Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2012 | Page 14

é apanhado no meio deste conflito, sendo a primeira estrutura a ser lesada. A lesão da cartilagem é mais tardia e bem mais benigna que no tipo CAM. O Pincer incide mais em mulheres de meia-idade e tem uma evolução mais lenta para artrose que o CAM. Clínica Na maioria das vezes o paciente é jovem e ativo e o conflito manifesta-se por dor na região inguinal. Determinadas práticas desportivas, tais como as artes marciais, o ballet e o hóquei em patins, estão mais associadas ao conflito. O início pode ser insidioso ou estar relacionado com um traumatismo, que até pode ser insignificante. A dor é exacerbada com a atividade desportiva e com o sentar prolongado, o que tem a ver com o facto de o conflito ocorrer em flexão e em rotação interna. Em alguns casos a dor pode ser sentida no joelho, o que pode criar dificuldades no diagnóstico. As mulheres com ancas profundas ou protusas podem manifestar dor inguinal durante a prática do ato sexual. Diversas situações clinicas podem mimetizar o CFA: patologia lombar, sacro-ilíaca, sinovite da anca, necrose avascular da cabeça do fémur, displasia da anca, roturas isoladas do labrum, tendinites do músculo psoas, fragilidades de parede abdominal (com ou sem hérnia), tendinite dos adutores e osteo-artropatia púbica. Existem indivíduos com estas anomalias morfológicas, mas assintomáticos, pelo que o diagnóstico correto é essencial para o sucesso Fig. 3 – Incidência pélvica AP perfeita. 1 – Doente em pé; 2 – Rotação interna 15º; 3 – Distância foco-filme: 120 cm; 4 – Raio centrado na linha média a rasar o bordo superior da sínfise púbica 12 · Março 2012 www.revdesportiva.pt terapêutico. Por outro lado, podemos encarar esta patologia como dinâmica, em que determinadas solicitações desportivas que impliquem flexão máxima da anca podem despertar a patologia até então adormecida. No exame físico verifica-se limitação das mobilidades da anca, nomeadamente da rotação interna. A dor inguinal pode ser despertada ou agravada pela rotação interna, flexão e adução do fémur, originando o teste de conflito positivo3, 4. Fig. 5 – Radiografia da bacia na incidência antero-posterior Imagiologia Os fatores de conflito são de natureza óssea pelo que a radiologia clássica é suficiente para objetivá-los. O importante é saber que incidências pedir, como fazê-las e saber observá-las. Os fatores de CFA são identificáveis na radiografia antero-posterior da bacia, em carga6 (Fig. 3). A identificação da retroversão pode não ser de fácil, dependendo o seu aparecimento da inclinação da bacia, logo de fatores posturais, para alem dos anatómicos. Os fatores de conflito femorais localizam-se na face anterior do colo, na transição para a cabeça, estando frequentemente ocultos na radiografia da bacia na incidência de face. Tal aconteceu no caso de um ex-praticante de artes marciais, atualmente sedentário, do sexo masculino, de 35 anos de idade, que referia dores na região inguinal esquerda e apresentava diminuição acentuada de rotação interna, teste de conflito positivo e com sintomatologia despertada pela atividade física. A radiografia da bacia não apresentava alterações aparentes (Fig. 5). Para melhor objetivar os fatores de conflito de causa femoral Fig. 4 – Incidência de Dunn Fig. 6 – Rx na incidência de Dunn em decúbito dorsal, evidência de conflito tipo CAM, mais acentuado à esquerda Fig. 7 – Rx na incidência de Dunn, pos-operatório, correção de conflito tipo CAM à esquerda é necessária a realização de uma incidência de perfil do colo femoral (Fig. 4, 5 e 7). Há várias formas de o fazer e a nossa preferência vai para a incidência de Dunn bilateral em decúbito dorsal (Fig. 4, 6 e 7). Esta é uma técnica pessoal dos autores, adaptada a partir das técnicas originais de Dunn e de Lowenstein (incidência de rã). Trata-se de uma técnica de aquisição