Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2012 | Page 16

Tema 2 Rev. Medicina Desportiva informa, 2012, 3 (2), pp. 14–15 Conflito femoro-acetabular: reabilitação pós-artroscopia da anca Dra. Margarida Cantista1, Dr. João Maia1, Dr. Tiago Esteves de Carvalho2, Dr. Pedro Soares Branco3. 1 Interno(a), 2Assistente Hospitalar e 3Chefe de Serviço do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital de Curry Cabral, Lisboa. RESUMO ABSTRACT O tratamento cirúrgico por artroscopia tem assumido importância crescente na abordagem do conflito femoro-acetabular. A reabilitação pós-operatória possui um papel fundamental na otimização do resultado funcional. O programa de reabilitação proposto contempla 4 fases: fase 1 (pós-operatória inicial), durante as primeiras 4 semanas (S1-S4); fase 2 (intermédia), entre S4 e S6; fase 3 (avançada), entre S6 e S8 e a fase 4 (retorno à atividade desportiva), entre S8 e S16. Existem algumas especificidades a considerar consoante os procedimentos cirúrgicos efetuados. Abstract: Surgical treatment by arthroscopy has assumed increasing importance in the medical approach of femoro-acetabular impingement. The postoperative rehabilitation plays a key role in optimizing the functional outcome. The rehabilitation program includes 4 phases: phase 1 (immediate) during the four postsurgical weeks (S1-S4); phase 2 (intermediate), between S4-S6; phase 3 (advanced), from S6 to S8 and phase 4 (sport-specific training) from S8 to S16. There are some details to consider according to specific surgical procedures. PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS Conflito femoro-acetabular; reabilitação pós-atroscopia da anca. Femoro-acetabular impingement; rehabilitation after hip arthroscopy. Introdução Fase 1, pós-operatória inicial O conflito femoro-acetabular (CFA) resulta da relação morfológica anómala entre a cabeça femoral e o acetábulo que origina um conflito de espaço durante a mobilização da anca, podendo conduzir a lesões irreversíveis do labrum e da cartilagem articular. O tratamento cirúrgico por artroscopia tem assumido importância crescente na abordagem destes doentes. A reabilitação pós-operatória possui um papel fundamental na otimização do resultado funcional e inclui, para grande parte dos doentes, o retorno à prática desportiva. O programa de reabilitação proposto contempla 4 fases: fase 1 (pós-operatória inicial) durante as primeiras 4 semanas (S1-S4); fase 2 (intermédia), entre S4 e S6; fase 3 (avançada), entre S6-S8; e fase 4 (retorno à atividade desportiva), entre S8 e S16. Existem especificidades a considerar consoante os procedimentos cirúrgicos efetuados. A primeira fase decorre nas primeiras 4 semanas (S1-S4) após a cirurgia e visa a proteção tecidular, o controlo da dor e da inflamação e inclui exercícios com o objetivo de otimizar as amplitudes articulares (AA) e prevenir a inibição muscular. A mobilização deve ser inicialmente efetuada de modo passivo, respeitando o limiar álgico dos doentes. Nas primeiras duas semanas preconiza-se a proteção articular, limitando os movimentos de flexão, adução e rotação interna, sendo recomendável que não se ultrapassem os 90º de flexão da anca. Alguns autores sugerem o uso de ortótese de imobilização da anca (Fig. 1) durante cerca de 10 dias, para limitar a abdução, as rotações e a mobilidade no plano sagital (desde a posição neutra até cerca de 80-90º de flexão). Este sistema mostra-se particularmente útil em doentes submetidos a reparação capsular, pois minimiza a tensão exercida sobre os elementos capsulares. A partir de S2 deve progredir-se na mobilização. 14 · Março 2012 www.revdesportiva.pt Fig. 1 – Ortótese de imobilização da anca Durante as primeiras 4 semanas a mobilização pode ser complementada por dispositivo de mobilização passiva contínua (artromotor, fig. 2). O fortalecimento muscular (FM) dos músculos glúteos, quadricípite, isquiotibiais, adutores e abdutores da anca deve ser estático. Em S2/ S3 iniciam-se estiramentos suaves dos grupos musculares envolvidos. É igualmente importante a mobilização ativa das articulações poupadas, o FM do membro inferior contralateral e dos membros superiores, bem como a execução de exercícios de estabilização lombar e pélvica. Neste último grupo destaca-se o FM estático dos músculos transverso e retos abdominais. Nesta fase inicia-se também o treino de marcha com canadianas, com carga progressiva no membro operado (que deverá ser total a partir de S2), conforme tolerado. O treino em cicloergómetro sem resistência pode ser introduzido, colocando o selim elevado para garantir que não se ultrapassem os 90º de flexão da anca. O treino propriocetivo é também iniciado nesta fase, inicialmente em descarga, evoluindo para o treino em apoio bipodal estável. Fase 2 A segunda fase (S4 a S6) inicia-se quando as queixas álgicas forem mínimas nos exercícios da primeira fase, as AA forem iguais ou superiores a 75% da anca contralateral e for efetuada carga sem restrições. Nesta etapa são instituídos exercícios com o objetivo de recuperar totalmente as AA, recuperar o padrão de marcha normal e aumentar a força e resistência musculares. O FM é dinâmico com cargas progressivas. O treino aeróbio poderá ser efetuado