Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 29
SPAT
Sociedade Portuguesa de
Artroscopia e Traumatologia
Desportiva
Rev. Medicina Desportiva informa, 2018; 9(3):27-31. https://doi.org/10.23911/T_SPAT_LCP
Lesão Isolada do Ligamento
Cruzado Posterior
Dr. Francisco Requicha 1 , Dr. Marino Machado 1 , Dr. Diogo Chorão Constantino 1 , Dr. João Pedro Jorge 1 ,
Dr. Luís Branco Amaral 2
1
Médico interno de Ortopedia e Traumatologia; 2 Chefe de Serviço e Diretor da Área Musculoesquelética
do Centro Hospitalar de Lisboa Central
RESUMO / ABSTRACT
O ligamento cruzado posterior é o principal estabilizador da translação posterior da tíbia.
Possui uma complexidade anatómica, histológica e geométrica que lhe conferem faculda-
des únicas de difícil reprodução. A história natural da lesão ainda não é totalmente conhe-
cida, mas devido ao quadro de instabilidade poderá surgir limitação funcional importante
e artrose precoce. Os trabalhos publicados não têm permitido retirar conclusões baseadas
em estudos de evidência nível I. No entanto, o crescente o interesse da comunidade cien-
tífica sobre estas lesões nas últimas décadas, tem desenvolvido algoritmos que permitem
uma decisão mais sistematizada e sustentada. Este artigo apresenta as conclusões e con-
trovérsias sobre a lesão assentes numa revisão bibliográfica da literatura.
The posterior cruciate ligament is a primary restraint to posterior tibial translation. It has a complex
anatomy, histology and geometry which gives it unique functions difficult to reproduce. The natural
history of the rupture remains unclear but, due to instability, important functional impairment and
early progression to arthritis may develop. The interest of the scientific community has grown in the
past decades. Although there are no level I published studies, algorithms have been developed to
help guide professionals in their decisions. This article describes the current concepts and controver-
sies of the injury, based on a revision of the available literature.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Ligamento cruzado posterior, instabilidade, reconstrução
Posterior cruciate ligament, instability, reconstruction
Introdução
O ligamento cruzado posterior (LCP)
atua em sinergia com outras estru-
turas do joelho para assegurar a nor-
mal biomecânica e cinemática desta
articulação.
Os estudos iniciais descreviam
bons resultados com os métodos ini-
ciais de tratamento da sua lesão. 1,2
Porém, trabalhos de revisão mais
recentes demonstraram o contrá-
rio. 1-6 O tema tem estado em parti-
cular análise nas últimas décadas e
foram instituídos novos conceitos e
métodos de avaliação e tratamento.
Têm sido publicados diversos tra-
balhos sobre as indicações, timing
e tipo de tratamento a instituir. É
importante analisar o estado de
arte para se tomarem as melhores
decisões.
Anatomia
O LCP descreve um trajeto oblí-
quo desde uma depressão na face
posterior da tíbia, dirigindo-se
para o pivot central e acaba por se
inserir na face lateral do côndilo
femoral medial. 7-12 É composto
por dois feixes: um ântero-lateral
(AL) e outro póstero-medial (PM).
Inicialmente pensava-se que o AL
era o feixe principal, no entanto,
estudos demonstraram que existe
uma relação de co-dominância
entre ambos. 14-17 Uma parte possui
cobertura sinovial que lhe confere
boa vascularização e consequente
maior potencial de cicatrização
do que o ligamento cruzado ante-
rior (LCA). 5,18 A sua inervação é
feita maioritariamente pelo nervo
tibial. 19 Histologicamente as suas
fibras possuem uma geometria
complexa e mecanorrecetores que
lhe conferem propriedades únicas
Figura 1 – Relações entre os ligamentos cruzado posterior, cruzado anterior e colaterais 60
Revista de Medicina Desportiva informa maio 2018 · 27