Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 15
relevante na velocidade de condução
do nervo periférico. É uma técnica
amplamente utilizada, sobretudo no
tratamento e reabilitação das lesões
articulares e musculotendinosas,
não havendo evidência significativa
quanto à sua eficácia na prevenção.
A crioterapia dinâmica, particular-
mente a massagem mantida com
gelo, tem efeitos tróficos e hipere-
miantes utilizados na patologia de
evolução crónica.
• A iontoforese 27,28
A iontoforese é amplamente
utilizada no tratamento de lesões
do sistema musculoesquelético,
particularmente com aplicação de
fármacos anti-inflamatórios. Não
existem contraindicações formais
à sua utilização. A sua evidência no
tratamento da patologia condral
é moderada e pouco discutida na
criança e no adolescente. Não exis-
tem estudos que comprovem a sua
eficácia na prevenção de lesões.
Medidas farmacológicas
Os anti-inflamatórios não esteroi-
des (AINE’s) 29-32
Milhões de pessoas em todo o
Mundo consomem AINE’s, conside-
rando a sua eficácia na redução da
dor e no controlo da inflamação. Não
existem estudos sobre a sua eficácia
na prevenção de lesões cartilagíneas,
nem em adultos, nem em adoles-
centes. Contudo, em alguns estudos
ficou demonstrado o seu forte poder
anti-inflamatório e condroprotetor
em doentes com osteoartrose. A sua
utilização deve ser avaliada indi-
vidualmente, nomeadamente em
atletas. O potencial iatrogénico não
pode ser ignorado particularmente
neste grupo populacional.
Terapêuticas condroprotetivas
• A suplementação com glucosa-
mina 30,33-35
Alguns estudos demonstram que
a suplementação com sulfato de
glucosamina irá reduzir a taxa de
degradação do colagénio e o risco de
osteoartrose. A suplementação em
atletas é frequente considerando-se
que uma dose de 1500 a 3000 mg de
glucosamina por dia poderá atrasar
a degradação da articulação, sendo
que este efeito é mais evidente em
atletas que pratiquem desportos de
impacto elevado, nomeadamente em
desportos com elevado carga axial.
Atualmente, 27 estudos demonstram
uma redução da dor e dos sintomas
da osteoartrose aquando a toma
de sulfato de glucosamina. A dose
eficaz no adulto é de 1500 mg por
dia, per os. Contudo, no praticante
adolescente, pode ser utilizada “off-
-label” (geralmente após os 16 anos),
com doses entre 750 a 1500mg.
• A suplementação com condroi-
tina 36,37
Suplemento amplamente utilizado
em associação com a glucosamina
ou isolado para redução da sintoma-
tologia da patologia osteocondral. A
dose utilizada no adulto é de 500 a
1200mg por dia, via oral, não sendo
explicitamente aconselhada em
crianças. Contudo, uma vez que este
fármaco é muitas vezes associado à
glucosamina, pode ser usado off-label
em adolescentes após os 16 anos
com doses moderadas.
Ácido hialurónico e plasma rico em
plaquetas (PRP) 38-42
A viscossuplementação é ampla-
mente utilizada para melhorar a
função biomecânica articular e
reduzir a dor através das potenciais
propriedades terapêuticas física e
químicas das substâncias aplicadas.
O poder anti-inflamatório, cicatri-
cial e de lubrificação são alguns dos
pontos enunciados. Contudo, apesar
de amplamente estudados e com-
parados, a evidência é controversa e
muitas das vezes apenas moderada.
Além disso, apenas foi estudado em
articulações já com lesão evidente
(nomeadamente com osteoartrose)
e em população adulta. Não existem
recomendações para a sua utiliza-
ção em idade inferior aos 18 anos.
A utilização de PRP neste grupo de
praticantes, crianças e adolescentes
não tem evidência nem qualquer
tipo de recomendação. A sua utiliza-
ção off-label assume características
experimentais.
Outros suplementos
Neste grupo de atletas, nenhum
outro suplemento demonstrou evi-
dê ncia científica na terapêutica e na
prevenção de lesões da cartilagem,
pelo que não se recomenda o seu
uso.
Conclusão
A patologia da cartilagem é cada vez
mais frequente em crianças e ado-
lescentes, por diversos fatores. No
entanto, a investigação clínica desta
patologia, neste grupo populacional,
é muito limitada e habitualmente de
baixa evidência. As recomendações
terapêuticas existentes são contro-
versas, tanto no âmbito da terapêu-
tica conservadora como da cirúrgica.
Deste modo, a prevenção é indis-
pensável e, para isso, a educação do
atleta e dos diferentes agentes des-
portivos são elementos essenciais.
Os autores negam qualquer conflito de
interesse
Correspondência para
Alexandre Rebelo-Marques
[email protected]
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Restante Bibliografia em:
www.revdesportiva.pt (A Revista Online)
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