Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 27

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(3):25-27. https://doi.org/10.23911/Trauma_tenis_2019_5 Biomecânica e Traumatologia do Ténis Dr. Filipe Rodrigues 1 , Dr. Diogo Lino Moura 2 , Prof. Dr. Fernando Fonseca 3 1 Médico Interno Complementar de Ortopedia do Hospital Dr. Nélio Mendonça, Funchal, Madeira/ Centro Hospitalar do Porto; 2 Especialista de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC); 3 Diretor do Serviço de Ortopedia do CHUC, FMUC. RESUMO / ABSTRACT O ténis é uma das modalidades desportivas mais praticadas no Mundo. Os seus arremes- sos são compostos por movimentos curtos e explosivos, repetidos centenas de vezes em cada treino e jogo. As lesões traumáticas agudas associadas ao ténis ocorrem mais fre- quentemente nos membros inferiores, enquanto as lesões de sobreuso predominam nos membros superiores. O stress repetitivo supra-fisiológico de alta intensidade sobre o mem- bro superior, muitas vezes em amplitudes limite, são responsáveis por lesões no ombro, cotovelo e punho, enquanto as constantes mudanças de direção, rotações do tronco e saltos do ténis estão mais frequentemente associados a traumatologia da região lombar, joelhos e tornozelos. É essencial conhecer a incidência, o tipo e os mecanismos das lesões mais frequentes do ténis, assim como identificar fatores de risco individuais e ambientais, de modo a podermos desenvolver estratégias para a prevenção das mesmas. Tennis is one of the most common practiced sports in the world. Its strokes are composed of short and explosive movements, repeated hundreds of times in each training and game. Tennis acute trau- matic injuries occur more often at the lower limbs, while overuse lesions predominate at the upper limbs. High intensity repetitive supraphysiological stress over the upper limb, often in maximum range of motion, is responsible for shoulder, elbow and wrist injuries, while the constant tennis direction changes, trunk rotations and jumps are more frequently associated with lumbar, knee and ankle traumatology. It is essential to know the incidence, type and mechanism of tennis most frequent injuries, as well as to identify individual and environmental risk factors, in order to be able to develop injury prevention strategies. PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS Ténis, lesões traumáticas, ombro, cotovelo, punho, serviço, sobreuso Tennis, traumatic injuries, shoulder, elbow, wrist, serve, overuse Introdução O ténis surgiu como uma adaptação do jogo medieval Jeu de Paume (“jogo de palmo”), criado em França no século XI. Após a inclusão da raquete, do sistema de pontuação especial e da evolução do próprio nome para ténis, termo derivado do francês tenez, significando “segure / aqui vem”, foram estabelecidas as regras e regulamentos na década de 1870 em Inglaterra. 1 A evolução desde então levou a que atualmente seja uma das modalidades desporti- vas mais praticadas no Mundo com mais de 75 milhões de participantes. 2 De acordo com as regras atuais, o jogo de ténis termina quando se atinge um determinado número de pontos, podendo a partida durar várias horas. 3-4 Deste modo, a modalidade é exigente a nível aeróbio e anaeróbio. 4 Por outro lado, os seus arremessos são compostos por movimentos curtos e explosivos, repetidos centenas de vezes em cada treino ou jogo. 4-6 Face a isto, entende-se que os tenistas têm um perfil de lesões traumáticas único que está diretamente relacionado com as características biomecânicas deste desporto. 6 As lesões de sobreuso associadas ao ténis ocorrem maiori- tariamente ao nível dos membros superiores, enquanto as lesões agudas atingem mais frequente- mente os membros inferiores. 5-6 backhand (Figura 1-B) com a palma da mão dominante para trás e o serviço (Figura 1-C). O serviço é o arremesso mais complexo e laborioso, destacando- -se pelas elevadas forças mecânicas geradas ao nível do ombro e ante- braço dominantes aquando da sua execução. 8 Pode ser dividido em três fases: a preparação (ocorre flexão do joelho, rotação do tronco, abdução e rotação lateral do ombro), a acelera- ção (ativação da cadeia cinética até o contacto com a bola) e desaceleração (imediatamente após contacto com a bola). 9 A cadeia cinética descreve o trajeto e a direção do fluxo de ener- gia nos arremessos do ténis. 10 Tem origem nos pés e joelhos, projetando- -se através da coluna vertebral ao ombro, cotovelo, punho e terminando na raquete. 10 As articulações absor- vem, gerem e transmitem energia ao segmento seguinte. Se a transfe- rência de energia numa articulação não for efetuada corretamente, pode haver sobrecarga das articulações mais distais ao longo da cadeia. 4,11 A manipulação técnica correta da cadeia cinética permite ao tenista gerar altas velocidades da raquete e da bola, minimizando a sobre- carga nas articulações do membro superior, aumentado a eficiência do movimento. 3 Os movimentos repeti- dos de abdução e extensão durante o serviço podem alterar o arco rotacio- nal do ombro dominante, provocando aumento da rotação lateral à custa da rotação medial. 3,12 Apesar do aumento da rotação lateral contri- buir para um serviço mais eficaz, a diminuição da rotação medial origina importantes alterações da cinética da articulação glenoumeral, nomea- damente o défice da rotação medial da glenoumeral, que vai favorecer ocorrência de lesões do ombro. 13-15 Traumatologia do ténis Biomecânica do ténis No ténis são realizados diversos tipos de arremessos de diferentes características biomecânicas que contribuem para o espetro de lesão do membro superior. 7 Os mais frequentes são o forehand (Figura 1-A), realizado com a palma da mão para a frente durante o impacto, e o As lesões traumáticas desportivas dos tenistas levam não só à interrup- ção da prática desportiva de treino e competições 16 , como também têm um importante impacto na econo- mia desportiva. 17 As lesões traumá- ticas associadas ao ténis ocorrem mais frequentemente nos membros inferiores, seguido dos membros superiores e região lombar. 7 Revista de Medicina Desportiva informa maio 2019 · 25