Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 31
cancelou os eventos de qualificação
para os Jogos Olímpicos até dia 30
de Abril. 26 No boxe, os torneios de
qualificação Europeus, Americanos
e Mundiais para os Jogos Olímpicos
foram suspensos, medida decretada
pelo Comité Olímpico Internacional.
No ténis, escalão masculino e
feminino, as provas foram suspensas
internacionalmente até 7 de junho,
sendo que os rankings ATP (Associação
dos Tenistas Profissionais)
e WTA (Women’s Tennis Association)
estão suspensos. 28 No râguebi, a
competição das Seis Nações foi
adiada. No beisebol, a Major League
Baseball anunciou que a época
desportiva de 2020 irá começar com
adiamento de pelo menos 8 semanas.
26 Quanto à Fórmula 1, o Gran
Prix do Azerbeijão foi recentemente
adiado, determinando-se que não
ocorrerão corridas de Fórmula 1, no
melhor dos cenários, até meio de
Junho. 28
Em Portugal, à semelhança da
realidade mundial, a atual pandemia
deixou o desporto de quarentena. As
diferentes federações têm anunciado
a suspensão das respetivas competições,
sendo que as principais modalidades
coletivas estão interrompidas.
No andebol, a fase regular do
campeonato nacional tinha acabado
de terminar quando foi decretada a
suspensão da competição. O basquetebol,
o futsal, o hóquei patins
e o voleibol são modalidades cuja
prática foi interrompida, sendo que
a Federação Portuguesa de Voleibol
determinou 31 de agosto de 2020
como provável data para a retoma
das atividades. 29 No que respeita ao
futebol, as competições profissionais
foram suspensas e as competições
de formação todas canceladas. Em
comunicados, a Federação Portuguesa
de Futebol declarou que se dão por
concluídas as competições nacionais
de todos os escalões de formação
de futebol e futsal, masculinas e
femininas, não resultando destas
qualquer efeito desportivo imediato,
determinando assim que não serão
atribuídos títulos, nem aplicado o
regime de subidas e descidas. 30 Mais
recentemente foram também dadas
por concluídas, sem vencedores,
títulos e subidas ou descidas, todas
as competições nacionais não profissionais
seniores de futebol, incluindo
o Campeonato de Portugal (3ª divisão
nacional). 31 Tal como referido do
ponto de vista da sociedade em
geral, também os atletas e os clubes
desportivos estão a sofrer o impacto
financeiro da interrupção da atividade
desportiva, o que em alguns casos
poderá colocar em causa a viabilidade
económica de algumas instituições.
A ausência de jogos diminui consideravelmente
as receitas dos clubes
em várias áreas (bilheteiras, televisão,
patrocínios, atividades de formação,
entre outros), o que pode colocar em
causa o pagamento dos vencimentos
dos seus funcionários, entre os quais
os atletas. Vários clubes já renegoriaram
alguns contratos de atletas em
termos de redução salarial, de modo
a poder ajustá-los à nova realidade
económica. De maneira semelhante
também a sustentabilidade financeira
de federações e associações desportivas
poderá estar seriamente em
causa. Esta situação de crise económica
poderá na época pós-pandemia
comprometer a continuidade da
atividade desportiva de formação
de vários jovens como também das
competições como as conhecemos
até hoje.
Isolamento social e impacto no
desporto
O adiamento e cancelamento das
provas é apenas parte da preocupação
das federações, clubes e atletas.
A gravidade da pandemia obrigou ao
isolamento social, o que identifica
uma mudança radical na vida do
atleta, especificamente na rotina
diária. No sentido de minimizar o
efeito do isolamento na componente
física do atleta, frequentemente
os atletas seguem planos de treino
domiciliário sob a orientação dos
treinadores e clubes que, embora
permitam manter um determinado
nível de treino em volume e intensidade
adequados, falham na capacidade
de mimetizar os momentos
e as necessidades físicas do jogo.
Este fenómeno implicará necessidade
acrescida de monitorização
individual do atleta no regresso à
competição, no sentido de minimizar
a ocorrência de lesões na retoma
dos níveis de exigência competitiva
prévia. Para além da dimensão
física, surge a questão da saúde
mental do atleta. 32 A permanência
em casa é desagradável, pois não
só não se sabe qual será a duração,
como existe privação da liberdade,
do contacto direto com os amigos
e familiares. Como tal, face a esta
nova realidade é natural ter medo
e estar apreensivo sobre o presente
e o futuro, é natural a desilusão
perante tantas dúvidas sem resposta
e é natural questionar os outros
e os próprios. O isolamento social
comporta igualmente preocupações
relativas ao receio de ser infetado, de
estar a colocar em risco as carreiras
desportivas, da perda de rendimento
e de problemas económicos.
Recomenda-se que nesta fase o
atleta entenda que o melhor modo
de ultrapassar esta situação é
aceitá-la e tomar consciência que
não mudará nas próximas semanas
ou meses. É determinante perceber
que há profissionais de várias
áreas a trabalhar arduamente em
benefício de todos os outros, com
maior ou menor risco, com o objetivo
de resolver do melhor modo
este problema. Só estas noções já
darão alguma saúde mental. Deve-
-se evitar desenvolver sentimentos
de tristeza, raiva, culpa, frustração,
ansiedade, que poderão ser crescentes
com o evoluir do tempo. É
natural estes sentimentos evoluirem
com o decorrer da quarentena e ao
mesmo tempo é obrigação do ser
humano contrariar esta tendência.
A frustração de não poder realizar
tarefas da vida diária, profissionais
ou outras, aumenta com o tempo, no
entanto o passar do tempo é também
sinónimo de que a solução está
mais perto. O pessimista seguirá
com mais facilidade o caminho
negativo, enquanto o otimista verá
uma oportunidade para outras
atividades, para outras relações e
para se inventar ou se descobrir. O
produto humano inacabado tem
agora esta oportunidade que lhe foi
concedida e tem obrigação de tirar
dela o melhor proveiro. Deve procurar
ganhar o tempo reinventando-se
em vez de desperdiçar este período,
vendo-o como perda de tempo.
Recomendam-se várias estratégias
para melhor enfrentar a prolongada
permanência no domicílio nesta fase
difícil na vida de todos, entre as quais:
• Comunicar com alguém em que
se confia, falar com com quem se
gosta e mesmo falar com a pessoa
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