Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 5
O que andamos a ler
Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de
artigos recentes ou que merecem ser (re)lidos e
comentados. Será uma página aberta a todos os
colegas que pretendam colaborar descrevendo
ou comentando temas de medicina desportiva.
Revista Medicina Desportiva informa, 2018; 9(3):3-5. https://doi.org/10.23911/Comentarios_FMUP_maio_2018
In-Flight Medical Emergencies
during Commercial Travel
Nable, J. V et al. N Engl J Med. 2015;
373(10):939-45. miocárdio, sintomatologia cardiorres-
piratória, transtorno mental, trauma-
tismos, síncope, dispneia e infeções
agudas e potencialmente contagiosas.
O trabalho abordou ainda a posição
da tripulação perante as emergências
médicas, a necessidade da sua for-
mação (particularmente em suporte
básico de vida e utilização de desfi-
brilhadores e a própria cooperação
tripulação-médico, nomeadamente na
tomada de decisões extremas, como
desvios e aterragens de emergência
(estas da estrita responsabilidade de
decisão do comandante).
Resumo Comentário
Este trabalho objetivou uma reflexão
sobre a posição de um médico perante
emergências a bordo de um avião, que
ocorrem com relativa frequência e
que resulta muitas vezes de um agra-
vamento de as doenças já existentes
nos passageiros, ainda que novas con-
dições se possam manifestar. É feita a
ressalva de que, ainda que este apoio
médico não seja obrigatório, faz parte
de um compromisso ético que é assu-
mido e que deverão existir posições
sobre o enquadramento legal desta
atuação e sobre os limites da mesma,
devido ao ambiente austero e não
controlado, que condiciona a prudên-
cia da prática clínica. Assim, foram
revistos os recursos obrigatórios
existentes a bordo (segundo decretado
pela Administração Federal de Avia-
ção e válido para companhia aéreas
comerciais americanas) e os procedi-
mentos de atuação mediante algumas
das emergências mais frequentes,
nomeadamente enfarte agudo do Com o aumento da globalização e
da consequente utilização do avião
como meio de transporte, as emer-
gências a bordo e a necessidade de
atuação constituem uma preocu-
pação e uma realidade cada vez
presente para o médico. Assim, é de
extrema importância a criação de
recomendações e a delineação de
estratégias suportadas e balizadas
pelo enquadramento legal e pela
formação das companhias aéreas/tri-
pulação. Este trabalho conduziu uma
pertinente reflexão e revisão nesta
área, contudo, será importante con-
siderar uma lacuna no que respeita à
menção de emergências relacionadas
com alergia alimentar e anafilaxia.
A alergia alimentar é um problema
crescente 1 de saúde pública e de
segurança alimentar, tendo emergido
como a ‘segunda onda” na epidemia
das doenças alérgicas. 2 A alergia
alimentar pode manifestar-se em
qualquer idade, incluindo em idade
Dra. Inês Pádua
Nutricionista e
Investigadora
na Faculdade de
Ciências da Nutrição
e Alimentação da
Universidade do Porto
Comentário ao artigo
adulta, não existindo um tratamento
disponível, implementado por rotina,
para além da total evicção do(s)
alergénio(s) e, consequentemente,
do(s) alimento(s) implicado(s). 1 Falhas
no cumprimento da dieta de evicção
podem levar a situação de anafilaxia,
sendo que os alimentos são efetiva-
mente uma das principais causas de
reações anafiláticas 3,4 e a primeira
em idade pediátrica em Portugal. 5-7
Uma reação anafilática pode por em
risco a vida do doente caso não exista
uma resposta adequada e atempada,
nomeadamente através da adminis-
tração de adrenalina, que constitui
o tratamento de primeira linha. 8 A
problemática ganha ainda uma maior
dimensão se considerarmos que
exposição acidental aos alergénios
não é incomum 9 , devido sobretudo à
natureza ubiquitária de alguns dos
alergénios mais prevalentes (como o
leite ou o ovo) e a uma generalizada
falta de informação e educação nesta
área. 10,11 As viagens de avião são
um particular motivo de ansiedade
para os doentes e famílias 12,13 , sendo
frequente que estes restrinjam o
número de férias ou que reportem
mesmo nunca ter viajado. 14,15 Ainda
assim, quer a prem ência de inclusão
destes passageiros, quer a referida
globalização e a necessidade de
utilização do avião em contextos para
além dos recreativos (nomeadamente
profissionais) fazem com que seja
cada vez mais importante refletir
sobre medidas que promovam a sua
segurança. Dados sobre frequência
de reações alérgicas nos aviões são
limitados. Contudo, sabe-se que cerca
de 10% dos passageiros com alergia
alimentar ao amendoim 12 já experien-
ciou uma reação a bordo e que estas
já foram inclusivamente responsá-
veis por aterragens de emergência. 16
Adicionalmente, na comunicação
social, redes sociais, páginas de
doentes e contacto clínico, somam-
-se relatos de reações a bordo e falta/
falha de assistência. Nos últimos
anos, muitas companhias aéreas
norte-americanas têm implemen-
tado algumas medidas preventivas,
como a eliminação da distribuição de
amendoins durante o voo, devido à
alta prevalência desta alergia alimen-
tar nos países anglo-saxónicos. No
entanto, e tendo em conta a possibi-
lidade de os passageiros transporta-
rem os seus próprios snacks a bordo,
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