Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 26
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(3):24-25. https://doi.org/10.23911/clinica_dragao_2020_05
Treino Excêntrico – da
Prevenção à Performance
no Futebol
Dr. Rogério Pereira 1,2 , Dr. Renato Andrade 1 , Dr. Nuno Cerdeira 1,3 , Dr. Ricardo Vidal1 ,4 , Prof. Doutor João
Espregueira-Mendes 1,3,5
1
Clínica do Dragão, Espregueira-Mendes Sports Centre – FIFA Medical Centre of Excellence, Porto; 2 Escola
Superior de Saúde, Universidade Fernando Pessoa, Porto; 3 Futebol Clube do Porto, Porto; 4 Futebol Clube Paços de
Ferreira, Paços de Ferreira; 5 Escola de Medicina, Universidade do Minho, Braga.
RESUMO / ABSTRACT
RESUMO
A prescrição de exercício excêntrico para jogadores de futebol pode ter várias vantagens, sempre
que as premissas de segurança e eficácia sejam observadas. Apresentaremos os factos suportados
pela evidência, assim como um rationale para o treino excêntrico no contexto do futebol.
Também focaremos o efeito preventivo e a melhoria do desempenho motor e desportivo do
treino excêntrico. A fundamentação teórica apresentada parece apoiar a prescrição de exercício
excêntrico para fins de prevenção, fortalecimento e/ou aprendizagem motora. Colocámos a possibilidade
de incluir o treino excêntrico em paralelo com o desenvolvimento físico e motor, como
um trunfo para desenvolver habilidades e o desempenho desportivo dos atletas.
Eccentric training prescription to footballers may yield several advantages, if safety and effectiveness
premises come into play. We will present facts, supported by data-based evidence, as a rationale for
eccentric strengthening within sports training. The spotlight will be on injury preventive effects and performance
enhancement through eccentric training. The presented theoretical framework seems to support
eccentric training prescription for prevention, strengthening and/or motor learning purposes. We put in
perspective the extension of eccentric training throughout physical and motor development lifespan, as an
asset, to add to athletes’ motion set of skills and sports performance.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Treino excêntrico, prevenção, lesões musculares, performance,futebol.
Eccentric training, prevention, muscular injuries, performance, football.
A investigação sobre a atividade
neuromuscular e o seu principal
objetivo é extensa. Mediante os estudos
que analisam a influência da
força em fatores relacionados com
a performance atlética, a maioria
revela uma correlação entre 0,5 e
0,69 para a taxa de desenvolvimento
de força, potência mecânica externa,
salto, sprint, mudanças de direção,
potenciação e incidência de lesões. 1
O treino excêntrico, além de
interferir com a morfologia muscular,
parece também promover
alterações neuromusculares únicas
e dependentes de diferentes fatores,
incluindo mudanças na arquitetura
muscular, hipertrofia, aumento
do comprimento dos fascículos e
aumento na frequência de disparo
pelos motoneurónios. 2-6 Há diferentes
alterações morfofuncionais documentadas
para o músculo e para as
unidades miotendinosas decorrentes
da exposição ao treino excêntrico.
Estas terão uma transferência
positiva nos futebolistas no âmbito
da prevenção de lesões nos músculos
isquiotibiais, na capacidade atlética
e, porventura, no desempenho desportivo.
4 Há várias associações estatísticas,
bem sabemos das diferenças
com o conceito de causalidade, da
exposição ao treino excêntrico e
aumentos na amplitude de dorsiflexão
do tornozelo (aguda e crónica),
comprimento dos fascículos, área
de secção transversal dos músculos,
diferentes parâmetros de força (absolutos
e relativos), velocidade nas
mudanças de direção, performance
no salto e na velocidade e redução de
lesões nos músculos isquiotibiais e
isquiofemoroperoniais. 7,13
O rigor metodológico dos estudos e
o risco de viés dos resultados preventivos
e/ou terapêuticos reportados,
assumindo estes como outcome em
causa, parecem seguir uma moda
inversamente proporcional (i.e., os
estudos com menor rigor metodológico
são aqueles que reportam
os melhores resultados). Todavia,
sabemos também que a informação
traduzida e reportada do tratamento
estatístico de dados resulta de quais
e com que equações se tratam. Uma
revisão sistemática recente veio
reavivar a discussão sobre a eficácia
de estratégias baseadas em exercício
na prevenção de lesões musculares,
exclusivamente, em atletas de
futebol de elite. 14 Conclui-se que a
evidência que suporta as intervenções
é de baixa qualidade. Quando
consideramos outros estudos que
incluem atletas de várias modalidades
(incluindo o futebol) e de diferentes
níveis desportivos 9-15 , verifica-se
um efeito preventivo importante
no exercício excêntrico (redução do
risco superior a 50% na incidência)
em lesões musculares nos isquiotibiais
e isquiofemoroperoneais. Dizemos
só que se impõe a necessidade
de literacia científica e a ponderação
dos riscos de generalizar médias e
extrapolar informação (descontextualizar).
Não se deve afetar os mais
de 250 milhões de praticantes de
futebol em função de um resultado
circunscrito a uma amostra. Neste
sentido, é de extrema importância
ponderar e contextualizar os factos. 13
Por exemplo, o aumento de lesões
musculares de 2-4% 16 normalizado
pelo aumento nas exigências físicas
do futebol 17 , como o aumento moderado
a alto da distância percorrida
em alta intensidade, podemos estar
na presença de uma interpretação
em sentido contrário e de maior
magnitude, i.e., uma redução na
ordem dos 20% das lesões musculares
em contexto de jogo. Portanto,
ainda que tenha sido reportado que
83% dos clubes da UEFA não implementam
programas de prevenção de
lesões musculares dos isquiotibiais
e isquiofemoroperoniais (ex. Nordic
Hamstring) 18 , haverá efeitos preventivos
a decorrer da multiplicidade de
intervenções, baseadas no exercício,
recuperação desportiva, nutrição e
outras implementadas pelos clubes.
Recomendamos que estas passem
no crivo da estatística contextualizada.
Adicionalmente, por fatores
relacionados com a individualidade
e com as leis da física, recuperamos
a segunda lei de Newton para esta
discussão, onde a força resultante é
o produto da massa pela aceleração,
assim como poderíamos prescindir
24 maio 2020 www.revdesportiva.pt