Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2012 | Page 26

como os sintomas que caraterizam estes doentes e que requerem abordagens específicas .
O treino de força na reabilitação respiratória
No planeamento do treino físico do doente respiratório crónico desenvolvem-se estratégias específicas , como sejam o treino intervalado , o treino de força , a estimulação elétrica neuromuscular , a oxigenoterapia e a ventilação mecânica não invasiva durante as sessões 12 , 14 – 28 .
Existem evidências crescentes sobre os benefícios do treino de força , o qual , ao permitir o aumento da força e da massa muscular , otimiza a capacidade de exercício , melhora o estado de saúde específico da doença ( DPOC ), a qualidade de vida relacionada com a saúde e , provavelmente , tem um impacto positivo no desempenho das tarefas quotidianas 1 , 2 , 10 , 17 , 20 , 26 .
Spruit et al 20 estudaram os efeitos de um programa de treino de força comparativamente a um treino aeróbio em doentes com DPOC grave e muito grave e fraqueza dos músculos periféricos durante 12 semanas . O treino de força consistiu em 3 séries de 8 repetições a 70 % da 1RM ( uma repetição máxima ), aumentando-se a carga em 5 % por semana . O programa de treino aeróbio era realizado em cicloergómetro ( iniciou-se com 30 % da carga máxima e incrementou-se a intensidade com base nos sintomas até 75 % da carga máxima durante 25 minutos ) ou em tapete rolante ( 60 % da velocidade encontrada na prova de marcha de 6 minutos ). O programa de treino
resistido resultou em melhoria significativa da força dos músculos periféricos , da capacidade de exercício e da qualidade de vida relacionada com a saúde .
Num estudo de Mador et al 21 foram incluídos , aleatoriamente , 24 doentes com DPOC grave num grupo de treino aeróbio ( n = 13 ) e num grupo de treino combinado aeróbio e de força ( n = 11 ), para avaliar os benefícios adicionais do treino de força . O treino de força era realizado em sessões com frequência trissemanal , progredindo de uma fase inicial com uma série de 10 repetições a 60 % da 1RM para cada um dos 4 exercícios propostos para 3 séries de 10 repetições com a mesma intensidade . Os resultados deste estudo demonstraram melhoria significativa da força muscular periférica no grupo de treino combinado comparativamente ao grupo do treino aeróbio . O treino de força surge , assim , como uma modalidade complementar ao exercício aeróbio , contrariando a fraqueza muscular periférica que carateriza estes doentes . Dado que a maioria dos doentes é idosos , reconhecem-se , igualmente , vantagens na densidade mineral óssea , na prevenção de quedas e benefícios metabólicos 12 , 15 .
Bernard et al 22 estudaram os benefícios de um programa de treino de força como complemento do treino aeróbio tradicional em cicloergómetro em indivíduos com DPOC grave e muito grave . Foram incluídos 15 doentes num programa de treino aeróbio e 21 num de treino combinado durante 12 semanas . O treino aeróbio apresentou o mesmo desenho nos dois grupos ( sessões com duração de 30 minutos , frequência trissemanal , com intensidade de 80 % da carga máxima ). No grupo de treino combinado , o esquema incluía 2 séries de 8 – 10 repetições , com intensidade de 60 % da 1RM , progredindo progressivamente para
3 séries de 10 repetições a 80 % da 1RM . Os doentes submetidos ao programa de treino combinado mostraram um aumento significativo da área transversal da coxa relativamente ao grupo de treino aeróbio , no qual não se obteve aumento significativo , um aumento da força do quadricípite e do músculo grande peitoral significativamente maior do que o obtido pelo grupo de treino aeróbio . Os autores demonstraram que os músculos periféricos dos indivíduos com DPOC podem sofrer adaptações estruturais e funcionais com o treino de força quando o estímulo é adequado . Concluíram , igualmente , que o treino de força é acompanhado de níveis inferiores de dispneia , sendo por isso melhor tolerado . Por outro lado , contribuiu para diversificar o treino e , desta forma , manter os doentes interessados e motivados . De facto , o treino de força , ao incidir em grupos musculares mais pequenos do que o treino aeróbio , permite intensidades de treino mais elevadas , desencadeando menor dispneia 2 , 20 .
Tipo e prescrição do treino de força
Não há um consenso relativamente à melhor forma de treinar a força muscular num programa de reabilitação respiratória . Extrapolações de programas de treino usados para desenvolver força , potência e endurance muscular em indivíduos idosos sem patologia foram aplicadas por diversos autores com a finalidade de aumentar a força e a massa muscular em indivíduos com doença pulmonar 38-41 . Os seus resultados positivos , tanto na eficácia do treino , como na segurança para o doente , originaram boas linhas orientadoras para o desenho de treino de força muscular dinâmica nesta população 1 , 2 , 42 – 46 . Da mesma forma , o Colégio Americano de Medicina Desportiva defende que para a população de doentes respiratórios , nomeadamente com asma controlada e com DPOC ligeira , devem ser seguidos os mesmos métodos usados para adultos saudáveis , enquanto para a população de doentes com DPOC moderada a grave devem ser os usados para os idosos saudáveis 47 , 48 , 49 . Assim , e de acordo com as linhas
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