Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 21

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(3):19-21. https://doi.org/10.23911/marcha_nordica_2019_5 A marcha nórdica Dr. Basil Ribeiro, Medicina Desportiva. V N Gaia A marcha nórdica teve origem nos países nórdicos, particular- mente na Finlândia. Inicial- mente foi introduzida no Verão como treino praticado pelos esquiadores profissionais com o objetivo de manterem algum condicionamento físico. Poste- riormente, foi adotada como prática de exercício físico por razões de lazer e de saúde. Foi em 1994 que o treinador finlandês Marko Kantaneva criou este exercício de marcha com bastões, mas foi apenas nos finais dos anos 90 que a marcha nórdica começou a ser praticada nos moldes atuais. Já no início deste século os franceses desenvolveram a modali- dade, a qual é regulamentada pela Federação Francesa de Atletismo. Estima-se que mais de 10 milhões de pessoas pratiquem esta modalidade em vários países. Scott Markewitz/Creative RF/Getty A marcha nórdica (MN) utiliza dois bastões, especificamente desenhados para este tipo de exercício, os quais têm por função a utilização da musculatura dos membros superio- res e também a torácica. Os mem- bros superiores associam-se aos membros inferiores para o exercício. Deste modo, o volume muscular envolvimento no exercício é bastante maior, o que causa maior condicio- namento aeróbio, isto é, melhor a aptidão física cardiovascular sem acréscimo proporcional da perceção de que se está a trabalhar com mais intensidade. A uma determinada velocidade de marcha, a MN envolve mais músculos em vários segmentos corporais e induz maior intensidade de exercício quando comparado com a marcha tradicional. A ação sobre os bastões e o envolvimento dos membros superiores tem assim benefícios adicionais para a saúde em relação à marcha tradicional. Este tipo de exercício aumenta a frequência cardíaca sem aumentar a taxa de perceção do esforço. Agora, não é necessário caminhar mais rápido para se trabalhar à frequên- cia cardíaca desejada. Nem todas as pessoas gostam de caminhar rápido e envolvendo os braços no exercício físico acabam por obter a carga externa desejada e com menor envolvimento da massa muscular dos membros inferiores. No estudo realizado em tapete rolante (duração 5 minutos, 5.5 km.h -1 ), com instrutores de MN, constatou-se que as várias técnicas de MN originaram maior ativação muscular e resposta metabólica que a simples marcha. Neste estudo, a frequência cardíaca foi significati- vamente superior com a MN (+ 23 bpm) em relação à marcha simples, o mesmo acontecendo com o VO 2 medido no final de cada período de 5 minutos (+ 37%). Também a ventilação foi superior de modo significativo na MN em relação à marcha simples. Neste mesmo estudo, sinais eletromiográficos de vários músculos da parte superior do corpo e dos membros inferiores foram registados, assim como foi calculada a força voluntária máxima (FVM) para cada um dos músculos. Verificou-se que a ativação dos músculos da parte inferior do corpo foi em geral 15% inferior dos valo- res da FVM. Por exemplo, a ativação dos músculos gastrocnémio medial, bicípite femoral e glúteo médio foi, respetivamente, 38%, 29% e 38% superior durante a marcha normal em relação à MN. A diminuição da carga nos membros inferiores da ordem dos 20% tem sido referida na literatura. Na Discussão, os autores referem que, independentemente da técnica usada na MN, caminhar com bastões origina maior carga fisio- lógica e resposta muscular global em relação à marcha convencional, sem bastões. Referem, ainda, que quando a MN é executada com a técnica aconselhada existe aumento significativo na ativação da muscu- latura da parte superior do corpo e aumento do consumo de oxigénio. Contudo, as diferentes técnicas de MN originam dispêndios energéticos diferentes, mas sempre superiores aos da marcha tradicional. Daqui os autores recomendarem o apoio e a supervisão por parte de técnicos qualificados para que a técnica seja corretamente executada e se obte- nham os objetivos propostos. Outros trabalhos de investigação revelam resultados semelhantes. Num estudo realizado em mulhe- res, o aumento do VO 2 foi de 20%, enquanto que num outro o VO 2 , a frequência cardíaca e a concen- tração de lactato foram significa- tivamente superiores na MN para velocidades superiores a 1.8m/seg. Sugiyama, K. et al concluíram que o “o uso de bastões na MN atenua a atividade muscular nos mem- bros inferiores durante as fases de apoio e de propulsão, e que dimi- nuiu a atividade nos músculos dos membros inferiores e aumenta o gasto energético da parte superior do corpo e do sistema respiratório em certas velocidades de marcha”. Outra revisão sistemática realizada entre novembro de 2010 e maio de 2012, publicada em 2013, na qual se pretendeu averiguar os efeitos a curto e a longo prazo, concluiu que “a MN exerce efeitos benéficos na frequência cardíaca de repouso, pressão arterial, capacidade de exer- cício, consumo máximo de oxigénio, qualidade de vida nos doentes com várias patologias, pelo que pode ser recomendada a um grande leque de pessoas como prevenção primária e secundária”. Outro benefício deste tipo de exercício tem a ver com o relaxa- mento muscular e melhoria da postura. Como são usados movimen- tos com amplitude articular (quase) total, os músculos envolvidos são Revista de Medicina Desportiva informa maio 2019 · 19