em relação às doenças cardiovasculares e ao cancro da próstata , efeitos não encontrados com a Vit E dos suplementos . Por outro lado , a existência de equilíbrio entre os 2 isómeros da Vit E é importante para a sua ação benéfica e a ingestão exagerada de uma das formas ( suplementos ) poderá diminuir a concentração do outro . Finalmente , o α-tocoferol é bastante menos potente que o γ-tocoferol . Em conclusão , a suplementação é uma arte , mas por vezes pode ser a arte de iludir e de desequilibrar . BR
Refs . Jiang Q , et al . Am J Clin Nutr . 2011 ; 74 ( 6 ): 714-22 .
Virji , A . http :// www . medscape . com / viewa rticle / 757705 ? src = mp & spon = 17 , 2012 .
Comentário
Prof . Dr . Vítor Hugo Teixeira , Porto
A vitamina E é um nutrimento lipossolúvel cuja principal função é servir como antioxidante em ambientes lipofílicos . De entre os 8 isómeros desta vitamina ( α- , β- , d – e g-tocoferóis e α- , β- , d – e g-tocotrienóis ), tem especial importância o α-tocoferol , uma vez que parece ser o único isómero a ser mantido no plasma . As outras formas não parecem ser convertidas a α-tocoferol em humanos e são fracamente reconhecidas pela proteína de transferência hepática deste . Assim , e apesar de todas as formas serem absorvidas no intestino , ainda que a taxas baixas , apenas o α-tocoferol é secretado nas VLDL e , por conseguinte , está disponível em circulação em quantidades biologicamente relevantes .
Ademais , o α-tocoferol tem 8 estereoisómeros , 4 na forma 2R ( RRR- , RSR- , RRS – e RSS – α-tocoferol ) e 4 na forma S ( SRR- , SSR- , SRS – e SSS – α-tocoferol ). Destes , apenas um ( RRR-α-tocoferol ) ocorre naturalmente nos alimentos , enquanto todos os 8 estão presentes nos alimentos fortificados ou em suplementos . Dos 8 estereoisómeros do α-tocoferol , apenas o “ natural ” ( RRR ) e os 2R é mantido no plasma . Na medida em que os estereoisómeros 2S não são mantidos no plasma nem nos tecidos , não se considera que tenham atividade biológica E . Como tal , é fundamental saber qual a forma de vitamina E e a sua origem ( alimentar ou suplementar ) para identificar a real atividade vitamínica . Os valores de recomendação de ingestão diária ( 15 mg ) estabelecidos pelo Food and Nutrition Board aplicam- -se apenas à ingestão das formas estereoisoméricas 2R do tocoferol , tenha origem nos alimentos , alimentos fortificados ou suplementos . Ao invés , o nível de toxicidade ( 1000mg / dia para adultos ) máximo recomendado aplica-se a todas as formas suplementares de α-tocoferol , pois todas são absorvidas .
EHI Update – n .º 8 , de Dezembro de 2011
As bebidas com cafeína são menos hidratantes que a água simples ?
Uma revisão de Prof . Andrea Poli
“ Alguns autores acreditam que as bebidas com cafeína poderão ter menor efeito hidratante em comparação com a água simples . A diferença poderá ser devida ao efeito diurético da cafeína , que negativamente compensaria a ação hidratante do meio aquoso onde é dissolvida . Na verdade , o efeito diurético da cafeína só tem lugar com altas concentrações ( 400-600 mg / dia ) e é pequeno em magnitude ”. A autora descreve o estudo realizado em Inglaterra ( British J . of Nutrition 2011,106:588-595 ), onde foram avaliados 19 adultos masc , saudáveis . O grupo de estudo ingeriu 4 ou 6 chávenas de chá ( 40mg de cafeína em cada ) ou de água quente ao longo de 12 horas . Foram feitas colheitas de sangue em períodos regulares e recolhida a urina de 24 horas para medição da osmolalidade . Os volumes urinários de 24h foram semelhantes após consumo de 4 chávenas de chá preto ou de água quente ( 1117 vs 1228 ml ) ou de 6 chávenas ( 1498 vs 1458ml ). Também não encontraram diferenças em relação a outros parâmetros analíticos . Concluíram que “ a cafeína nas doses testadas ( superiores ás habitualmente consumidas na Inglaterra ) não exerce qualquer efeito significativo nos parâmetros estudados .
A desidratação durante a exposição ao frio
Prof . Patrick Ritz
“… nas atividades ao ar livre em ambiente frio , os sujeitos desidratam-se cerca de 3 a 8 % do seu peso corporal . Razões para tal incluem perdas elevadas através da sudação , diminuição da sensação de sede , a diurese induzida pelo frio , aumento da perda de água pela expiração , diminuição da consciência para beber e pouca disponibilidade de água . A desidratação não afeta negativamente a vasoconstrição periférica ou os arrepios e , por conseguinte , não afeta a suscetibilidade à agressão pelo frio ”. Conclui referindo que “ a exposição ao frio provoca desidratação e aumenta o risco de desidratação em populações específicas . … Portanto , nos sujeitos saudáveis as medidas preventivas devem provavelmente ser implementadas para impedir as consequências fisiológicas da desidratação ”. BR
Revista de Medicina Desportiva informa Março 2012 · 29