Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 25

A maioria os quadros de lombalgia no atleta jovem estão direitamente relacionados com sprains autolimita- dos, patologia muscular. A persistência do quadro álgico e a sua recorrência está fortemente associada a quadro de patologia degenerativa do disco lombar e / ou lesões de overuse, como espon- dilólise. A prevalência de espondilolise não é superior em jovem atletas em relação aos não atletas, embora a par- ticipação em desportos que envolvam manobras de hiperextensão repetida, como ginástica, luta livre e mergulho, pareça estar desproporcionadamente associada a taxas mais elevadas de espondilólise. Após tratamento médico, 80% dos atletas apresenta alívio sintomático, independentemente das alterações radiológicas existentes. Em casos recalcitrantes ao tratamento conservador, a reparação cirúrgica direta dos pars interarticularis com fixa- ção interna e enxerto de osso pode pro- duzir altas taxas de alívio da dor em atletas de alta competição permitindo o regresso à prática desportiva. Dr. João Cabral Ortopedia Pediátrica, Coimbra. A luxação anterior do ombro. O que fazer? A luxação do ombro é uma patolo- gia rara, mas cada vez mais comum na população pediátrica (crianças e adolescentes) devido ao aumento da atividade desportiva organizada na infância. A lesão num ou vários esta- bilizadores estáticos / dinâmicos pode resultar em instabilidade do ombro levando a dor, disfunção e diminuição do desempenho do ombro. A popula- ção pediátrica tem algumas particula- ridades, como a composição de colagé- nio que se vai modificando ao longo do desenvolvimento da criança, transi- tando gradualmente do predomínio do tipo III (elástico) ao nascimento para tipo I (não elástico) durante a adoles- cência até à fase adulta. Os indivíduos com maior proporção de colagénio tipo III serão mais suscetíveis a instabili- dade do ombro, no entanto, tendem a melhorar com tratamento conser- vador, uma vez que o colagénio tipo III é menos suscetível a deformidade plástica permanente comparando com colagénio tipo I. Outra particularidade é a presença da cartilagem de cresci- mento do úmero proximal, a qual é suscetível a lesão. O trauma agudo da cintura escapular pode resultar em fraturas-epifisiólise, mais frequente- mente, em Salter-Harris tipo I ou II do úmero proximal. Na abordagem inicial a uma suspeita de luxação anterior do ombro deve ser caracterizado o mecanismo de lesão, a sintomatologia anterior, o padrão da dor, a presença de lesões prévias e a eventual sensação de instabilidade subjetiva. Previamente à redução da luxação deve ser efetuada a avaliação neurológica do membro superior, nomeadamente a função motora e sensitiva da mão (nervo radial, mediano e ulnar), a força de flexão do cotovelo (nervo musculocu- tâneo) e a sensibilidade da região late- ral do braço proximal (nervo axilar). Deve também ser realizado um estudo radiográfico com incidência de face e perfil do ombro e incidência axilar. Existem vários métodos de redução descritos na literatura, sendo os mais comuns o método de Kocher e o de Milch. Independentemente da técnica, para manobras que envolvam tração deve-se efetuar de forma suave e em linha com o braço e não adotar mano- bras intempestivas com movimentos forçados. Após a redução da articula- ção gleno-umeral procede-se à imobi- lização do ombro em adução e rotação interna por um período que poderá ir de 1 a 6 semanas, à qual se segue novo exame neurológico e a novo estudo radiográfico. Após a resolução do qua- dro agudo e na instabilidade crónica torna-se fundamental a realização de manobras específicas para testar laxi- dão ligamentar e provocar a reprodu- ção da sintomatologia. Na suspeita de instabilidade ou para caracterização de eventuais lesões estruturais, os exames complementares de diagnóstico mais usados são a ressonância magné- tica (RMN), a artro-ressonância que permite acrescentar informação com maior detalhe que a RMN e a TAC que permite a caracterização da extensão das lesões ósseas. A história clínica conjuntamente com o exame físico e os achados imagiológicos permitem caracterizar o padrão de instabilidade do ombro e identificar a extensão de lesão dos estabilizadores estáticos e/ ou dinâmicos. O tratamento definitivo desta patologia passa por duas áreas distintas: tratamento conservador, dirigido para a realização de agentes físicos, anti-inflamatórios e para o fortalecimento músculos escapulo- torácicos e da coifa dos rotadores; tratamento cirúrgico, dirigido para a reparação das lesões capsulolabrais/ ósseas e retensionamento capsular. Os fatores que aumentam o risco de ins- tabilidade recorrente são as múltiplas luxações pré-operatórias, a presença de lesão de Hill-Sachs e a perda óssea glenoideia superior a 13,5%. Os doen- tes com esqueleto imaturo beneficiam, na sua maioria, de tratamento conser- vador, tendo uma taxa de recorrência inferior a 5% (a elasticidade dos tecidos moles da criança com esqueleto ima- turo protege-a de lesões capsulolabrais permanentes, diminuindo a probabi- lidade de reluxação). Os doentes com maturidade esquelética deverão ser tratados como adultos jovens, com forte recomendação para estabiliza- ção cirúrgica precoce, uma vez que apresentam 3-20% de probabilidade de instabilidade recorrente. Prof. Doutor João Páscoa Pinheiro (foto), Dr. Amílcar Cordeiro, Dra. Joana Martins Medicina Física e Reabilitação, Coimbra. Avulsões / arrancamentos apofisários: diagnóstico e tratamento A avulsão pélvica é uma patologia característica da criança e do ado- lescente e apresenta também uma correlação estreita com a atividade desportiva. 1 A idade mais frequente de aparecimento é entre os 13 e os 16 anos, já que é nesta altura que há o aparecimento do núcleo de ossificação e se dá a sua fusão à região pélvica. 1,2 Os locais onde mais comummente ocorrem estas lesões são a tubero- sidade isquiática, a espinha ilíaca ântero-inferior e a espinha ilíaca ântero-superior. O mecanismo tipica- mente envolvido nestas lesões é uma contração forte e súb