Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2016 | Page 25
Investigação
Rev. Medicina Desportiva informa, 2016, 7 (3), pp. 23–26
Lesão Desportiva em Jovens
Judocas de Alto Nível
Competitivo – Estudo
Epidemiológico
Dr. Marcos Carvalho1, Dr. Vítor Pinheiro1, Dr. André Pinto1, Dr. Miguel Nascimento1, Dr. João Pedro
Oliveira2, Prof. Dr. Fernando Fonseca3
1
Médico Interno Complementar de Ortopedia e Traumatologia do CHUC; 2Assistente Hospitalar de
Ortopedia e Traumatologia do CHUC; 3Diretor do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do CHUC. Coimbra.
RESUMO / ABSTRACT
O judo é um desporto de combate frequentemente associado à ocorrência de lesões. Este
trabalho pretende definir o perfil epidemiológico das lesões de uma população de jovens
judocas de alto nível competitivo, presentes em competições internacionais durante o
ano de 2014. Foi elaborado um questionário que incidiu nas características intrínsecas do
atleta, metodologia de treino e, quando presente, na caracterização da lesão desportiva e
conduta terapêutica, tendo-se para o efeito inquirido 212 atletas e identificado 347 lesões.
Judo is a combat sport frequently associated with muscle-skeletal injury. In this paper, we intend to
define the epidemiological profile of such injuries in a population of high competition-level young judokas, who participated in international tournaments in 2014. A questionnaire was drawn up, focusing
on the athletes’ intrinsic characteristics, training methodology and, when applic able, injury characterization and therapeutic approach. A total of 212 athletes participated, accounting for 347 injuries.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Judo, lesão desportiva, traumatologia desportiva
Judo, sports injury, sports traumatology
Introdução
O judo é um desporto de combate
de origem japonesa criado em 1882,
que reúne um elevado número
de técnicas e princípios filosóficos fundadores. A necessidade de
integração destes princípios com a
disponibilidade motora e coordenação necessárias à sua prática fazem
desta modalidade, uma atividade
extremamente completa para o
desenvolvimento músculoesquelético e aquisição de competências
psicossocio-organizacionais.
Dado o elevado número de jovens
praticantes e a exigência de contacto físico, o judo é frequentemente
referido como potenciador de lesões
micro e macrotraumáticas, já que
implica uma enorme explosividade
de movimentos, contacto direto, quedas e repetição de gestos técnicos de
elevada destreza e intensidade.
Este trabalho pretende contribuir
para a caraterização dos padrões
de lesão mais comuns em jovens
judocas de alto nível competitivo,
possibilitando o alargamento do
conhecimento e discussão, no sentido de estabelecer medidas preventivas de ocorrência/recorrência de
lesão no futuro.
Métodos
Procedeu-se a um estudo retrospetivo, epidemiológico e de prevalência
com nível de evidência grau IV. O
trabalho consistiu na realização de
um questionário individual a atletas
de judo de alto nível competitivo,
presentes em competições internacionais durante o ano de 2014. Foram
considerados como critérios de
inclusão: atletas do escalão cadete
ou júnior e a presença em competições internacionais durante o ano
de 2014 (Taça da Europa de Cadetes
e/ou Taça da Europa de Juniores). O
questionário, elaborado e aplicado
por uma equipa de médicos, incidiu nas caraterísticas intrínsecas
do atleta, metodologia de treino e,
quando presente, na caracterização da lesão desportiva e conduta
terapêutica. Definiu-se “lesão de grau
ligeiro” (sem afastamento de treino
ou competição), “moderado” (com
afastamento de um treino e/ou competição) e “grave” (com afastamento
maior do que um dia de treino e/ou
competição)1-3. O estudo foi aprovado
pela Comissão de Ética da Faculdade
de Medicina da Universidade de
Coimbra e todos os atletas assinaram o Formulário de Informação e
Consentimento Informado.
Resultados
A amostra foi constituída por 212
atletas, 106 inquiridos na Taça da
Europa de Cadetes e 106 na Taça da
Europa de Juniores, identificando-se
118 atletas cadetes e 94 juniores. A
idade média dos atletas foi 16,8±1,5
anos com predomínio do género
masculino [68,4%] (Tabela 1). Relativamente aos atletas inquiridos,
verificou-se a seguinte distribuição
por países: Portugal [n=112], Alemanha [n= 6], Áustria [n= 6], Azerbaijão
[n= 1], Canadá [n= 9], Chipre [n= 2],
Dinamarca [n= 18], Escócia [n= 1],
Eslovénia [n= 2], Espanha [n= 28],
Inglaterra [n= 11], Israel [n= 4], Itália
[n= 12].
As categorias de peso mais frequentes foram – 60, – 66 e – 73Kg no
género masculino e – 57, – 63 e – 70Kg
no género feminino. Verificou-se que
205 atletas competem em categorias
com limite de peso, sendo que 127
[61,95%] têm um peso real acima do
peso da sua categoria. A média de
anos de prática da modalidade foi de
9,7±3,1 [1-16], o número de treinos de
judo por semana de 5,5±1,9 [2-11] e
o número de horas de treino de judo
por dia de 2,57±0,9 [1-6]. Todos os
atletas realizavam aquecimento, com
duração média de 23,3±8.8 minutos
[10-60] e 12,7% referiram não fazer
exercícios de alongamento. O treino
de musculação foi referido por 64,6%
dos inquiridos, com uma média de
2,83±1,34 treinos/semana (Tabela 1).
Identificaram-se 347 lesões,
sendo que 17% dos atletas negaram
qualquer lesão em relação com a
modalidade. A média de lesões por
atleta foi de 1,97 (Tabela1). A maioria
das lesões [71,2%] ocorreu durante
o treino, das quais 61,9% durante o
período pré-competitivo. Verificou-se
um maior número de lesões durante
a luta em pé [87,6%], das quais
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