Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2018 | Page 20
Rev. Medicina Desportiva informa, 2018; 9(3):18-20. https://doi.org/10.23911/CC_Fratura_costelas_ecografia
Fratura dos Arcos Costais
no Futebol: Radiografia
Convencional vs. Ecografia
A Propósito de Dois Casos Clínicos
Dr. Diogo Rodrigues Gomes 1,2 , Dr. Sérgio Rodrigues Gomes 3,4,5 , Dr. Nuno Loureiro 2,5,6
1
Médico Interno de Formação Específica de Medicina Física e de Reabilitação – Hospital de Braga;
2
Departamento Médico – Futebol Clube Paços de Ferreira; 3 Médico Especialista em Radiologia – Clínica
SMIC; 4 Consultor de Imagiologia para o Departamento Médico – Futebol Clube Paços de Ferreira; 5 Clínica
do Dragão Espregueira Mendes Sports Centre – FIFA Medical Centre of Excellence; 6 Médico Especialista
em Medicina Desportiva e Medicina Física e de Reabilitação.
RESUMO / ABSTRACT
As lesões torácicas traumáticas são incomuns no futebol, o desporto mais popular em todo
o Mundo. Neste trabalho abordamos a escolha dos exames de imagem para o diagnóstico
de fratura de arcos costais em dois jogadores profissionais de futebol. Tradicionalmente, a
radiografia da grade costal afetada é o primeiro exame realizado, podendo falhar o diagnós-
tico em 50% dos casos. A ecografia apresenta uma sensibilidade superior à radiografia con-
vencional no diagnóstico destas lesões, não utiliza radiação ionizante e está amplamente
disponível. Deste modo, a sua utilização nos departamentos médicos dos clubes deve ser
incentivada como exame de primeira linha após trauma torácico minor.
Football is the most popular sport in the world and the traumatic chest injuries are rare. We present
two cases of blunt trauma to the chest wall in two professional football players. Plain chest radiog-
raphy is typically the first exam performed but can miss 50% of rib fractures. Ultrasound examina-
tion is known to be more sensitive than plain radiography, has no radiation exposure and is widely
available. We defend that, at club medical department, ultrasound should be the technique of choice
for an accurate and rapid diagnosis in a case of minor chest trauma.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Futebol, fratura de costela, ecografia musculosquelética
Football, rib fracture, MSK ultrasound
Introdução
O futebol é o desporto mais popu-
lar em todo o Mundo e as lesões
torácicas traumáticas ocorrem com
pouca frequência. Estas lesões, e
em particular as fraturas de coste-
las, são comuns nos desportos de
contacto, como o futebol americano,
o râguebi, mas também no surf. 1-3
As fraturas de arcos costais podem
ocorrer na parte óssea ou na carti-
lagínea. 2,4,5 Tipicamente, são lesões
de alta energia em resultado de um
traumatismo de impacto direto, que
resultam em dor importante e inca-
pacidade para a prática desportiva. 3,6
Nos casos de fratura de múltiplos
arcos costais pode associar-se insta-
bilidade da grade costal, com risco
de lesão de órgãos intratorácicos. 4
Estas lesões estão pouco descritas
na literatura, em particular quando
atingem a cartilagem costal e quando
associadas à prática de futebol. 2,3,7
18 maio 2018 www.revdesportiva.pt
Neste trabalho, destacamos a impor-
tância da escolha dos meios comple-
mentares de imagem para o diag-
nóstico de fratura de arcos costais
Figura 1 – Radiografia grade
costal esquerda
em dois jogadores profissionais de
futebol.
Caso clínico 1
Atleta do sexo masculino, 22 anos
de idade, 1,87m de altura e 75kg
de peso, jogador profissional de
futebol (defesa central). Sem ante-
cedentes patológicos de relevo. Teve
episódio de traumatismo direto na
região torácica anterior esquerda
por impacto de cotovelo do jogador
adversário, aquando da disputa de
bola aérea num jogo de futebol. Na
avaliação inicial, no terreno de jogo,
apresentava dor localizada na região
do traumatismo, com agravamento
à palpação, compressão torácica,
inspiração profunda e tosse. Apre-
sentava incapacidade funcional ime-
diata, com necessidade de retirada
do terreno de jogo e substituição.
Por suspeita de fratura costal foi
transportado ao hospital de referên-
cia. Ao exame objetivo, apresentava
auscultação pulmonar sem alte-
rações e saturação periférica de O 2
igual a 99%. Realizou radiografia da
grade costal esquerda (incidência de
face e oblíqua), a qual não mostrou
lesões agudas na análise por radiolo-
gista experiente (figura 1). Por man-
ter queixas álgicas bem localizadas,
com um alto grau de suspeição de
fratura de arco costal, realizou eco-
grafia musculosquelética (ecógrafo
Samsung UGEO PT60A com sonda
linear multifrequência 5-12MHz –
LN5-12) no departamento médico do
clube, que mostrou descontinuidade
e desvio do contorno superficial
da sétima cartilagem costal, em
relação com a zona álgica, achados
Figura 2 – Ecografia Figura 3 – TC com reconstru-
7.ª cartilagem costal ção 3D grade costal esquerda