Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2016 | Page 4
Rev. Medicina Desportiva informa, 2016, 7 (1), pp. 2
Entrevista
Prof. Doutor
José Neto
Instituto Superior
da Maia. Instrutor
da UEFA. Paços de
Ferreira.
Embora seja da área da
educação física, o Professor
tem-se dedicado muito à
Medicina Desportiva (MD).
Porquê este encanto?
Foi sempre uma questão de
paixão o estudo das causas que
podem suportar a evidência para
a excelência no rendimento desportivo. Na minha universidade
da vida (F C Porto) iniciei a introdução da observação e avaliação
do jogo de futebol em Portugal,
através do sempre presente Sr.
Pedroto (1982): “olha para o jogo
e ele te dirá como deves treinar”, e
depois pelo treinador Artur. Houve
uma série de patologias graves com
necessidade de intervenção cirúrgica.
Dado que não havia ninguém para
apoio na reabilitação e dada a minha
formação académica do 1.º curso
de Ed. Física na U. Porto (1976/81),
por sugestão do treinador e indicação do Dr. Domingos Gomes, passei
a exercer esta ponte de excelente
relação de atributos na qualidade
de metodólogo de treino específico
responsável pela reabilitação pré-competitiva. Recordo que foi a forma
mais extraordinária de colocar em
prática um conteúdo de matérias
assimiladas na Faculdade no âmbito
da traumatologia, anatomia, fisiologia e que nunca como tal tinham
sido tratadas de forma tão séria, para
uma aplicação tão necessária, como
profícua, em lesões de alto risco. A
recompensa foi a verificação que
esses atletas de nível internacional,
após sujeitos ao processo de recuperação, não terem tido recidivas
após a inserção no grupo normal de
trabalho, acabando alguns deles por
melhorar as suas prestações. Depois,
fui procurado para realizar estas
funções com atletas de outros clubes
e de nível internacional.
... a sua ligação, interaçã o com a
classe médica tem sido importante
para si e vice-versa ...
Sem dúvida que essa ligação com
a classe médica, pela fidalguia de
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trato e respeitabilidade assumida,
foi das marcas mais nobres que
sempre orientou a minha vida
profissional. A honra de ter privado
com valores de excelência técnica,
científica e humana jamais se apagará da minha memória. De muitos
nomes, gostaria de exaltar os Drs.
Espregueira-Mendes, Domingos
Gomes, Mário Beça, Basil Ribeiro,
Manuel Conceição, Leandro Massada, Fernando Póvoas, Carlos Rio,
Romeu Barbosa, Novais de Carvalho, Henrique Jones, Paulo Amado,
Camacho Vieira, Ovídio Costa e, mais
recentemente, os Drs. João Espregueira Mendes, Nelson Puga, Nuno
Loureiro e José Carlos Noronha, sem
esquecer massagistas e fisioterapeutas que muitíssimo contribuíram
para os processos de êxito, tais como
Vítor Hugo (já saudade), Diamantino
Moura, José Luís, Rodolfo Moura,
Joaquim Tedim, José Mário Almeida,
Luís Miranda e Fernando Doellinguer. Fica o registo, porventura com
desculpa de um ou outro nome não
ter sido referido, mas a minha gratidão sempre será evocada.
Com muita dificuldade, mas igual
tenacidade, realiza anualmente
umas jornadas de MD em Paços de
Ferreira. Como têm corrido?
Desta relação de estima ficou-me o
desejo de tributar a minha terra com
a organização de Jornadas Médico-Desportivas, tendo sido este ano a
13.ª edição. É com alguma facilidade
que realizo o evento, dada a extraordinária relação de afeto com a classe
médica convidada e até tenho tido
dificuldade em inserir todos os que
alegre e positivamente aceitam o
convite em participar. Tenho obtido
apoio constante da Associação
Empresarial, da Câmara Municipal
e de empresas locais. A participação
exterior contempla sempre mais
do que 90% do total de inscritos,
enquanto a participação dos clubes e
órgãos associativos, bombeiros, Cruz
Vermelha da minha terra é quase
sempre reduzida. Sabendo da importância do exercício e da atividade
física para a prevenção, manutenção
e recuperação da boa saúde, continuarei a promover este tipo de ações
para que a gente da minha terra, e
não só, possa encontrar uma forma
de se consciencializar na apologia de
uma vida mais saudável através da
prática do exercício e do desporto.
Uma das suas principais áreas de
intervenção é a psicologia. O atleta
precisa mesmo de um psicólogo?
De facto, tem sido uma das áreas da
minha intervenção na vida académica, na formação de treinadores,
etc. A partir de um determinado
momento fui verificando que apesar do atleta se encontrar física,
biológica e tecnicamente em forma
nem sempre obtinha o sucesso
esperado. Efetuei o 1.º Mestrado em
Portugal de Psicologia Desportiva (U.
Minho 1994/97) e fui investigando
algumas componentes associadas
para o rendimento de excelência ao
nível da motivação, autoconfiança,
autoestima, atenção e concentração,
estresse e ansiedade, liderança, coesão, e fui reinserindo na metodologia
de treino algumas destas componentes, cujos resultados me têm até
surpreendido, dada a elevada eficácia.
Após mais de 6 anos de estudos e de
aplicabilidade, elaborei uma tese de
doutoramento (2011). Como metodólogo de treino, entendo que esta
temática da psicologia aplicada é
uma ferramenta determinante para
o sucesso de qualquer jogador e ou
equipa. No que se refere aos aspetos
psicológicos e ás lesões, no dia 15/04
publiquei, através da Prime Books,
o livro “Lesões – o pior inimigo dos
futebolistas”, onde se referem fatores
psicológicos associados à prevenção
e recuperação de lesões desportivas,
assim como a avaliação e o diagnóstico psicológico das lesões desportivas
e estratégias de acompanhamento
físico e acompanhamento psicológico
de atletas lesionados.
Tem escrito muitos livros e depois,
generosamente, atribui as receitas
a instituições…
Aqueles que tanto aqueceram meu
corpo, beijaram meu rosto e vigiaram
meus passos, os meus saudosos avozinhos que me criaram para a vida,
sempre me disseram: “dá a quem
tanto precisa o que porventura também te poderá fazer falta”, que tudo
receberás como recompensa. Procurei em duas publicações ajudar quem
mais precisava. A edição do livro
“Exercício e Atividade Física – Pa(ss)os
para a Saúde” , foi doada ao “Coração da cidade”, à “Abraço”, à obra do
“Padre Américo de Paços de Sousa”
e a obras sociais de apoio aos velhinhos de Paços de Ferreira. O livro “Os
meus Contos de Natal”, editado pela
Tribuna, também foi doado a uma
Associação de crianças sofridas.