Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2012 | Page 18

estratificação do risco / gravidade da doença cardiovascular , a capacidade funcional prévia , a terapêutica farmacológica e as comorbilidades que afetem a prática do exercício , bem como os objetivos pessoais e preferências do doente 2 , 9 . Essa avaliação poderá envolver a realização do eletrocardiograma ( ECG ), da prova de esforço limitada por sintomas e do ecocardiograma , meios geralmente disponíveis nos centros de reabilitação cardíaca 8 . O treino deve ser iniciado após decisão médica , sob supervisão e com períodos de monitorização ( parâmetros HD e ECG ) de acordo com a estratificação do risco por guidelines existentes 8 .
Na Tabela 1 estão descritos alguns critérios necessários para incluir o TF num PRC . É adicionalmente defendido por outros autores que os pacientes tenham capacidade funcional prévia superior a 5 – 6 METs e ausência de sinais ou sintomas de isquemia miocárdica 1 .
TABELA 1 – Critérios para iniciar o programa de treino de força * propostos nas guidelines da AACVPR 8
Mínimo de 5 semanas após EAM ou cirurgia cardíaca , incluindo período de 4 semanas de participação consistente num programa de treino aeróbio supervisionado
Mínimo de 3 semanas após revascularização coronária percutânea , incluindo período de 2 semanas de participação consistente num programa de treino aeróbio supervisionado
Sem evidência de qualquer uma das seguintes condições :
• Insuficiência cardíaca congestiva
• Disritmias não controladas
• Doença valvular severa
• Hipertensão não controlada
• Sintomas de instabilidade clínica
* definido para intensidades iguais ou superiores a 50 % de 1RM ; AACVPR – American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation
TABELA 2 – Contraindicações absolutas para programa de treino de força
Adaptado de Williams M , et al ., 2007 2
Doença coronária instável Insuficiência cardíaca descompensada Arritmias não controladas Hipertensão pulmonar severa ( pressão arterial pulmonar > 55 mmHg ) Estenose aórtica severa e sintomática Miocardite , pericardite , endocardite agudas Hipertensão não controlada (> 180 / 110 mmHg ) Disseção aórtica Síndroma de Marfan TF de elevada intensidade ( 80 a 100 % de 1RM ) em pacientes com retinopatia proliferativa diabética ativa ou agravamento de retinopatia não proliferativa
O método mais usado é 1 Repetição Máxima ( 1RM ), correspondendo à carga máxima que pode ser levantada uma só vez . Em alternativa pode ser usado um número de repetições gradual para estabelecer o nível de intensidade do treino , o qual é mais adequado , por exemplo , em pacientes com Insuficiência Cardíaca ( IC ) 2 , 8 , 25 .
TABELA 3 – Recomendações para a realização do treino de resistência muscular .
Adapt . de Williams M et al ., 2007 2 ; AACVPR guidelines 8 O Treino de Resistência deve ser realizado :
De forma rítmica e a velocidade controlada ( lenta a moderada )
Utilizando toda a amplitude articular disponível , evitando a manobra de Valsalva , devendo o doente ser instruído para manter a respiração controlada , expirando quando realiza esforço
Trabalhando inicialmente grandes grupos musculares , a alternar exercícios dos membros superiores e membros inferiores , com período de repouso ativo ; períodos de repouso entre exercícios devem ser minimizados , conforme tolerado , para maximizar a endurance muscular
A TA deve ser medida no início e imediatamente a seguir a cada sessão e a perceção do esforço ( escala de Borg ) registada durante o exercício ( 11 a 13 como valor ideal )
Descontinuar o treino se vertigens , dispneia , angor ou arritmias
Qualquer programa terá de ser adaptado individualmente , iniciado após formulação de objetivos de acordo com as limitações fisiológicas e expetativas do doente 5 . Os princípios gerais para a sua implementação estão sumarizados na Tabela 3 e para a sua progressão na Figura 1 .
Figura 1 – Progressão do treino de Resistência Muscular em doentes cardíacos .
Numa 1 .ª fase é importante fomentar a correta perceção dos exercícios , a coordenação e a técnica , aumentando confiança , de forma a progredir na intensidade do treino ( consoante a escala de Borg ), visando ganhos de massa muscular 25 . Aconselha-se o aumento inicial de número de repetições .
As variáveis da prescrição ( série , repetições , resistência e frequência ) diferem dependendo da fonte . Os parâmetros propostos pelas principais guidelines são apresentados na Tabela 4 . São criticadas por alguns autores pela padronização demasiado restritiva da prescrição , não considerando idade , sexo , nível prévio de forma física , o que pode conduzir à eliminação do efeito de treino 4 .
Situações especiais
Os mesmos autores apresentam uma abordagem alternativa para os pacientes pós EAM , cirurgia cardíaca
Na ausência de contraindicações ( Tabela 2 ), o início da Fase II do PRC pode abranger exercícios resistidos com bandas elásticas , pesos livres ( 0,5 a 2 Kg ) e bolas medicinais , estímulos que acarretam sobrecarga mínima sobre o miocárdio 8 . Os pacientes selecionados para TF de maior intensidade deverão ser submetidos a uma avaliação da FM realizada com monitorização de FC , TA , ECG e perceção individual do esforço ( através da escala de Borg ) 1 , 2 .
TABELA 4 – Guidelines para o treino de resistência muscular em doentes cardíacos . Adaptado de Williams M et al ., 2007 2
Treino de resistência muscular
Repetições / Séries N .º de Exercícios Frequência Intensidade
AHA , 2007 10-15 repetições ; 1 série
AACVPR , 2004 12-15 repetições ; 1 série
ACSM , 2006 10-15 repetições ; 1 série
8-10 exercícios
8-10 exercícios
8-10 exercícios
2 dias / sem
2 – 3 dias / sem
2 – 3 dias / sem
30 a 40 % de 1RM / MS 50 a 60 % de 1RM / MI Aumento da carga em 5 % quando realizam confortavelmente 12 a 15 rep
AHA – American Heart Association ; AACVPR – American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation ; ACSM – American College of Sport Medicine .
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