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incapacidade para realizar apoio
axial monopodálico e dor intensa
e edema localizados à face ântero-
-externa da crista ilíaca direita.
A mobilização articular passiva e
ativa da anca direita não se encontrava
bloqueada, mas apresentava
dor intensa na flexão/extensão e
abdução/adução da anca e desconforto
na rotação interna/externa.
Não se verificavam défices sensitivo-
-motores ou de perfusão vascular do
membro.
O estudo radiográfico da bacia
(incidência ântero-posterior e “rã”)
revelou uma fratura-avulsão do segmento
anterior da apófise da crista
ilíaca direita com um gap de 3,2mm
(Figuras 2 e 3).
A doente foi tratada conservadoramente,
com foco no controlo
álgico durante a fase aguda, incidindo-se
na terapêutica sintomática,
crioterapia, mobilidade articular
e marcha com apoio de auxiliares
externos mediante tolerância à dor.
Após três semanas iniciou marcha
de forma autónoma sem dor, retomando
rapidamente as atividades
de vida diária. Após oito semanas da
lesão, a doente foi observada clínica
e radiograficamente, constatando-
-se uma excelente evolução clínica,
sem assimetria na mobilidade
articular das ancas ou da força
muscular dos membros e com uma
consolidação óssea alcançada sem
sequelas aparentes. Em consulta
de seguimento de ortopedia pediátrica,
apresentava-se assintomática
e radiologicamente comprovava-se
a consolidação da fratura (Figuras
4 e 5).
Após um programa de reabilitação
com foco no fortalecimento
muscular gradual, alongamento e
proprioceção, reintegrou o treino
competitivo normal sem limitações
ao fim de 12 semanas, apresentando
excelentes resultados clínicos e funcionais,
com Hip Outcome Score (HOS)
de 100% (68 pontos) para a subescala
das atividades de vida diária e de
94,% (34 pontos) para a subescala de
atividade desportiva.
Discussão
A fratura-avulsão da crista ilíaca é
uma lesão rara e pouco descrita na
literatura. Numa revisão de 203
atletas com fratura-avulsão pélvica,
apenas se identificaram três lesões
da crista ilíaca, cuja ocorrência surge
preferencialmente associada à
prática desportiva de ténis, ginástica
e futebol. 9 O caso descrito torna-se
assim uma situação desde logo
peculiar e excecional, somando-se ao
tipo e mecanismo de lesão, o género
feminino da atleta e a modalidade.
A apófise da crista ilíaca é local
de inserção do músculo abdominal
Figuras 2 e 3 – RX da bacia (AP e “rã”) – Fratura-avulsão isolada da apófise da crista
ilíaca direita com gap de 3,2mm
Figuras 4 e 5 – RX da bacia (AP e “rã”) às 12 semanas com fratura consolidada
transverso, oblíquo interno e
externo, podendo a fratura-avulsão
surgir por forças de tensão exercida
por estes músculos aquando de
movimentos de flexão lateral ou torção,
superiorizando-se à ação antagonista
do músculo glúteo médio e
tensor da fáscia lata. 6,10
A corrida surge associada a um
número significativo de fraturas-
-avulsão pélvicas (40% 11 ), estando a
fadiga acumulada durante a atividade
competitiva e/ou microtraumatismos
de repetição pós sobrecarga
desportiva prévia identificados como
fatores promotores de lesão.
No caso descrito, a sobrecarga desportiva
e sintomas prévios em associação
com o provável movimento
de rotação súbita da bacia para o
lado contralateral no momento
da aceleração explosiva (início do
sprint), potenciado em grande parte
pelo músculo oblíquo externo,
parecem explicar a etiologia da lesão
descrita.
No momento da avulsão apofisária,
a maioria dos doentes apresenta
uma sensação de “estalido” com dor
intensa na hemipélvis afetada, que
agrava à palpação localizada da face
ântero-externa da crista ilíaca e que
se encontra frequentemente edemaciada
e/ou equimótica. A marcha
pode ser possível, embora frequentemente
de Trendelemburg por dor
e espasmo muscular. 1 A avaliação
por radiografia (incidência ântero-
-posterior) é geralmente suficiente
para o diagnóstico e caraterização
da lesão, sendo de realçar a importância
da suspeição clínica e comparação
radiográfica com o lado
contralateral. Nos casos em que se
mantenha a suspeita diagnóstica ou
para exclusão de lesões associadas,
é descrita a utilização da TAC ou da
RMN otimizando a acuidade diagnóstica
e a decisão terapêutica.
Nas fraturas-avulsão da bacia
o desvio é normalmente mínimo
devido às múltiplas inserções musculares,
quer do tronco, quer dos
membros inferiores. Por esta razão,
o tratamento conservador é considerado
o gold-standard para a recuperação
plena e sem sequelas, reservando-se
o tratamento cirúrgico
para situações de desvio superior a
3cm, lesão neurovascular associada
ou casos de pseudartrose/exostose
dolorosa. 1,7 No que diz respeito ao
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