Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 27

da constatação que muitos atletas têm margem e vantagens mecânicas na evolução dos seus índices de força, sobretudo se os enquadramos num mesmo nível de habilidade técnica e tática, índice ponderal e condição psicossocial. Recentemente, Vicens-Bordas et al. reportaram défices de força excêntrica na pré-época em futebolistas amadores mais velhos e naqueles sujeitos a uma paragem de mais de três semanas por lesão muscular na época anterior. 19 Estes apresentaram redução de 13% de força muscular excêntrica nos músculos isquiotibiais em comparação com outros que não haviam sofrido lesão na época anterior. As boas práticas, as evidências sobre o efeito preventivo do treino excêntrico nas lesões musculares e na melhoria da performance, farão deste subgrupo objeto de intervenção? No futebol e noutros desportos coletivos com ações de campo semelhantes, sejam motoras ou táticas, a capacidade de aceleração positiva e negativa, realizar mudanças de direção com rapidez e acelerações curtas e sprints lineares são frequentemente decisivas. 20 A exposição ao trabalho excêntrico parece influenciar positivamente a performance dos atletas ao mudarem de direção. 7,10 Spiteri et al. reportaram a força excêntrica como o único preditor de performance alcançada pelos atletas na execução de mudança de direção (T-test e 505 COD), explicando aquela 80 e 77% da variância entre atletas, respetivamente. 10 Tous-Fajardo et al. 7 também referem resultados favoráveis nas mudanças de direção, no salto reativo e na velocidade linear num grupo de futebolistas sub-18 expostos a sobrecarga inercial excêntrica e treino vibratório durante 11 semanas, quando comparado a treino pliométrico. No mesmo sentido, Hoyo et al. evidenciam efeitos preventivos e melhorias na velocidade linear e performance de salto em jogadores de futebol adolescentes, após exposição a exercícios referidos como half-squat e leg-curl com equipamento isoinercial (Flywheel machine). 21 Estes equipamentos parecem favorecer a transferência da especificidade de treino em vetor horizontal pela possibilidade de movimentos multidirecionais. Voltando à segunda lei de Newton, e recuperando agora a primeira, conhecida também como princípio da inércia, será importante calcular e investigar com rigor o papel definidor que a performance excêntrica superior, em paralelo com o desenvolvimento físico e motor dos atletas, trará à capacidade atlética e, porventura, ao desempenho desportivo. Recentemente, ocorreu um evento organizado pela Desmotec onde se reuniu, virtualmente, um painel de profissionais para discutir o papel do treino excêntrico no condicionamento desportivo. Fica a nota de um corpo de investigação e evidência crescente, que suporta e recomenda o desenvolvimento do treino excêntrico no futebol de elite e no râfguebi como fator determinante e positivo de parâmetros físicos e funcionais dos atletas. No painel participaram, entre outros, especialistas do Tottenham Hotspur Football Club, da Clínica do Dragão – Espregueira- -Mendes Sports Centre FIFA Medical Centre of Excellence, da Universidade de Suffolk e da equipa nacional italiana de râguebi. A nossa posição face à evidência apresentada no evento e a que suporta este texto, às boas práticas e ao contexto individual e coletivo dos atletas, à periodização de treino e calendário de jogos, passa por incluir o treino excêntrico transversal e longitudinalmente ao desenvolvimento físico e motor dos atletas. Para a maior segurança e eficácia, há que atender à medida da cultura física de cada um. A observação dos princípios de exercício ajustados ao treino dos atletas e desportivo é crucial para que as adaptações crónicas tenham um efeito positivo na manutenção da integridade física e na capacidade atlética. Sendo certo que há evidência que a exposição ao treino excêntrico regular e sistemático previne lesões musculares, reduz a amplitude de efeitos indesejáveis das adaptações agudas (desconforto/ dor, dano muscular e redução da performance) e aumenta o desempenho desportivo. Bibliografia 1. Suchomel TJ, Nimphius S, Stone MH. The Importance of Muscular Strength in Athletic Performance. Sports Med 2016; 46:1419-49. 2. Mendiguchia J, Conceicao F, Edouard P, et al. Sprint versus isolated eccentric training: Comparative effects on hamstring architecture and performance in soccer players. PLoS One 2020; 15:e0228283. 3. Lepley LK, Lepley AS, Onate JA, et al. Eccentric Exercise to Enhance Neuromuscular Control. Sports Health 2017; 9:333-40. 4. Douglas J, Pearson S, Ross A, et al. Chronic Adaptations to Eccentric Training: A Systematic Review. Sports Med 2017; 47:917-41. 5. Timmins RG, Ruddy JD, Presland J, et al. Architectural Changes of the Biceps Femoris Long Head after Concentric or Eccentric Training. Med Sci Sports Exerc 2016; 48:499-508. 6. Franchi MV, Atherton PJ, Reeves ND, et al. Architectural, functional and molecular responses to concentric and eccentric loading in human skeletal muscle. Acta Physiol (Oxf) 2014; 210:642-54. 7. Tous-Fajardo J, Gonzalo-Skok O, Arjol-Serrano JL, et al. Enhancing Change-of-Direction Speed in Soccer Players by Functional Inertial Eccentric Overload and Vibration Training. Int J Sports Physiol Perform 2016; 11:66-73. 8. Aune AAG, Bishop C, Turner AN, et al. Acute and chronic effects of foam rolling vs eccentric exercise on ROM and force output of the plantar flexors. J Sports Sci 2019; 37:138-45. 9. Petersen J, Thorborg K, Nielsen MB, et al. Preventive effect of eccentric training on acute hamstring injuries in men’s soccer: a cluster- -randomized controlled trial. Am J Sports Med 2011; 39:2296-303. Restante Bibliografia em: www.revdesportiva.pt (A Revista Online) Revista de Medicina Desportiva informa maio 2020· 25