Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2012 | Page 11

Tema 1

Rev . Medicina Desportiva informa , 2012 , 3 ( 3 ), pp . 9 – 13

Treino de resistência e hipertensão arterial

Dr . Jorge A . Ruivo Medicina Interna , Hospital de Santa Maria ; Pós-Graduado em Medicina Desportiva pela Faculdade Medicina de Lisboa ; Coordenador de programa de reabilitação cardíaca , Club Clínica das Conchas Professor convidado da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia
RESUMO ABSTRACT
As linhas de orientação não-farmacológica sempre negligenciaram o treino de resistência como regime hipotensor , por questões de segurança ou por presumível ineficácia , quando comparado com o treino de endurance . No entanto , o paradigma tem-se vindo a alterar progressivamente . Para além dos efeitos bem documentados do treino de resistência para a manutenção da capacidade funcional e prevenção da sarcopenia e da osteoporose , já existe também evidência do impacto positivo deste tipo de treino na saúde metabólica , nomeadamente na prevenção e controlo da HTA . Descreveremos sucintamente os efeitos agudos e crónicos do treino de resistência em hipertensos , assim como as recomendações de prescrição para esta população clínica .
The non-pharmacological guidelines have always neglected resistance training as na hypotensive regime , either for safety reasons or alleged inefficiency , compared with endurance training . However , the paradigm has been gradually changing . In addition to the well documented effects of endurance for the maintenance of functional capacity and sarcopenia and prevention of osteoporosis , there is also evidence of the positive impact in the practice of this type of exercise in metabolic health , especially in the prevention and control of hypertension . We briefly describe the acute and chronic effects of resistance training in hypertensive patients , as well as prescribing recommendations for this clinical population .
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Resistência , hipertensão , exercício Resistance , hypertension , exercise
Introdução
A hipertensão arterial ( HTA ) é um dos dos principais fatores de risco para a doença cardiovascular 1 , sendo estimado que conduza a 7 milhões de mortes por ano , ou seja , cerca de 13 % do total de óbitos mundiais 2 .
A prevenção da HTA ou a redução da pressão arterial ( PA ) em hipertensos devem em primeira instância ser atingidas através da alteração do estilo de vida . Incluem-se entre as modificações necessárias a adequação dos hábitos alimentares , a moderação da ingesta alcóolica , a perda de peso , a cessação tabágica e a atividade / exercício físicos . No que diz respeito a este último fator protetor , é sabido que as modalidades de treino aeróbio são eficazes
Tabela 1 – Comparação dos efeitos do Treino aeróbio e do treino de resistência ( Braith et al , 2006 )
Variable
Aerobic exercise
Resistance exercise
Bone mileral density
↑ ↑ ↑
Body composition Fat mass
↓ ↓
Muscle mass
↑ ↑
Strength
↑ ↑ ↑
Glucose metabolism
Insulin response to glucose challenge
↓ ↓
↓ ↓
Basal insulin levels
Insulin sensivity
↑ ↑
↑ ↑
Serum lipids High-density lipoprotein
↑ ↔
↑ ↔
Low-density lipoprotein
↓ ↔
↓ ↔
Resting heart rate
↓ ↓
Blood pressure at rest Systolic
↓ ↓
Diastolic
↓ ↓
Physical endurance
↑ ↑ ↑
↑ ↑
Basal metabolism
↑ ↑
↓ indicates increased ; ↑ decreased ; and ↔ negligible effect
na redução da PA na população geral , assim como em hipertensos 3 . As linhas de orientação não-farmacológica sempre negligenciaram o treino de resistência ( TR ) como regime hipotensor , por questões de segurança ou por presumível ineficácia , quando comparado com o treino de endurance ( TE ). De facto , existe apenas um número limitado de estudos que avaliam independentemente os benefícios do TR nos fatores de risco ( FR ) cardiovasculares ou na doença cardiovascular ( DCV ) estabelecida . Geralmente , os estudos disponíveis são realizados no contexto de programas mais abrangentes de reabilitação cardíaca , que incluem , tipicamente , as influências confundentes do TE , a utilização de drogas vasoativas e hipolipemiantes e modificações dietéticas , não sendo fácil , portanto , discernir quanto à contribuição do TR .
No entanto , o paradigma tem-se vindo a alterar progressivamente . Hoje em dia para além dos efeitos bem documentados do TR para a manutenção da capacidade funcional e prevenção da sarcopenia e osteoporose , já existe também evidência do impacto positivo deste tipo de treino na saúde metabólica 4 ( Tabela 1 ). Esta informação é importante porque efetivamente destaca um aspeto subvalorizado do TR . Recentemente , tanto a American Heart Association , como o American College of Sports Medicine , aprovaram a inclusão do TR ( de intensidade moderada ) como parte integrante dos programas de exercício para a promoção da saúde e para a prevenção da DCV 5 , nomeadamente para a prevenção , tratamento e controlo da HTA4 , tema em foco .
Resposta tensional aguda ao TR
Estudos de intervenção aguda mostram que uma única sessão de TR pode produzir subidas elevadas da pressão arterial sistólica ( PAS ) 6 , consequentes ao efeito pressor muscular , as quais podem representar um risco acrescido de hemorragia do sistema nervoso central . No entanto , a ocorrência de eventos adversos em hipertensos é muito baixa 7 .
O TR , à semelhança do TE , também promove resposta hipotensora
Revista de Medicina Desportiva informa Maio 2012 · 9