Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 32
com que habitualmente não se
fala são boas opções. Comunicar
é fundamental, enviar mensagens
pelas vias digitais e, melhor,
telefonar a alguém é saudável,
é importante ser ouvido e falar,
especialmente nos momentos
menos bons;
• Ver filmes, programas sobre viagens
e mundo animal, programas
humoristas;
• Iniciar um hobby é também interessante;
arranjar algo em casa,
organizar as fotografias do telemóvel,
organizar concursos e jogos de
vídeos caseiros, experimentar ler
um livro são atividades que mantêm
a mente ocupada e saudável;
• Manter um estilo de vida saudável:
dieta equilibrada (refeições
pequenas e frequentes, de fácil
digestão, pobre em gorduras, rica
em fruta e legumes), períodos saudáveis
de sono (tentar manter os
mesmos horários), hidratação (privilegiando
a água); evitar fumar,
ingerir álcool ou usar drogas
sociais para controlar as emoções;
• Praticar atividade física, mesmo
que pouca, é necessária e serão
as circunstâncias individuais que
ditarão o modo de a executar. Os
atletas terão certamente os planos
de treino dos seus treinadores,
mas a restante população deverá
olhar à sua volta e descobrir o
modo para se manter ativa, em
sessão única ou repartida ao longo
do dia. É expectável que o isolamento
social aumente o sedentarismo,
permanecendo mais tempo
sentado ou deitado, reduzindo os
índices de atividade física, com
consequente menor consumo
energético. 33 Estes fenómenos
poderão também ser responsáveis
pelo agravamento do quadro clínico
de pacientes com patologias
crónicas. 33,34 No intuito de limitar
hábitos de comportamento sedentário
deve-se evitar, sempre que
possível, permanecer mais de 30
minutos consecutivos na posição
de sentado, reclinado ou deitado
(se acordado), devendo levantar-se
e caminhar pela casa, por exemplo
enquanto fala ao telemóvel ou
durante intervalos publicitários. 35
Neste sentido, o exercício físico
é seguro e deverá ser praticado
durante a pandemia, requerendo
no entanto algumas medidas
preventivas no intuito de minimizar
o risco de infeção Covid-19. 33,35
Para indivíduos que pratiquem
exercício físico de recreação, dada
a possibilidade de existência de
indivíduos infetados assintomáticos
e possível transmissão entre
pares, é recomendável a prática
desportiva individual. 35 O recomendado
é praticar exercício físico no
domicílio. Recomendam-se exercícios
aeróbios, de equilíbrio, de
fortalecimento e de alongamento
muscular ou a combinação dos
mesmos. 33 Exemplos de exercícios
em casa são o simples caminhar
pelas divisões da casa com o
intuito de interromper períodos
prolongados de posições sentado e
deitado, realizar atividades domésticas,
tratar do jardim ou da horta
ou até mesmo dançar. Outros
exemplos são elevar pesos moderados
(sacos de compras ou garrafas),
realizar lunges, agachamentos,
levantar e sentar da cadeira e flexões
de braços. 33,36 As plataformas
online com programas de exercícios
são também uma estratégia recomendável
para instruir, orientar
e motivar o exercício em casa
através de programas de exercícios
gerais ou individualizados, desde
que adequada à condição física
de cada indivíduo. 33,36 A pesquisa
no Google, introduzindo “exercício
físico em casa e coronavirus“ devolve
centenas de endereços eletrónicosonde
esclarecem e exemplificam
uma miríade enorme de exercícios.
Se o exercício for praticado fora
de casa, nomeadamente nas áreas
adjacentes à residência, deverão
aplicar-se medidas de precaução
gerais, entre as quais evitar tocar
com as mãos na cara ou pescoço
durante e após o exercício e
lavagem das mãos após o exercício
durante um período mínimo
de 20 segundos. 35 Para indivíduos
previamente sedentários e com
comorbilidades que habitualmente
não praticam exercício físico será
pertinente uma avaliação médica
prévia e eventual prescrição do
tipo, frequência, intensidade e
volume de treino adequado às
suas particularidades. 35,37 O exercício
físico não está recomendado
em indivíduos que desenvolvam
os sintomas prováveis da infeção
Covid-19, nomeadamente febre,
tosse, dispneia e astenia, devendo
nestes casos seguir os passos recomendados
previamente pela DGS. 36
A procura da informação científica
válida e fidedigna é necessária,
devendo-se reduzir ao essencial a
audição e leitura de notícias relativamente
à pandemia, mantendo
sempre espírito crítico. Nesta fase da
pandemia são sobretudo mais difundidas
as notícias negativas, o que
causa desconforto. As pessoas têm
a expetativa e procuram notícias
positivas, que para já são escassas,
mas é importante entender que
estas surgirão mais tarde ou mais
cedo. Atenção às notícias e comentários
de indivíduos que não são da
área científica, baseados apenas em
opiniões pessoais por vezes pouco
corretas e muitas vezes pessimistas,
tornando o cenário pior do que na
realidade é. É também papel importante
dos médicos e profissionais de
saúde em geral combater a desinformação
e o alarmismo relativamente
a esta temática tão presente diariamente
nesta fase das nossas vidas.
Conclusão
A pandemia COVID-19 tem sido
um dos maiores desafios com que
o mundo moderno se deparou e
espera-se que tenha consequências
importantes e duradouras a vários
níveis da sociedade. O desporto é apenas
um dos domínios da sociedade
altamente afetados pela pandemia
e cabe a todas as pessoas de alguma
maneira envolvidas nesta área trazer
de volta o desporto como o conhecemos,
restaurando progressivamente
a vitalidade de todas as modalidades
e seus principais eventos. Para isso, a
Medicina Desportiva está na linha da
frente e terá um papel fundamental
ao longo de todo o difícil e duradouro
período de convalescença pós-pandemia,
em que todos teremos de nos
confrontar e ultrapassar dificuldades
a vários níveis da sociedade e em
particular no Desporto.
Correspondência
Dr. Diogo Lino Moura
Faculdade de Medicina da Universidade
de Coimbra
[email protected]
Bibliografia em:
www.revdesportiva.pt (A Revista Online)
30 maio 2020 www.revdesportiva.pt