Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 24

Resumos

Rev . Medicina Desportiva informa , 2018 ; 9 ( 3 ): 22-26 . https :// doi . org / 10.23911 / Resumos _ Curso _ Coimbra _ Jan _ 2018
XXVIII Curso de Reabilitação e Traumatologia do Desporto Coimbra , 27 janeiro 2018
Organizadores : Prof . Doutor J . Páscoa Pinheiro , Dr . Pedro Lemos Pereira
Resumos : Parte 1
Dr . João Paulo Branco . Medicina Física e de Reabilitação . Coimbra
Espondilólise e espondilolisteses
Introdução . A espondilólise é um fenómeno que ocorre no pilar vertebral posterior , frequentemente referido como o elemento dinâmico . Apesar de variar a topografia , o istmo vertebral , a pars interarticularis , é a região mais afetada a nível de L5 ( quinta vértebra lombar , com 85 % a 90 % dos casos ) e L4 ( quarta vértebra lombar com 5 % a 15 %). A espondilólise pode surgir com listesis , espondilolisteses , condição mais comum nos casos sintomáticos , onde 25 % das espondilólises ocorre com instabilidade vertebral . A etiologia da espondilólise ístmica continua ainda desconhecida e a fratura de stress causada por excesso de carga decorrente da repetição do gesto técnico parece estar na origem desta patologia . A prevalência na população em geral estima-se entre 3 e 6 %, raramente em crianças com menos de 3 anos e frequente em adolescentes , os quais têm maior taxa de espondilólise ( 47 %) que os adultos ( 5 %). A prevalência não é superior em jovem atletas em relação aos não atletas . Há referência a predisposição familiar e étnica . A participação de jovens atletas em desportos que envolvam manobras de hiperextensão repetitiva e rotação da coluna lombar , tais como ginástica , luta livre e mergulho , parecem estar
desproporcionadamente associados a taxas mais elevadas de espondilólise . Nas lombalgias com 3 meses de evolução , mais de 40 % apresentam uma anormalidade ao nível do arco posterior . Clinicamente manifesta- -se com uma dor mecânica , referida à região lombar baixa , sendo frequente o sofrimento glúteo , mais atribuível à retração muscular que ao trajeto radicular . Agrava-se pela hiperextensão do ráquis , podendo não ser despertada pela palpação . A inspeção pode demonstrar a lordose lombar exagerada . A manobra de Laségue frequentemente reproduz o desconforto decorrente da retração dos músculos isquiotibiais , mais do que da radiculopatia , sendo de pouca utilidade no diagnóstico de espondilólise . O exame neurológico na maioria das vezes é normal . A progressão da patologia ocorre com maior frequência nos jovens atletas , associado com o regresso precoce à atividade desportiva . Alguns casos de espondilólise são achados radiológicos mantendo-se permanentemente assintomáticos . Exames complementares de diagnóstico . Nos atletas com mais de seis semanas de lombalgia e suspeita de espondilólise deverá ser efetuado um estudo radiológico lombar simples ântero-posterior , lateral e oblíquo . As incidências oblíquas deverão ser obtidas bilateralmente , permitem uma imagem mais nítida das estruturas ósseas posteriores em relação à incidência lateral , com a imagem típica do colar around the Scotty dog , revelando uma espondilólise estabilizada . Aproximadamente 85 % das lesões são visualizadas com esta incidência . A espondilolistese ou lise vertebral é classificada na radiografia de perfil , segundo o sistema Meyerding , em grau I , indicando < 25 %; grau II , 25 % a 50 %; grau III , 50 % para 75 %; e grau IV , 75 % a 100 %. A espondilolisteses grau IV raramente é observada . Os atletas com estudo radiológico negativo e com persistência sintomática deverão ser conduzidos a exames mais específicos , tais como a ressonância magnética nuclear ( RMN ), a cintigrafia e a tomografia computadorizada por emissão simples de fotões , mais conhecida pelo acrónimo SPECT ( Single Photon Emission Computed Tomography ) com tecnécio . A SPECT é apontada como o exame de imagem mais sensível para detetar uma lesão da pars interarticulares quando todos os outros são negativos . O papel da RMN para a deteção e / ou classificação da espondilólise continua por esclarecer . Tratamento conservador e cirúrgico . A maioria dos atletas com espondilólise responde favoravelmente ao tratamento conservador . Após tratamento médico , 80 % dos atletas apresenta alívio sintomático independentemente das alterações radiológicas existentes . A existência de espondilolisteses influencia o prognóstico , verificando-se que a ausência de deslizamento tem uma evolução mais favorável . Normalmente o tratamento conservador inclui um período de repouso , com total redução da atividade desportiva , seguido de reabilitação física . A permanência dos sintomas por um período superior a três meses implica o uso de ortótese . A utilidade de imobilização externa , a sua forma e tempo de aplicação são situações que permanecem pouco claras e não reúnem consenso perante os autores . Genericamente , a atividade competitiva é retomada com o atleta assintomático , independentemente da evidência de consolidação radiográfica . Há autores que consideram que um defeito não consolidado não impede o sucesso clínico e o retorno à actividade desportiva . A falência do tratamento conservador ao fim de seis meses é na maioria das situações indicação para tratamento cirúrgico . A existência de deficit neurológico relacionado com espondilolisteses , a lise progressiva e o grau III na classificação Meyerding são indicações para tratamento cirúrgico , independente da sintomatologia . A técnica cirúrgica mais comumente utilizada compreende a laminectomia descompressiva associada a vários métodos de fusão . Recentemente a artrodese para espondilolistese ístmica em pacientes adultos tem sido frequentemente relatada , mas os adolescentes atletas geralmente não são candidatos . O tempo apropriado para a retoma da atividade desportiva após tratamento cirúrgico é controverso e a maioria dos autores defende o regresso com o atleta assintomático , com níveis funcionais ( força , flexibilidade e resistência ) dentro dos parâmetros da normalidade e exame imagiológico com consolidação óssea . A infiltração na pars interarticulares com alívio da sintomatologia parece ser um preditor de prognóstico favorável independente do grau de espondilolisteses . Conclusão .
22 maio 2018 www . revdesportiva . pt