Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 - Page 33
O coronavírus: a opinião
do cardiologista e do
infecciologista
Prof. Doutor Hélder Dores
Cardiologia Desportiva –
Hospital da Luz Lisboa,
Sport Lisboa e Benfica,
NOVA Medical School.
Lisboa
metodologia e aplicabilidade prática.
Concordo que mesmos os atletas
infetados assintomáticos devam
ser avaliados. Esta avaliação deve
incluir um exame objetivo detalhado
e clarificação do contexto epidemiológico,
podendo incluir alguns dos
exames referidos.
fatais. Embora a maioria dos casos
graves e das mortes ocorram em
pessoas de idade mais avançada ou
com comorbilidades, está descrita
doença muito grave, e até mortal, em
pessoas jovens e previamente saudáveis.
Acresce o confinamento social,
também com grande impacto nos
atletas e na realização de eventos.
2. O atleta infetado, mas
assintomático, pode praticar
desporto normalmente?
1. No atleta infetado assintomático
o coração pode ser afetado?
Sim, podem existir lesões cardíacas
subclínicas, como a lesão miocárdica
aguda ou miocardite.
2. A exemplo de outras infeções
virais, é expectável a ocorrência de
miocardites?
Está comprovada a associação entre
COVID-19 e complicações cardíacas,
nomeadamente a miocardite aguda.
Alguns estudos descrevem elevação
da troponina em 10-30% dos doentes,
constituindo um marcador de
risco/prognóstico.
3. Faz sentido fazer o teste do
coronavírus a todos os atletas
(profissionais e não profissionais)
e staff?
Este ponto é atual pela pretensão em
reiniciar as competições. Quantos mais
testes forem realizados melhor. Contudo,
além de realizar estes ou testes de
imunidade, deve ser definida a orientação
subsequente, caso seja positivo ou
negativo. A heterogeneidade de atletas/
clubes implica também garantir um
acesso universal e capacidade económica
para a sua realização.
4. As orientações que vêm de Itália
sugerem a realização de “testes
de ergometria, ecocardiograma,
espirometria e análises” nos
atletas assintomáticos...
Este documento direciona-se
sobretudo ao futebol profissional e
apresenta inconsistências quanto à
5. Dentro do bom senso e do
exequível para o universo dos
atletas, o que é aconselhável fazer
em termos cardiológicos?
Perante uma doença com aspetos desconhecidos,
sobretudo as sequelas a
longo prazo, é necessário bom senso,
correndo o risco de se pecar por
excesso. A nível cardiológico, além da
avaliação clínica é importante investigar
a presença de sintomas e ter
em conta as características do atleta
e do desporto. Se foi avaliado em unidades
de saúde devem ser analisados
os exames prévios e esclarecida
a evolução da doença. Quanto aos
exames de primeira linha, sobretudo
na presença de sintomas, como
uma das principais implicações é a
lesão miocárdica aguda/miocardite,
justifica-se ecocardiograma transtorácico,
prova de esforço máxima
e, se apropriado, Holter 24 horas. Se
houve elevação da troponina, caso
não tenha sido já efetuada, deve
realizar-se ressonância magnética.
O diagnóstico de miocardite levará à
desqualificação 3-6 meses.
Dr. Paulo Rodrigues
Infecciologista. Hospital
Beatriz Ângelo. Loures.
1. O coronavírus é um problema
para o jovem atleta?
Sim. A COVID-19 constitui neste
momento uma pandemia. Tem um
leque vasto de gravidades, que vão
desde casos assintomáticos até
Não. Qualquer pessoa infetada
constitui uma fonte de transmissão
importante. Acresce que no decorrer
de uma infeção é muito importante
o repouso e a evicção de esforços
físicos intensos, que podem resultar
em agravamento clínico. O atleta só
deverá praticar desporto normalmente
depois de observação médica
e exames.
3. E o risco de contágio no treino
ou no jogo de futebol?
Existe risco de contágio, quer no
treino, quer no jogo. Os desportos
coletivos, sobretudo aqueles com
contacto físico direto, são aqueles
em que é mais fácil a transmissão
da doença.
4. Fala-se muito em anti-inflamatórios.
Podem continuar a tomar
na lesão?
Houve relatos médicos de agravamento
clínico com o uso de ibuprofeno, até à
data não completamente confirmado.
Por esse motivo, em contexto de infeção
por SARS-Cov-2 devem, provavelmente,
devem ser evitados.
5. O desporto em geral só estará
seguro com a vacina? Para quando
se prevê?
Sim. Tanto o desporto como a vida
em geral, só poderão ser retomados
com toda a segurança depois do
aparecimento dum tratamento altamente
eficaz ou, idealmente, de uma
vacina que, na melhor das hipóteses,
não estará disponível para uso generalizado
em menos de 12 a 18 meses.
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