Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2012 | Page 16

Tema 2

Rev . Medicina Desportiva informa , 2012 , 3 ( 3 ), pp . 14 – 18

Treino de força na reabilitação cardíaca

Dra . Sofia Gonçalves Viamonte 1 , Dr . Pedro Matos Silva 2
1
Assistente Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação / Unidade de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular do Centro Hospitalar do Porto / Hospital Universitário de Santo António ; 2 Fisioterapeuta da Unidade de Readaptação ao Esforço do Hospital Pedro Hispano / Docente da Área Científica de Fisioterapia da ESTSP . Porto
RESUMO ABSTRACT
O Treino de Força ( TF ) é um método de exercício seguro e eficaz na abordagem terapêutica dos pacientes que realizam um Programa de Reabilitação Cardíaca . Contribui para melhorar força muscular e endurance e modificar favoravelmente os fatores de risco cardiovascular . É determinante na perceção individual da capacidade de realizar esforços físicos dentro de níveis aceitáveis de segurança , promovendo autonomia e possibilitando uma reintegração mais precoce no meio sóciolaboral , de encontro aos objetivos primordiais da Reabilitação . Com base nos conhecimentos científicos atuais , neste trabalho são descritos benefícios do TF e recomendações relativas à prescrição no doente cardíaco .
Resistance Training ( RT ) is a safe and effective method on the therapeutic approach of patients referred to a Cardiac Rehabilitation Program . RT increases muscle strength and endurance and positively influences cardiovascular risk factors . It ’ s determinant in the individual ’ s perception of the ability to perform physical efforts within safety levels , enhancing functional independence and providing a more rapid occupational reintegration , emphasizing rehabilitation primary goals . Based on current scientific knowledge , in this paper we describe information regarding benefits of RT and prescription in cardiac patients .
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Treino de força , reabilitação cardíaca Resistance training , cardiac rehabilitation
Introdução
As duas modalidades de treino contempladas num Programa de Reabilitação Cardíaca ( PRC ) – endurance e resistência muscular – modificam favoravelmente as variáveis relacionadas com a forma física , a função cardiovascular e os fatores de risco cardiovasculares ( FRCV ), embora a magnitude destes benefícios seja substancialmente diferente 1 , 2 . No entanto , após a alta hospitalar motivada por angina de peito , enfarte agudo do miocárdio ( EAM ), revascularização coronária percutânea ou cirúrgica e outras cirurgias cardíacas ( valvular , transplante cardíaco ), são frequentes as recomendações ao doente para o exercício aeróbio – sobretudo a marcha – e um aconselhamento vago e inespecífico acerca do nível de atividade aceitável no que se refere ao exercício resistido dinâmico 3 . A escassez de informação pode promover a insegurança e a inatividade , retardando a retoma das atividades de vida diária .
Esta lacuna tornou-se particularmente óbvia à medida que os pacientes referenciados para PRC são mais jovens , alguns com profissões que exigem esforços dinâmicos moderados a vigorosos , tornando-se necessária a preparação adequada para as atividades desempenhadas no seu contexto laboral 3 . Um programa de treino exclusivamente aeróbio não altera a perceção do doente sobre o trabalho que pode realizar com os membros superiores ( MS ). A maioria dos pacientes que sofreram um EAM estão mais limitados por essa perceção inapropriada sobre o que podem ou não fazer do que por uma limitação física real 4 . A inclusão do treino de força ( TF ) nos PRC contribui , portanto , para a reintegração mais precoce e eficaz no meio laboral , social e familiar , de encontro aos objetivos primordiais da Reabilitação Cardíaca 1 .
Historicamente , o TF era contraindicado em pacientes com patologia cardíaca , nomeadamente na doença coronária , pelo receio de
potenciar alterações isquémicas ou hemodinâmicas ( HD ) 5 . A hesitação na sua recomendação era relacionada sobretudo com a elevação da pressão arterial ( PA ) reportada na literatura em estudos preliminares ( associada ao exercício estático usualmente acompanhado de manobra de Valsalva ) 6 . No entanto , tem sido demonstrado que essa elevação da PA depende de uma variedade de fatores relacionados com os parâmetros da prescrição 2 , 5 e que , comparativamente ao treino aeróbio ( TA ), o aumento da PA diastólica e a diminuição do duplo produto ( frequência cardíaca x PA ) produzem um equilíbrio mais favorável na oxigenação do miocárdio , o que se reflete na diminuição dos sintomas de isquemia miocárdica , das alterações eletrocardiográficas e dos distúrbios na motilidade do músculo cardíaco 2 , 6 . Assim , quando implementado apropriadamente , e sob a supervisão adequada , o TF não acarreta um risco inerente para o doente cardíaco superior ao TA 5 , 7 .
Com base nos seus efeitos promotores de saúde e na segurança comprovada na evidência científica , o TF é atualmente reconhecido como componente essencial nos PRC / prevenção secundária e as guidelines de organizações internacionais de saúde são unânimes ao recomendarem a sua incorporação nos programas de exercício 8 , 9 .
Benefícios do treino de força
A combinação do TF com o TA em pacientes selecionados é mais eficaz do que o TA isolado no aumento da força muscular dos MS e membros inferiores ( MI ), na melhoria da capacidade funcional e das medidas
14 · Maio 2012 www . revdesportiva . pt