Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 7

dia habitual em comportamentos sedentários e apenas 40% da população faz pausas ativas (caminhar, movimentar-se ou colocar-se de pé) por forma a interromper longos períodos de posição de sentado. Em termos de mortalidade estimada, no ano de 2014, 14% das mortes ocorridas estavam relacionadas com comportamentos sedentários ou atividade física muito reduzida. Resultados da meta-análise Hadgraft NT et al publicaram em 2020 uma revisão sistemática com meta-análise para analisar a informação que estudou a eficácia das estratégias implementadas sobre o comportamento sedentário, isoladamente ou associado à atividade física, em biomarcadores cárdio- -metabólicos, em intervenções com mais de sete dias de duração em população adulta. A influência das intervenções sobre o padrão sedentário, associadas ou não a programa de exercício físico, em marcadores de risco cardiovascular (parâmetros antropométricos, pressão arterial, metabolismo glucídico, metabolismo lipídico e resposta inflamatória) foram analisadas. De um modo geral, os autores referem que esta meta-análise fornece indicação da alguma influência positiva da intervenção no sedentarismo sobre os indicadores metabólicos selecionados e já referidos, assim como não foi causa de eventos adversos. Em relação aos parâmetros antropométricos, a introdução de estratégias de redução do sedentarismo permitiu reduzir de forma significativa o peso (-0.56kg, IC95% p=0.005), o perímetro abdominal (-0.72cm, IC 95% p=0.004) e a percentagem de massa gorda (-0.26%, IC 95% p=0.034). Na pressão arterial, a redução foi estatisticamente significativa para os valores de pressão arterial sistólica (-1.05mmHg, IC 95% p=0.045), mas não teve significado estatístico em relação à pressão arterial diastólica (-0.69mmHg, IC 95% p=0.180). Também se verificou redução da insulina em jejum (-1.42pM, IC 95% p=0.047) e o aumento do colesterol-HDL (0.04mM, IC 95% p=0.001), em ambas situações com significado estatístico. Por outro lado, a glicemia em jejum, a hemoglobina glicada, o colesterol não-HDL e os parâmetros de resposta inflamatória tiveram evolução positiva, mas sem significado estatístico. Os autores encontraram poucos estudos que aprofundassem os inúmeros aspetos potencialmente influenciadores das intervenções enunciadas, nomeadamente em populações específicas (diferença entre géneros, idosos ou portadores de doença crónica, como a diabetes tipo 2), a etnicidade, assim como a prescrição da intervenção, volume e intensidade da atividade física, não são habitualmente referidos nos estudos. Da mesma forma, os estudos abordavam várias formas de intervenção na população, o que poderá justificar alguma heterogeneidade nos resultados finais. Uma crítica que deixam em relação aos trabalhos analisados tem a ver com o momento da colheita das análises clínicas, sempre de manhã em jejum, quando se sabe que os biomarcadores estão sujeitos a regulação homeostática. Concluindo, esta meta-análise permite inferir que intervenções destinadas à redução do tempo de inatividade, mesmo se não associadas ao exercício físico, são benéficas para a saúde e promovem a melhoria de alguns parâmetros/marcadores de doença cardiovascular, tais como o peso, o perímetro abdominal, a percentagem de gordura corporal, a pressão arterial sistólica, a insulina em jejum e o colesterol-HDL. Importância da redução do sedentarismo Atualmente, e tendo em conta a situação epidemiológica portuguesa (Pandemia COVID-19), o ganho em saúde com medidas de estratégias de redução do sedentarismo é ainda mais relevante. Foi neste sentido que foram publicadas um conjunto de medidas pela Direção-Geral de Saúde que procuram melhorar o padrão de atividade física numa população confinada ao domicílio, onde se destacam: 1. exercícios de manutenção de aptidão cardiovascular (realizar “pausas ativas”, caminhar pela casa, tratar horta/jardim, levantar ou andar quando ao telemóvel, alternar posições de sentado e de pé se teletrabalho, reduzir o tempo de televisão/videojogos não ativos) 2. exercícios de reforço muscular (com recurso a instrumentos domésticos, tais como garrafas ou cadeiras) 3. atividades lúdicas em família (jogos tradicionais, videojogos ativos, danças, etc.). Relembra-se o slogan do Dia Mundial da Atividade Física, comemorado a 6 de abril: “Em isolamento social a atividade física é essencial”. Bibliografia: 1. Hadgraft NT, et al. Br J Sports Med 2020;0:1– 13. doi:10.1136/bjsports-2019-101154. 2. ACSM Scientific Pronouncements: Physical Activity Guidelines for Americans. ACSM, 2018, 2ªed. 3. Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física 2017. Direção-Geral da Saúde. “Agora, isto é muito maior do que nossos sonhos. Agora, mais do que nunca, é hora de pensar maior do que tu próprio. Protege- -te a ti, à tua família e à tua comunidade” Melissa Bishop-Nriagu (recordista canadiana dos 800m) Mann RH, et al. Br J Sports Med. 2020; 0(0) Revista de Medicina Desportiva informa maio 2020· 5