Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 20
Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(3):18. https://doi.org/10.23911/CQuiz1_2019_5
Dr. Hélder Dores
Cardiologia Desportiva
– Hospital das Forças
Armadas, Hospital
da Luz Lisboa, Sport
Lisboa e Benfica, NOVA
Medical School
ECG 10
- Género masculino; Negro; 24 anos; Boxe.
• Homem, 28 anos, raça negra.
• Atleta de nível competitivo – Boxe, 10-12h de treino semanal.
• Assintomático, sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes.
• No contexto de avaliação pré-competitiva realiza este ECG
QUESTÕES:
1. Como classifica este ECG:
patológico, normal ou com
alterações fisiológicas?
2. Que exames complementares
de diagnóstico adicionais
solicitava?
3. Decisão médica:
contraindicações ou restrições para
a prática desportiva?
Consulte as respostas mais adequadas para estas questões na próxima edição da Revista
1. No contexto médico-desportivo, em
que idade se deve fazer o 1º ECG?
Não está definida uma idade para
realizar o 1º ECG no contexto do exame
médico-desportivo (EMD), sendo de igual
forma controverso quando deve ser
iniciado o próprio EMD. Existem poucos
estudos em idade pediátrica, mas a
prática de desporto competitivo começa
cada vez mais cedo na vida, com
volumes de treino progressivamente
maiores. Atualmente a realização do 1º
ECG fica um pouco ao critério do clínico
e da modalidade/federação desportiva.
Uma estratégia adequada será realizar o
1º ECG entre os 12-14 anos. A miocardio-
patia hipertrófica raramente se mani-
festa antes da puberdade, enquanto as
ondas T invertidas nas derivações antero-
-septais (V1-V4) típicas de miocardiopatia
18 maio 2019 www.revdesportiva.pt
arritmogénica são muito frequentes
antes destas idades, diminuindo a
acuidade no diagnóstico destas patolo-
gias, causas comuns de morte súbita em
atletas jovens.
2. O ECG deve ser feito todos os anos?
O ECG deve ser realizado periodica-
mente a atletas. Atualmente a melhor
estratégia é realizá-lo anualmente, mas
é provável que no futuro, além da idade,
outras características do atleta e do tipo
de desporto definam a periodicidade do
ECG e do EMD. Como em determinados
contextos, nomeadamente nas mio-
cardiopatias, as alterações no ECG são
pré-fenotípicas e podem manifestar-se
rapidamente, sobretudo no período de
crescimento/adolescência, a realização
anual pode permitir a identificação
precoce de casos patológicos. Por outro
lado, nos atletas veteranos com ECGs
recorrentemente normais, será mais
improvável o início destas alterações,
sendo lícito a repetição a cada 24 meses.
Importa salientar que não basta realizar
ECG, mas sim interpretá-lo corretamente.
A interpretação do ECG por profissionais
com experiência na avaliação de atletas
e a aplicação de critérios específicos para
atletas são fundamentais. A formação e
diferenciação dos médicos de Medicina
Desportiva e cardiologistas dedicados a
Cardiologia Desportiva devem ser incen-
tivadas. Desta forma, além da redução
dos falsos positivos com elevado impacto
económico e desqualificações inadequa-
das, pode permitir a deteção precoce de
patologias potencialmente fatais.