Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2019 | Page 8
Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(4):6-7.
https://doi.org/10.23911/FMUP_2019_7
O que andamos a ler
Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de
artigos recentes ou que merecem ser (re)lidos e
comentados. É uma página aberta a todos.
In-flight medical emergencies
(IME) – a review 1
Dr. José Ramos
Medicina Desportiva - Gondomar
Resumo e comentário
As viagens de avião realizadas pelos
atletas e seus acompanhantes
são cada vez mais frequentes, em
número e frequência. São realiza-
das em contexto internacional, mas
também há equipas que necessitam
de usar o avião para se deslocarem
para a Madeira e para os Açores.
A atuação médica e paramédica a
por vezes 10mil metros de altitude,
a horas de chegar ao destino, com
equipamento médico limitado, com
espaço para atuação muito redu-
zido e sob a pressão de ter de fazer
alguma coisa, porque é suposto o
médico resolver, cria condições de
grande pressão na equipa médica.
Porque a emergência pode ocorrer
é preciso estar preparada para ela.
Os autores desta revisão quiseram
criar uma bolsa de informação que
possa ser útil lá em cima nas alturas.
Fizeram uma revisão da literatura na
MEDLINE e buscaram artigos publica-
dos entre 1jan1990 e 2de junho2018,
tendo encontrado 765 (!) artigos de
conteúdo relevante, dos quais 317
entraram na revisão. Na epidemio-
logia deve ser avaliada a prevalência
das IME. Num estudo a prevalência
estimada foi de 1 para 604 voos repor-
tados por cinco aeroportos nacionais
e internacionais (2008 a 2010) que
receberam 11920 pedidos de ajuda.
Noutra recolha entre 2009 e 2013
a prevalência variou entre 24 e 130
6 julho 2019 www.revdesportiva.pt
IMEs por um milhão de passageiros
transportados. Os autores calculam
que se existem cerca de 5 biliões de
passageiros por ano, é então provável
que ocorram entre 260 e 1520 IMEs/
dia. São números muito elevados,
especialmente se formos o único
médico naquele voo. Analisando 14
artigos, escalona-se as IMEs mais
frequentes em 49100 ocorrências: sín-
cope ou pré-síncope (32,7%), gastroin-
testinais (14,8%), respiratórias (10,1%)
e cardiovasculares (7%). A paragem
cardíaca correspondeu a 0,2% das
IMEs. As IMEs ginecológicas/obstétri-
cas foram 346 (0,7%), não havendo a
indicação em relação a gravidez/par-
tos. Assumir a necessidade de desviar
um voo por motivos médicos poderá
ser difícil em algumas IMEs. O resumo
de 14 artigos indica que em 56599
IMEs houve necessidade de alterar o
destino do avião em 2515 IMEs (4,4%;
95%CI, 4.3%-4.6%). O custo direto esti-
mado destes desvios foi entre 20mil e
725mil US dólares. O tipo de equipa-
mento médico a bordo do avião tem
regulamentação, nem sempre igual
em todos países. Por exemplo, a Fede-
ral Aviation Administration publica
uma enorme lista de equipamento
que deve existir, onde se inclui o des-
fibrilhador automático externo (e um
assistente de bordo apto), ao passo
que tal não é obrigatório nas linhas
aéreas europeias. Aquela lista inclui
material para tratar hemorragias
e medicamentos para a dor ligeira,
reações alérgicas, broncoconstrição,
hipoglicemia, desidratação e algumas
situações cardíacas. Inclui também
aparelhos para medir a glicemia,
catéteres urinários e remédios para
as convulsões. Também garrafas de
oxigénio estão presentes para admi-
nistrar O 2 à vítima, entre 2 e 4L/min.
Este texto é um verdadeiro manual
de atuação médica pois possui “car-
tões” ´com instruções para atuação
em 12 IMEs ( paragem cardíaca,
trauma, abuso de substâncias, obste-
trícia, reação alérgica, etc). São textos
curtos (cerca de 10mil carateres),
objetivos e de conteúdo de fácil imple-
mentação, e sub-divididos em duas
ações consecutivas: avaliação inicial e
depois atuação e evolução expectável.
Existem procedimentos estandardi-
zados de atuação para os assistentes
de voo, desde a abordagem da vítima,
deslocar o equipamento médico até
contactar um aeroporto. No texto
publica-se ainda uma Tabela onde se
indicam os diagnósticos diferenciais
para as diversas IMEs. Finalmente, a
última secção refere-se à prevenção
das IMEs. É um texto de grande quali-
dade, oportuno, muito objetivo e peda-
gógico. É o tipo de texto a transportar
sempre na viagem aérea, pois um dia
destes ainda somos surpreendidos por
uma IME e, lá cima, ão é propriamente
uma sala de emergência hospitalar.
Texto completo no site da Revista:
www.revdesportiva.pt
1. Christian Martin-Gill, MD, MPH; Thomas
J. Doyle, MD, MPH; Donald M. Yealy, M.
JAMA. 2018; 320(24):2580-2590. doi:10.1001/
jama.2018.19842
What I have learned about being
successful as an orthopedic
surgeon 1
Dr. Basil Ribeiro
Medicina Desportiva – V N Gaia
Resumo e comentário
Por vezes encontramos textos que
são verdadeiros tesouros. Refletem
a experiência individual, pessoal e
profissional, determinada por uma
genética favorável, mas certamente
resultante de uma formação pes-
soal exemplar, onde a família e os
valores da vida estiveram sempre
presentes. Este curto texto, de apenas
duas páginas, foi publicado por um
ex-atleta de salto com vara e que
agora é um cirurgião do ombro de
grande sucesso e larga experiência.
Foi campeão quando frequentava a
Louisiana State University, e foi nesta
universidade que tirou o curso de
Medicina, mais tarde tornou-se num