Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 29
arremessos mais comuns do ténis,
o forehand (na mão dominante) e o
backhand (na mão não dominante) 11 ,
ocorrendo por sobrecarga repetida
de forças em extensão e desvio ulnar
transmitidas ao punho durante o
impacto com a bola. 29 A repercussão
tendinosa destas cargas é influen-
ciada pela musculatura da mão,
força e tipo de pega utilizada 29-31 ,
tamanho da raquete e localização de
impacto da bola na raquete. 30 Apesar
de menos prevalente, pode tam-
bém ocorrer a rotura traumática da
bainha tendinosa do extensor ulnar
do carpo após movimento súbito de
flexão volar e desvio ulnar do punho,
que pode provocar a subluxação do
tendão. 32 A tenossinovite de De Quer-
vain é também uma das tendinopa-
tias mais frequentes nos tenistas. 29
Trata-se da inflamação das bainhas
sinoviais dos tendões do 1º compar-
timento extensor do punho, nomea-
damente do longo abdutor e curto
extensor do polegar, ao atravessarem
o processo estilóide do rádio. 33
As roturas parciais dos músculos
paravertebrais a nível lombar são
a causa mais frequente de dor no
tronco nos tenistas, seguindo-se as
roturas ligamentares e roturas do
anel fibroso do disco intervertebral. 6
Um estudo demonstrou que 38% de
143 tenistas profissionais já falta-
ram a um torneio por dor lombar. 34
Ocorrem devido aos repetidos movi-
mentos de hiperextensão e rotação
do tronco, sobretudo durante o
serviço, no qual estes são efetuados
de forma explosiva. 6 Estes mesmos
movimentos colocam os discos
intervertebrais lombares em risco de
roturas do anel fibroso, lesões que
podem conduzir a hérnias discais ou
mesmo ao desencadear do processo
Figura 2 – Sweet spots
Zona de ressalto máximo
Centro de Percussão
Vibration node
Dead spot – zero ressalto,
não desejado
degenerativo discal e da coluna ver-
tebral em geral. 35
As lesões traumáticas no joelho
associadas ao ténis ocorrem devido
aos frequentes movimentos de torção
dos joelhos exigidos pelas constan-
tes mudanças de direção e saltos
do ténis e incluem a instabilidade
patelofemoral, a tendinopatia patelar
(jumper´s knee ou “joelho do saltador”),
as roturas meniscais e bursites. 36
O conceito tennis leg ou “perna do
tenista” foi descrito para a típica
rotura parcial ao nível da transição
músculotendinosa proximal do gas-
trocnémio medial. 37-39 O seu meca-
nismo de lesão envolve a dorsiflexão
súbita de um tornozelo previamente
em flexão plantar num joelho em
extensão, que pode ocorrer por
exemplo num sprint. 3
As lesões mais frequentes a nível
do tornozelo são as entorses, sendo
mais frequentes por mecanismo
de supinação e atingindo maiori-
tariamente o complexo ligamentar
colateral lateral. 3,6
As raquetes evoluíram recen-
temente para modelos de maior
dimensão, mais resistentes e mais
leves. 6,40 A raquete mais rígida
ou de tamanho incorreto leva ao
aumento de vibrações transmitidas
ao membro superior, aumentando
o risco de lesões no mesmo. 6,41 A
pega da raquete afeta a biomecânica
dos arremessos e as próprias forças
transmitidas ao membro superior. 6,41
Por sua vez, a zona de impacto na
raquete tem influência direta na
velocidade da bola e nas vibrações
transmitidas ao membro superior. 6
Existem três sweet spots estratégicos
numa raquete de ténis (Figura 2): a
zona de ressalto máximo, útil para
jogadas mais agressivas, e outros
dois locais onde se verifica uma
menor transmissão de vibrações
para a mão, logo de menor risco
de lesão, o centro de percussão e o
vibration node. Da mesma maneira,
quando a zona de impacto se encon-
tra mais afastada do eixo central da
raquete gera-se um movimento de
rotação da mão, sendo este com-
pensado por contrações excêntricas
excessivas dos músculos do ante-
braço, o que favorece a ocorrência de
tendinopatias por sobreuso. 40,42
A biomecânica do ténis varia
também de acordo com a superfície
do terreno em que este é praticado. 5
Em campos de cimento ou asfalto o
coeficiente de fricção é maior e há
menor absorção de choque. O
deslizamento é menor, a velocidade
da bola é maior e as forças aplicadas
aos membros superiores são supe-
riores. 43 Em terra batida o jogo é
mais lento, havendo maior absorção
de choque da bola e perda de
velocidade desta. 5 O menor coefi-
ciente de fricção leva a que haja
maior deslizamento na superfície
por parte do tenista, sujeitando-o a
novas agressões. 44 Um estudo feito
em 3656 tenistas amadores não
encontrou uma associação entre
taxa de lesão e superfície do campo
quando a prática do desporto ocorria
primariamente numa só superfície.
No entanto, registou uma taxa
superior de lesões traumáticas de
sobreuso quando a prática despor-
tiva era alternada entre diferentes
superfícies, sendo a mudança de
superfície considerada fator de risco
para lesão ao nível dos membros
inferiores associada ao ténis. 43
Conclusão
O ténis é uma das modalidades
desportivas mais praticas no Mundo.
Os tenistas têm um perfil de lesões
único que está estreitamente
relacionado com as características
biomecânicas desta modalidade. É
fundamental conhecer a incidência,
os tipos e os mecanismos das lesões
mais frequentes, bem como iden-
tificar fatores de risco individuais
e ambientais relacionados especi-
ficamente com o ténis. Só assim
podemos desenvolver estratégias de
prevenção e diminuir a incidência
das lesões mais típicas durante a
prática desportiva desta modalidade.
O reforço do ensino da técnica de
jogo adequada e desenvolvimento
de programas para correção de
desequilíbrios musculares poderão
ser úteis para redução do índice de
lesões traumáticas no ténis.
Os autores declaram não haver conflitos
de interesse ou económicos.
Correspondência:
Dr. Filipe Rodrigues
Serviço de Ortopedia do Hospital Dr.
Nélio Mendonça, Funchal, Madeira
[email protected]
Restante Bibliografia em:
www.revdesportiva.pt (A Revista Online)
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