Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 22

médico dos clubes e tem baixa sensibilidade na deteção destas lesões, podendo falhar o diagnóstico em 50% dos casos, em especial nas fraturas sem desvio e nas fraturas da cartilagem costal. 4,5,9,10,12,13 Após a primeira avaliação médica e por suspeita de fratura, os jogadores realizaram radiografia da grade costal afetada. Estes exames foram analisados por um radiologista experiente e pelo médico do clube que não detetaram alterações. Por manutenção das queixas e elevado índice de suspeição de fra- tura, decidiu-se avaliar por ecografia as regiões afetadas, que mostrou alterações compatíveis com as fra- turas descritas. No caso da fratura da sétima cartilagem costal, este diagnóstico foi confirmado por TC. De facto, a ecografia apresenta uma sensibilidade superior à radiogra- fia convencional no diagnóstico de fraturas de costelas, 4,5,8-10,12-14 como reportado nos estudos de Griffith et al (90% e 15%, respetivamente) 15,16 e Rainer et al (80,3% e 23,7%, respeti- vamente). 16,17 É também um método não invasivo, sem radiação ioni- zante e amplamente disponível, 1,8-10 nomeadamente nos departamentos médicos dos clubes. 9 Na ecografia, as costelas devem ser avaliadas em planos ortogonais, paralela e perpendicularmente ao seu eixo longo. A cortical óssea superficial surge como uma linha hiperecogénica contínua e regu- lar. 1,5,9,10,14,15,18 A cartilagem costal surge menos hiperecogénica em comparação com o osso. 7,10,14,15 As frat uras aparecem como desconti- nuidade ou desvio da cortical óssea ou da cartilagem costal. 1,9,10,15,18 Mui- tas vezes identifica-se um artefacto de reverberação profundo à fratura, tornando mais fácil a identificação da lesão. Podem ainda estar asso- ciadas a hematoma hipoecogénico localizado, sufusão ou edema dos tecidos moles envolventes. 1,10,15,18 A evolução na fase de consolidação também pode ser acompanhada através da ecografia, que mostra um aumento na ecogenicidade no local da lesão, o que representa a formação de calo ósseo no local da fratura. 10,18 A presença de vascu- larização perifraturária, no estudo Doppler, constitui também um sinal de processo reparativo ósseo. 19 20 maio 2018 www.revdesportiva.pt Associado ao traumatismo torá- cico e à fratura de costelas podem ocorrer lesões dos órgãos intratorá- cicos, como por exemplo contusão pulmonar, hemotórax, pneumotó- rax, contusão do miocárdio e lesão vascular. 4,5,12,13 Também nestes casos, a ecografia é mais sensível do que a radiografia convencional. 8 Os trau- matismos com suspeita de compli- cações intratorácicas, insuficiência respiratória ou instabilidade hemodi- nâmica impõem estudo por TC. 5,12,13 Como desvantagens da ecografia, podemos apontar o tempo necessá- rio e a dor provocada para realiza- ção do exame 5 , a incapacidade na avaliação da porção retroescapular e infraclavicular (locais infrequen- tes de fratura) 13-15 e a limitação na avaliação de doentes obesos ou com grande volume mamário. 8-10,15 Apesar das recomendações do American College of Radiology classifi- carem a utilização da ecografia como grau 1 (usually not appropriate) no caso de trauma torácico minor 12 , sabemos que este método de imagem permite uma boa avaliação da cortical óssea e é sensível na identificação de fratu- ras de arcos costais. De referir que estas recomendações são definidas para a população geral e não para uma população específica, como os atletas profissionais. 12 Pela sua disponibilidade e ausência de efeitos secundários, a ecografia torna-se uma ferramenta útil e de fácil acesso para a avaliação imediata das lesões ósseas nos departamentos médicos dos clubes, em especial quando a cortical óssea tem uma localização superficial. 14 Na literatura é descrito que, no caso de trauma torácico minor, o diagnóstico final não condi- ciona alteração na abordagem nem tratamento, 5,12,15 uma vez que este é maioritariamente para controlo sin- tomático. 2,5,13 No entanto, ao nível do futebol profissional, o prognóstico e a previsão do tempo de retoma da ati- vidade desportiva tem uma implica- ção maior do que na população geral. O tratamento, frequentemente, inclui repouso e controlo da dor com anti-inflamatórios não esteroides, analgésicos e/ou relaxantes muscu- lares. O bloqueio do nervo intercos- tal com anestésico local é também uma alternativa no controlo dos sintomas. 2,5,10 O plano de reabilitação deve incluir mobilização articular (com atenção ao ombro/omoplata e parede torácica), reeducação motora, avaliação e correção do ritmo esca- pulotorácico, fortalecimento mus- cular e treino funcional dos gestos desportivos. O retorno à atividade desportiva é realizado de forma pro- gressiva e baseado em critérios clíni- cos, sem agravamentos das queixas nem limitação funcional. 2 Conclusão As fraturas de arco costal são lesões pouco frequentes no futebol, mas a sua incidência não deve ser negli- genciada. No futebol profissional o diagnóstico preciso da lesão é impor- tante. Tendo em conta que a ecografia é mais sensível do que a radiografia convencional e está mais disponível em alguns departamentos médicos dos clubes, deve ser incentivada a sua utilização como exame complemen- tar de diagnóstico de primeira linha. De facto, além das indicações tradi- cionais para o diagnóstico de lesões musculares, tendinosas e ligamen- tares, a ecografia permite uma boa avaliação da cortical óssea, pelo que deve ser tida em conta na avaliação de lesões ósseas no departamento médico dos clubes. O retorno à com- petição deve ser realizado com base em critérios clínicos. Bibliografia 1. Bortolotto C, Federici E, Draghi F, Bianchi S. Sonographic diagnosis of a radiographically occult displaced fracture of a costal cartilage. J Clin Ultrasound. 2017 Nov 12; 45(9):605-607. 2. McAdams TR, Deimel JF, Ferguson J, et al. Chondral Rib Fractures in Professional American Football: Two Cases and Current Practice Patterns Among NFL Team Physi- cians. Orthop J Sports Med. 2016 Feb 9; 4(2):2325967115627623. 3. Lopez V Jr, Ma R, Li X, et al. Costal Carti- lage Fractures and Disruptions in a Rugby Football Player. Clin J Sport Med. 2013 May; 23(3):232-4. 4. Tomas X, Facenda C, Vaz N, et al. 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