Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Página 17

no entanto adicionaram-se mais quatro artigos referidos da bibliogra- fia dos obtidos na pesquisa, pela per- tinência dos seus resultados e óbvia validade para a discussão do tema, totalizando um total de 33 artigos analisados. Discussão 1. Corticosteroides O mecanismo subjacente à eficá- cia anti-inflamatória dos CS em ambiente intra-articular está relacio- nado com o bloqueio da opsonização dos antigénios, adesão leucocitária e diapedese das citocinas do endo- télio capilar. Ao mesmo tempo, este potente anti-inflamatório diminui os efeitos da IL-1, reduz a libertação de leucotrienos e de prostaglandinas e inibe a ação das MMPs e da síntese de imunoglobulinas. 7 Os CS habitual- mente mais utilizados na terapêutica intra-articular são a triamcinolona, a betametasona e a metilpredniso- lona, habitualmente considerados de esteroides de ação média a longa. 8 A duração de ação do ponto de vista intra-articular é controversa e pouco taxativa, existindo estudos que apontam efeitos entre 1 a 24 semanas. Vários estudos têm sido levados a cabo nos últimos anos com o objetivo de comparar os CS intra- -articulares com injeção de ácido hialurónico, sugerindo um benefício quase imediato com esteroides, com duração média de aproximadamente uma semana, enquanto que o ácido hialurónico pode promover alívio do quadro álgic, mas habitualmente apenas após quatro semanas da intervenção. 9 A mais recente revisão sistemática da Cochrane, datada de 2015, incluiu 27 ensaios clínicos que investiga- vam os benefícios e efeitos laterais nocivos de injeções intra-articulares de CS vs placebo ou ausência de tratamento em doentes com OA do joelho, averiguando resultados em dor, função, qualidade de vida e segurança do procedimento. A aná- lise dos dados sugeriu benefício em dor e em otimização de função ao fim de uma semana após a injeção, no entanto o CS não demonstrou ser benéfico nesses outcomes após 2 a 3 semanas, em relação ao placebo. Ao mesmo tempo, não foi identificada evidência de efeitos laterais adver- sos importantes nem diminuição do espaço articular. 10 No entanto, os efeitos adversos das injeções intra-articulares de CS existem e são importantes. Em 1958, Chandler e Wright foram os primei- ros a descrever evidência radiográ- fica de destruição articular e lesão da cartilagem após várias injeções intra-articulares hidrocortisona na ausência de infecção. 7 Saxne, Heinegard e Wollheim observaram uma diminuição de proteoglicanos a nível do líquido sinovial em pacien- tes que realizaram várias injeções intra-articulares de CS, no entanto concluíram que a ação do fármaco na diminuição da produção de IL-1, TNF-a e proteases é mais benéfica, pois este efeito diminui a taxa ace- lerada de degradação da cartilagem articular. 11,12 Vários autores sugeri- ram diferentes intervalos de tempo entre intervenções, habitualmente considerando seguro intervalos de 6 a 12 semanas entre injeções, sendo relativamente consensuais na opi- nião de que não deverão ser realiza- dos estes procedimentos mais que 2 a 3 vezes por ano em articulações de carga. 8 2. Ácido hialurónico O Ácido Hialurónico (Hyaluronic Acid HA) é um glucosaminoglicano de alto peso molecular constituído por unidades repetidas de N-ace- tilglucosamina e de ácido glucoró- nico 13 . Encontra-se habitualmente presente na camada mais superficial da cartilagem humana e constitui o principal componente do líquido sinovial. 13 O peso molecular médio do HA do líquido sino vial de um indivíduo normal varia entre os 5 e os 7×10 6 Da. Num joelho com AO, o peso molecular do HA no líquido sinovial encontra-se diminuído na ordem dos 33-50%. 14 O pressuposto teórico da injeção intra-articular de HA ou viscossuplementação defende que esta intervenção melhora a elas- ticidade da cartilagem, otimiza a viscosidade do líquido sinovial e, consequentemente, obtém ganhos em termos de lubrificação e capaci- dade de absorção de choque/carga. 8 No entanto, até à data não existem dados francamente conclusivos e evidentes do seu mecanismo de ação, pelo que podemos afirmar que até a este momento esse mecanismo de ação ainda não é muito bem compreendido. A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou a viscossu- plementação para o tratamento da OA do joelho em 1997, “para o tra- tamento da dor na osteoartrose do joelho em doentes que não respon- deram adequadamente a terapêu- tica conservadora não farmacoló- gica e analgésicos simples, como o acetaminofeno”. Do ponto de vista mais específico, o American College of Rheumatology (ACR) desenvolveu em 2012 um conjunto de guidelines para a abordagem da OA do joelho, mão e anca, incluindo a viscossu- plementação na lista de terapêuti- cas avaliadas, sob o pressuposto de “recomendação condicionada” em doentes sem resposta adequada a modalidades terapêuticas não farmacológicas e paracetamol na dose máxima analgésica. O docu- mento concluiu que as injeções intra-articulares de HA comporta- vam várias vantagens em relação às outras opções terapêuticas, pois sendo uma intervenção local os seus efeitos sistémicos são minimizados e pode mesmo atrasar a necessidade de artroplastia. 15,16 Do ponto de vista de evidência científica para a sua utilização, têm sido levados a cabo vários estudos nesse contexto, com resultados pouco homogéneos. Em 2015 Ban- nuru et al. conduziram uma meta- -análise que reviu 137 estudos, com um total de 33.343 doentes com OA do joelho, comparando cada um desses estudos duas ou mais opções terapêuticas na abordagem da OA do joelho (paracetamol, diclofenac, naproxeno, celecoxib, CS intra-arti- cular, HA intra-articular, placebo oral e placebo intra-articular), do ponto de vista de dor, função e rigidez articular num seguimento de tres meses. Concluiram que, rela- tivamente ao efeito analgésico, o HA intra-articular foi o tratamento com maior benefício obteve; no que concerne á função, todas as inter- venções, exceto CS intra-articular, demonstraram benefício em relação ao placebo; em relação à diminui- ção da rigidez articular, nenhuma intervenção demonstrou benefício uma em relação à outra. A principal Revista de Medicina Desportiva informa maio 2018 · 15