Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2012 | Page 22

da espasticidade3,4. Os estudos mais recentes vieram contrapor um pouco esta ideia, evidenciando uma relação positiva entre o ganho de força muscular e a melhoria do desempenho funcional5,6,7,8. A força muscular é definida como a capacidade de o músculo produzir tensão suficiente para provocar movimento ou manter a postura, sendo o resultado de propriedades músculo-esqueléticas e de ativação neuronal (número e tipo de unidades motoras recrutadas e a frequência de ativação)4. Em indivíduos com lesão cerebral foi identificado, em diferentes estudos, défice de força e de resistência muscular decorrente de várias alterações fisiológicas, nomeadamente caraterísticas neurofisiológicas relacionadas com o comportamento de ativação neuronal, traduzidas por diferenças significativas entre o recrutamento de unidades motoras no membro afetado comparativamente ao membro não afetado, indicando a incapacidade do sistema nervoso central em modular a frequência de ativação da UM9,10, tendo como consequência a atrofia seletiva das fibras musculares do tipo I e II como efeitos da fraqueza muscular prolongada. Quando comparado com indivíduos sem lesão cerebral, os défices maiores encontraram-se do lado afetado. No entanto, existe uma certa resistência em se utilizarem programas de treino que envolvam fortalecimento muscular, devido ao receio de puder aumentar o padrão espástico, caraterístico desta patologia11. Os défices de força muscular são responsáveis por alterações funcionais importantes, tais como a deambulação, a realização das atividades de vida diária, podendo comprometer a sua independência. Quando se faz a comparação com indivíduos normais da mesma faixa etária, os doentes com quadro de hemiplegia/ parésia apresentam limitações da performance funcional e, quando submetidos a programas de treino específico, respondem bem aos programas que utilizam o fortalecimento muscular e o treino aeróbio12. Idealmente deveriam existir programas de reabilitação que potenciassem, não só a funcionalidade do individuo, bem como a atividade e a participação do mesmo no meio 20 · Maio 2012 www.revdesportiva.pt onde se encontra inserido13. O presente estudo tem como principal objetivo a revisão bibliográfica sobre o efeito do treino de força muscular na funcionalidade e na espasticidade em indivíduos que sofreram AVC com sequelas motoras. Material e Métodos Foi realizada uma pesquisa na base de dados da biblioteca virtual MEDLINE no período entre 2006 e 2011, utilizando como palavras-chave: “stroke”, “muscle strength”. Foram utilizados resumos e artigos completos, bem como a análise adicional de referências na literatura específica do tema. Como critério de inclusão foram selecionados os artigos que abordavam o treino de força muscular em indivíduos com quadro sequelar de AVC. Resultados Ver tabela Discussão Embora documentada em várias fontes bibliográficas a contraindicação do treino de força em doentes com espasticidade, alguns autores investigaram os efeitos do treino de força muscular sobre a espasticidade e a funcionalidade. Esses mesmos autores evidenciaram que este tipo de treino traria melhoras da força dos músculos treinados, sem implicar o aumento de espasticidade e sugerindo a relação positiva entre o ganho de força muscular e a função motora. O défice na independência funcional encontra-se diretamente ligado a um conjunto de fatores que dificultam o controlo motor, nomeadamente: fraqueza muscular, incoordenação dos músculos sinergistas, rigidez, entre outros. A fraqueza muscular apresenta-se, assim, como fator importante em relação aos défices da performance funcional na marcha e na independência em doentes com AVC. O estudo de Sullivan et al de 2006 verificou a melhoria na força dos membros inferiores e da velocidade da marcha após o treino de marcha em tapete rolante com suporte parcial do peso corporal alternado com cicloergómetro dos membros inferiores. Os autores relacionaram a recuperação funcional da marcha com o aumento da amplitude do grande glúteo e da ativação do glúteo médio, pela melhoria da unidade de ativação motora associada ao aumento de força dos músculos chave na marcha. No estudo de Sullivan et al de 2007 também foi utilizado o treino de marcha com suporte parcial do peso corporal e foi associado treino cruzado em tapete rolante, cicloergómetro de membros inferiores e membros superiores, e de exercícios resistidos dos membros inferiores, verificando-se que os melhores resultados foram nos grupos que utilizaram a associação treino de marcha e cicloergómetro dos membros superiores, tendo sido sugerido que a associação treino de marcha e cicloergómetro dos membros inferiores gerou sobrecarga, sem adição benéfica à marcha. O estudo de Combs et al (2007) também utilizou o treino de marcha com suporte parcial do peso corporal e fortalecimento muscular dos membros inferiores com atividades isocinéticas e isotónicas, tendo como resultado a melhoria de todas as variáveis mensuradas mas, contudo, o estudo foi limitado a apenas um sujeito e os autores sugeriram novos estudos com amostra de maiores dimensões para definição de protocolos. Ns estudos de Cramp et al e Yang et al, a maior ênfase foi dada ao fortalecimento muscular e todos obtiveram melhoria funcional. Nos estudos de Chang et al e Patten et al a intervenção foi a nível dos membros superiores, tendo Chang et al