Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 31

exatos e reprodutíveis no estudo da translação tibiofemoral. 5,24-29 Estes devem ser realizados bilateralmente com a aplicação de uma força no joelho de cerca de 89-N com direção: varo/valgo a 20° de flexão; posterior a 90° de flexão com quadricípite relaxado, em rotação neutra. O grau de translação posterior permite a classificação das lesões em: • parcial <8mm (grau I) • lesão completa isolada 8-12mm: (grau II: 8-10mm; grau III: 10-12mm) • associada ao CPL >12mm. O estudo por ressonância magné- tica (RM) é indispensável, uma vez que possui uma sensibilidade 100% e especificidade 97-100%. 30-33 No entanto, sublinha-se o facto de nas lesões crónicas a resposta cicatri- cial poder mascarar a definição da extensão da rutura. Os RX em stress aliados à RM são essenciais para aferir a integridade do LCP. Decisão terapêutica A evidência não é clara sobre a evolução clínica em termos de progressão para artrose e limita- ções funcionais. A probabilidade de progressão para artrose existe pelo aumento de pressão entre as duas superfícies articulares e alteração da cinemática, embora alguns estudos de análise da marcha sugiram que os doentes com lesão isolada do LCP possam regressar à cinemática normal, através de mudanças na marcha e contrações isocinéticas do quadricípite. 6 A literatura possui estudos muito heterogéneos. Assim, o grau de evidência é limitado, em relação às indicações terapêuticas. A tendência sobre o tratamento parece ser 1,6,7 : • grau I isolada: conservador • grau II isolada: controverso • grau III isolada: cirúrgico • multiligamentar: cirúrgico. O tipo de tratamento cirúrgico dependerá do timing da lesão, do doente e da coexistência de outras lesões ou deformidades. Lesão aguda São consideradas lesões agudas ruturas inferiores a duas semanas. A cobertura sinovial do LCP confere- -lhe bom potencial de cicatrização existindo evidência de bons resul- tados com tratamento conservador, sobretudo nas lesões parciais e grau II. 7,34 No entanto, a cicatrização pode ocorrer numa posição que não confere tensão adequada ao LCP tornando-o insuficiente. Esta pode ser a razão para alguns estudos iden- tificarem sintomas e limitações fun- cionais. 35-37 Está descrita a progres- são para artrose e piores outcomes funcionais em 23% dos doentes a 7 anos e 41% a 14 anos. 7 Para corrigir a posição de cicatrização, foram desen- volvidas ortóteses para proteger o LCP que geram uma força dinâmica com direção anterior para contrapor a subluxação posterior da tíbia. 35,36,38 Estas geram uma carga mais fisio- lógica nos ângulos de flexão com- parativamente às ortóteses conven- cionais, o que protege o enxerto. 1,40 O tempo de aplicação da ortótese é variável. Os doentes devem ser rea- valiados periodicamente com estudo radiográfico em stress. As lesões grau III isoladas são tratadas de forma conservadora com a utilização da ortótese 4 a 6 semanas. Mantendo a instabilidade e se atividade laboral ou desportiva o exigir têm indicação para cirurgia reconstrutiva. As lesões de avulsão são tratadas com métodos de reinserção com bons resultados de cicatrização. 39,40 Nas lesões multiligamentares o tratamento cirúrgico é o mais indicado. 1, 5-7 De um modo geral, o resultado funcional é mau. Nas ruturas associadas a lesões menis- cais o tratamento cirúrgico da lesão meniscal deve ser realizado para prevenir que se estabeleça tecido cicatricial e retração. 5 Lesão crónica Os tratamentos inicialmente reali- zados revelaram maus resultados. No entanto, com a evolução das técnicas de reconstrução e proto- colos de reabilitação os resultados melhoraram, embora não sejam tão bons como nas agudas. 5 Primeiro há que caracterizá-las como isoladas ou associadas a lesões multiliga- mentares. De seguida, é necessário quantificar o grau de instabilidade, determinar o grau de artrose, grau de mobilidade, eixo mecânico e conhecer a expetativa do doente. As ruturas grau I e II permane- cem numa área controversa, mas a tendência é para se investir no tra- tamento conservador. Com o treino de ativação precoce do quadricípite pode criar-se uma marcha compen- satória. 6 As indicações para trata- mento cirúrgico são 5 : • grau III sintomática, sem artrose ou com alterações ligeiras • multiligamentar • associação de desvios axiais. Existem essencialmente duas principais técnicas cirúrgicas reconstrutivas: mono-feixe e duplo- -feixe. Há ainda diferenças quanto à abordagem, posicionamento da ligamentoplastia, escolha de enxerto e graus e sistemas de fixação do mesmo. As discussões sobre qual a melhor opção tem sido várias, mas os consensos não. Sobre a abordagem, existe a técnica inlay e a all-inside. Historica- mente a primeira permitiria fixação mais precoce, seria mais segura para as estruturas neurovasculares e evitaria uma angulação que con- dicionaria uma zona de fragilidade para o enxerto (efeito killer-turn). 5 No entanto, o desenvolvimento das técnicas e skills artroscópicos tornaram o procedimento all-inside mais seguro e diminuíram a criação de aderências na cápsula posterior. A alteração do ângulo do túnel tibial (mais oblíquo) e o posicionamento da pastilha óssea dos enxertos mais próxima da saída do túnel parece diminuir o perigo do killer- -turn. Embora existam trabalhos que demonstrem que a inlay tem resultados semelhantes aos da all-inside, literatura mais recente é mais favorável ao all-inside. 5, 41-43 Sobre o posicionamento das plas- tias, a tendência é para a procura do posicionamento mais anatómico. 8,10 Os posicionamentos isométricos geram demasiada tensão na articu- lação e aumentam a laxidão com o tempo. 15,45,46 Em relação ao enxerto, a tendên- cia é a utilização de enxerto autó- logo nas lesões isoladas em doentes high demand e aloenxerto nos low demand ou lesões multiligamentares. A taxa falência dos aloenxertos é 4-6 vezes superior à dos autólogos. 5 Porém, nas lesões multiligamen- tares defende-se a utilização de aloenxerto pela disponibilidade de Revista de Medicina Desportiva informa maio 2018 · 29