Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 28
Um estudo avaliou 162 tenistas
federados com idade superior a
16 anos durante uma época, cor-
respondendo a 8039 jogos. Foram
registadas 199 lesões, perfazendo
uma incidência de 1.25 lesões por
1000 horas de treino e 1.03 lesões
por 1000 jogos oficiais. A maioria
destas lesões ocorreu nos membros
inferiores (37.2%), seguindo-se a
região lombar (33.2%) e os membros
superiores (29.6%). Cerca de 70%
das lesões agudas registou-se nos
membros inferiores (sendo a entorse
a mais comum), enquanto que 45.9%
das lesões crónicas manifestaram-se
nos membros superiores. 18 Christo-
pher Gaw et al. registaram as lesões
associadas ao ténis apresentadas
aos serviços de urgência dos Estados
Unidos da América (com base num
serviço eletrónico nacional comum a
100 hospitais) entre 1990 e 2011. Os
utentes apresentavam uma média de
idade de 37.3 anos. Registou-se uma
taxa de internamento de 3.4%. Cerca
de 40% das lesões ocorreram nos
membros inferiores (cerca de metade
no tornozelo), 26.7% nos membros
superiores, 19.6% na cabeça ou
pescoço e 9.2% no tronco. Os tipos de
lesões mais frequentes foram roturas
musculares ou ligamentares parciais
(44.1%) e fraturas (14.6%). 19
O ténis provoca stress repetitivo
supra-fisiológico de alta intensidade
sobre o ombro, sujeitando esta
articulação a amplitudes limite
diversas vezes durante um treino ou
jogo. Trata-se de um desporto
overhead, isto é, com movimentos
frequentes do membro superior
acima do nível da cabeça, o que traz
consequências em termos de
patologias sobretudo do ombro e
cotovelo. 20 Os movimentos repetidos
de elevação anterior, abdução e
rotação lateral do ombro, frequentes
Figura 1-A - Forehand
26 maio 2019 www.revdesportiva.pt
durante o serviço e arremessos,
provocam de forma progressiva
aumento da rotação lateral do
ombro e subluxação anterior da
cabeça do úmero do tenista. O
aumento da rotação lateral induz
contratura da cápsula articular
posterior e da banda posterior do
ligamento glenoumeral inferior, o
que tem como consequência o défice
da rotação medial da glenoumeral.
Esta condição típica dos tenistas
define-se clinicamente por perda
igual ou superior a 20° de rotação
medial comparativamente ao ombro
não dominante. 3,12,13 Nestes atletas, o
desequilíbrio entre músculos
antagonistas da coifa dos rotadores,
os rotadores laterais e os rotadores
mediais, e o desgaste e laxidão
desequilibrada dos ligamentos
capsulares e do labrum glenoideu
vão favorecer a ocorrência de
instabilidade glenoumeral crónica.
Estas situações de instabilidade
permitem a ocorrência de movimen-
tos translacionais excessivos e
potencialmente lesivos da cabeça do
úmero sobre a cavidade glenoideia,
favorecendo roturas da coifa dos
rotadores, do labrum, lesões da
cartilagem articular e o desenvolvi-
mento precoce de artrose glenoume-
ral. 14,20 O conflito interno do ombro
ocorre entre a face articular dos
tendões supra e infraespinhoso da
coifa e a porção póstero-superior do
rebordo glenoideu e labrum nos
movimentos extremos de elevação
anterior, abdução e rotação lateral
do ombro, frequentemente executa-
dos no ténis. 14 Este conflito mecâ-
nico entre tendões, labrum e osso é
típico do ténis e pode conduzir a
situações de tendinopatia da coifa
dos rotadores, patologia prevalente
nos tenistas, que vai desde tendini-
tes a tendinoses. A tendinopatia
Figura 1-B - Backhand com
duas mãos
Figura 1-C - Serviço – fase
de preparação
pode ainda progredir para rotura
degenerativa da coifa dos rotadores,
patologia frequentemente com
indicação para reparação cirúr-
gica. 7,20 Por outro lado, os típicos
movimentos overhead do ténis
proporcionam forças de cisalha-
mento sobre a porção superior do
labrum glenoideu e como tal
também favorecem a sua rotura. 6,7
Estas lesões são conhecidas por SLAP
(roturas ântero-posteriores superio-
res do labrum) e consistem na
rotura da porção superior do labrum
ao nível da inserção do tendão da
longa porção do bicípite braquial,
podendo estar também associada à
inflamação e rotura deste tendão. 6,7
As lesões mais comuns do coto-
velo associadas ao ténis são a
epicondilopatia lateral (80-90%) e
medial (10-20%). 21 A epicondilopatia
lateral, também conhecida como o
cotovelo do tenista, afeta mais fre-
quentemente os jogadores de nível
amador. 6 Estes tendem a realizar os
backhands com o punho em flexão,
ao contrário dos tenistas de nível
profissional que fazem extensão
do punho antes do contacto com a
bola. 22-25 A técnica incorreta leva a
que jogadores menos experientes
realizem contrações excêntricas
excessivas dos músculos extensores-
-supinadores (sobretudo do extensor
radial curto do carpo), causando
microtrauma repetido e inflamação
crónica da sua origem muscular no
epicôndilo lateral por sobreuso. 22,26,27
Por sua vez, a epicondilopatia medial
é mais frequente nos jogadores
de nível profissional. 6,8 Kibler et al
demonstraram que durante o serviço
o cotovelo move-se dos 116° aos
20° de flexão em 0.21s, ocorrendo o
impacto na bola aproximadamente
aos 35° de flexão. 28 A repetição deste
movimento explosivo pode condu-
zir a cargas excêntricas excessivas
dos flexores-pronadores do punho
(sobretudo do flexor radial do carpo
e redondo pronador), provocando
inflamação crónica na sua origem
no epicôndilo medial por sobreuso. 8
Um estudo em 50 lesões do punho
associadas ao ténis verificou que
mais de 75% destas se apresentavam
com queixas na porção medial do
punho e que dois terços de todas as
lesões envolviam o extensor ulnar do
carpo. 29 A tendinopatia do extensor
ulnar do carpo está associada aos