Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2017 | Page 20

com creatina tem a capacidade de maximizar as reservas de glicogé- nio aquando de um carb loading 16 e mesmo com a ingestão de doses moderadas de hidratos de carbono. 17 Para além do efeito da creatina no aumento das reservas de glicogénio, o aumento dos níveis intramuscu- lares de creatina e de fosfocreatina resultantes desta suplementação 17-19 permitem maior utilização enquanto substrato energético, com especial preponderância em séries de con- tração muscular máxima. 20 Sendo o futebol um desporto que se carac- teriza por uma grande dependência da utilização de creatina, devido às inúmeras ações de elevada inten- sidade ocorridas durante uma só partida, a maximização das suas reservas poderá ter particular inte- resse. Quando considerados atletas de diferentes modalidades, vários são os trabalhos que demonstram um aumento da capacidade anaeró- bia aquando da suplementação com creatina 21-24 , particularmente em indivíduos do sexo masculino 25,26 , sendo que algumas investigações não encontraram efeitos significa- tivos. 27-29 No futebol, em particular, o efeito da suplementação com creatina foi já alvo de investigação, tendo um trabalho mostrado melho- rias significativas na performance em séries de sprints e na mitigação do decréscimo da performance na capacidade de impulsão. 30 Também em futebolistas de elite brasileiros se mostrou uma possível vantagem na impulsão no grupo suplementado com creatina, quando aplicada uma análise de inferência baseada na magnitude. 31 Para além do potencial ergogénico no que diz respeito ao rendimento desportivo, a creatina está geral- mente associada a desportos cujos atletas beneficiem de uma massa muscular considerável. O futebol não é exceção, particularmente em atletas cuja posição/estilo de jogo dependa muito do contacto físico. Vários são os ensaios clínicos que mostram um aumento da força e massa isenta de gordura aquando da suplementação de creatina. 32-34 No entanto, apenas em 2007, Cribb e os seus colaboradores conseguiram demonstrá-lo a nível celular e sub- celular, quando suplementaram um grupo de atletas com 0,1 g/kg/dia de 18 Maio 2017 www.revdesportiva.pt creatina, durante 10 semanas. 35 Para além do ganho de força e massa isenta de gordura, os atletas obti- veram maiores aumentos na área transversal das fibras musculares IIa e IIx, assim como um aumento das proteínas contráteis, quando compa- rados com os grupos não suplemen- tados (p<0,05). Um outro trabalho mostrou ainda um aumento signifi- cativo do fator de crescimento seme- lhante a insulina tipo 1 (IGF-1) no grupo suplementado com creatina 36 , fator reconhecido como crucial ao crescimento e desenvolvimento do músculo esquelético. 37 Qual, quanto, quando e como? O monoidrato de creatina é a forma mais comum de creatina, sendo a formulação utilizada na grande maioria dos ensaios clínicos. 38 Outras formulações têm vindo a ser desenvolvidas e testadas, com o intuito de melhorar a sua absorção e, consequentemente, potenciar os seus efeitos. No entanto, até à data, formulações como o hidrocloreto de creatina ou o monoidrato de crea- tina tamponado não mostraram ser superiores à sua versão “tradicio- nal”. 39 Refira-se a exceção de um tra- balho em que a suplementação com hidrocloreto de creatina aumentou significativamente a massa isenta de gordura e diminuiu a massa gorda, não tendo a versão monidratada atingido alterações estatisticamente significativas. 40 A micronização da creatina tem sido um processo mecânico utilizado pela indústria com o intuito de melhorar a absor- ção da creatina através do aumento da sua solubilidade em água, mas não há qualquer trabalho que mostre vantagem ao nível da sua absorção e/ou eficácia. Por norma, grande parte dos trabalhos utilizam um protocolo de suplementação que se caracteriza por duas fases temporais: fase de carga, na qual o objetivo é maximi- zar a concentração de creatina nas células musculares, e fase de manu- tenção, que tem como objetivo a manutenção destes valores. Na fase de carga, utiliza-se habitualmente uma dose diária a rondar os 20-25g, divididos em 4 tomas, durante 5-7 dias; posteriormente, na fase de manutenção, a dose diária ronda os 3-5g, numa só toma. 41-43 Há, no entanto, uma alternativa protocolar, na qual se opta por utilizar doses baixas de creatina (3-5 gramas) sem uma fase de carga prévia, uma vez que está descrito que uma toma de 3 gramas diários, durante 4 semanas, satura as células musculares da mesma forma que 20 gramas diários durante 6 dias. 3 Relativamente ao timing da suple- mentação com creatina, é sabido que o período peri-treino permite uma absorção e um armazenamento intramuscular de maior magnitude, quando comparado a outros perío- dos do dia. 35 O momento pós-treino parece ter alguma vantagem rela- tivamente ao pré-treino, tendo um trabalho recente mostrado maior força e melhor composição corpo- ral com este protocolo, mas níveis musculares de creatina não foram estudados. 44 De forma a maximizar a retenção de creatina, a ingestão de hidratos de carbono parece ser crucial 45 , sendo que a adição de proteína tem também esta capacidade potencia- dora. 46 A estimulação insulínica por parte destes macronutrientes poderá ser o fator responsável por esta maior retenção. 45-47 Os mitos da desidratação e das cãibras Desde o final do século XX que a imprensa tem dado espaço a notícias sobre os efeitos adversos da suple- mentação com creatina, tendo como base opiniões e relatos isolados de efeitos adversos. Um dos efeitos mais explorados tem sido a potencial desi- dratação e concomitante aumento da incidência de cãibras nos atletas que suplementam com creatina, particularmente em exercícios prati- cados a elevadas temperaturas. Estas alegações baseiam-se na premissa de que a creatina é uma substância osmoticamente ativa e conduz a água para o interior das células, não havendo tanta disponibilidade de água extracelular para a termorre- gulação. 48 No entanto, até à data, nenhum trabalho que substanciasse tais alegações foi publicado numa revista peer reviewed. 49 Os ensaios clínicos em ambientes quentes e/ou húmidos não encontraram qualquer efeito negativo da suplementação com creatina na desidratação 50-52 , temperatura corporal 50,52-54 , ou mesmo frequência cardíaca. 50,52 Alguns deles encontraram, inclusive, um efeito positivo em alguns destes parâmetros. 51-53 Conclusão Para além do seu efeito ergogénico no que diz respeito ao exercício em anaerobiose, a suplementação com creatina tem a capacidade de pro- mover o ganho de massa magra e a força muscular, não só devido a um aumento da água intramuscular, mas também induzindo fatores estimula- dores da hipertrofia. Uma dose diária de 3-5 gramas parecer ser o sufi- ciente para maximizar as reservas celulares, sendo que a toma é mais eficaz na presença de hidratos de carbono e/ou proteína devido ao seu efeito insulinotrópico. Os momentos peri-treino parecem trazer alguma vantagem relativamente à absorção de creatina quando comparados com os restantes períodos diários. A vasta evidência científica em torno da creatina indica que a suplementação é segura em indivíduos saudáveis. Os resultados da vasta investigação relativa à suplementação com crea- tina, particularmente na sua forma monoidratada, justificam a sua utili- zação em futebolistas, com o intuito de aumentar o seu rendimento, força e/ou massa muscular. Bibliografia 1. Sousa, M., Fernandes, M. J., Moreira, P., Teixeira, V. H.. Nutritional Supplements Usage by Portuguese Athletes. Int J Vitam Nutr Res. 2015: 83,48-58. 2. Mason, B. C., Lavallee, M. E.. Emerging Sup- plements in Sports. Sports Health. 2012 Mar: 4(2),142–146. 3. 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Creatine but not betaine supplementation increases muscle phosphorylcreatine content and strength performance. Amino Acids. 2012 Jun:42(6),2299-305. Um relvado em casa? Já imaginou este espetacular relvado sintético em sua casa? Precisa de argumentos para se render à ideia? Para que não haja hesitação nós apresentamos-lhe alguns: • muito semelhante ao relvado natural • fácil e económica manutenção • grande durabilidade Convencido? Encomende já o seu e sinta-se a viver em plena harmonia com a natureza! Tel./Fax: 256 575 608 | Tlm: 969 056 408 www.etsport.com Restante Bibliografia em: www.revdesportiva.pt (A Revista Online) Revista de Medicina Desportiva informa Maio 2017 · 19