Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2019 | Page 13

no feixe do 1º metatarso como no do cuneiforme medial. 3 O jogador realizou avaliação podológica no final da reabilitação, tendo sido confirmado o pé cavo com calcâneo ligeiramente valgo, bilateralmente (Figuras 1 e 4). Uma das causas habitualmente referida para o pé cavo é o desequilíbrio de forças entre os músculos antago- nistas, em particular o LP e o tibial anterior. 21 Manoli et al consideram que a principal força deformadora é a flexão plantar do 1º metatarso, que se pensa ser resultado de hiperfun- ção do LP. 22 Por outro lado, e tendo em conta que uma paralisia ou fra- queza de um ou ambos os peroniais pode levar a calcâneo varo 21 , será de esperar que a hiperfunção do LP possa não só contribuir para o pé cavo, mas também explicar o alinha- mento valgo presente neste caso. Tendo em conta que o pé cavo diminui a absorção do impacto sobre as regiões de maior sobrecarga e faz gerar maior sobrecarga ao nível do 1º metatarso na altura da pro- pulsão 20,22-24 , esta provavelmente potenciada pelo valgismo do jogador, é de esperar uma maior tensão nas estruturas adjacentes a este, nomea- damente a inserção distal do LP. Outro fator que pode explicar a lesão pouco habitual descrita neste texto é a hiperfunção do músculo LP. Uma vez que os tendões têm um papel fundamental na transmissão de forças exercidas dos músculos para os ossos, é muito importante que o aumento da capacidade muscular em gerar força esteja associado a modulação das capacidades mecâ- nicas do tendão respetivo, de modo a evitar o dano no tecido tendinoso. 25 Ou seja, não só esta hiperfunção do LP pode explicar o pé cavo e valgo do jogador, como pode causar sobrecarga da região do tendão que contacta com o osso, a sua inserção distal, provocando o seu dano. Assim, e após a avaliação e dis- cussão do caso clínico, foi decidido confecionar uma palmilha perso- nalizada com o objetivo já descrito anteriormente. Conclusão As lesões dos tendões peroniais fazem parte do diagnóstico diferencial de instabilidade e da dor na região lateral do tornozelo. A lesão do longo peroneal é também diagnós- tico diferencial de dor na região plantar lateral do mediopé, principal- mente junto do osso cuboide, no entanto não costuma fazer parte do diagnóstico diferencial de dor na região plantar medial do antepé. Este é um caso que demonstra a impor- tância de incluir a lesão do longo peronial no diagnóstico diferencial da dor na região plantar medial do pé, permitindo assim um diagnóstico e tratamento precoce e correto. Os autores negam quaisquer conflitos interesses. Contacto do autor: arnaldoabrantes@ yahoo.com; telemóvel 937105738. Bibliografia 1. Davda K, Malhotra K, O’Donnell P, Singh D, Cullen N. Peroneal tendon disorders. Foot and Ankle EfORT Open Reviews. 2017; (2):281-292. 2. Arbab D, Tingart M, Frank D, Abbara-Czardy- bon M, Waizy H, Wingenfeld C. Treatment of isolated peroneus longus tears and a review of the literature. Foot Ankle Spec. 2014; 7(2):113-8. 3. Henrie M, Oberg P, Willick S. Partial Peroneus Longus Tendon Rupture at its Distal Insertion in a Runner: A Case Presentation. American Aca- demy of Physical Medicine and Rehabilitation. 2013; (5): 155-158. Available from: http:// dx.doi.org/10.1016/j.pmrj.2012.10.012 4. Brandes C, Smith R. Characterization of patients with primary peroneus longus tendi- nopathy: A review of twenty-two cases. Foot Ankle Int. 2000; 21:462-468. 5. Dombek M, Lamm B, Saltrick K, Mendicino R, Catanzariti A. Peroneal tendon tears: a retrospective review. J Foot Ankle Surg. 2003; 42(5):250-8. 6. Roster B, Michelier P, Giza E. Peroneal Tendon Disorders. Clin Sports Med. Elsevier Inc. 2015 7. Standring S. Gray’s Anatony: The Anatomical Basis of Clinical Practice. 40 th ed., [Edinburgh]: Churchill Livingstone/Elsevier. 2008. 8. Van Dijk P, Madirolas X, Carrera A, Kerkhoffs G, Reina F. Peroneal tendons well vascularized: results from a cadaveric study. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2016; 24:1140-1147. 9. Petersen W, Bobka T, Stein V, Tillmann B. Blood supply of the peroneal tendons: injection and immunohistochemical studies of cadaver tendons. Acta Orthop Scand. 2000; 71:168-174. 10. Bianchi S, Bortolotto C, Draghi F. Os pero- neum imaging: normal appearance and patholo- gical finding. Insights Imaging. 2017; 8:59-68. 11. Roster B, Michelier P, Giza E. Peroneal Tendon Disorders. Clin Sports Med. Elsevier Inc. 2015. 12. Johnson C, Christensen J. Biomechanics of the first ray. Part I. The effects of peroneus longus function: A tree-dimensional kinematic study on a cadaver model. J Foot Ankle Surgery. 1999; 38(5):313-321. Restante Bibliografia em: www.revdesportiva.pt (A Revista Online) Gregg Afman, James A. Betts. The energy cost of sitting versus standing naturally in man. Medicine & Science in Sports & Exercise. 2019; 51(4):726-733. A conclusão é recorrente: o sedentarismo é prejudicial á saúde. O estar sentado por longos períodos de tempo não é bom, pelo que as pessoas têm sido incentivadas a aumentarem o tempo de permanência em pé. Mas fará grande diferença estar sentado ou em pé em termos de custo metabólico e de consumo energético (gordura)? Os autores deste estudo pretenderam res- ponder a esta questão. As necessi- dades metabólicas de 46 homens e mulheres saudáveis (idade =27±12 anos; peso =79.3±14.7kg; IMC =24.7±3.1kg·m – ², relação cintura/anca = 0.81±0.06) foram avaliadas por calorimetria indi- reta em condições basais, nas posições de deitado, sentado e em pé. Nesta posição não foi feita qualquer restrição, podendo a pessoa “mexer-se” espontanea- mente. Os resultados são inte- ressantes. A diferença no custo absoluto metabólico (múltiplos da taxa metabólica basal) entre estar sentado e em pé é insigni- ficante: 1.1 vs. 1.2, pelo que, de acordo com os autores, “a energia adicional gasta por estar simples- mente mais tempo em pé por dia não resultará em perda impor- tante de peso”, mas este pequeno aumento é “suportado pelo maior consumo relativo de mais gor- dura” que CH. Contudo, o estar em pé e “mexer-se” mais é de variabilidade individual e são os que têm vida mais ativa e pulso de repouso mais baixo. Em con- clusão, esta diferença mínima de 12% entre estar sentado ou em pé não faz a diferença no combate à obesidade, mas poderá minimi- zar o seu crescimento, pelo que será necessário um pouco mais (“mexer-se” quando se está em pé) para o objetivo de melhorar a saúde. Revista de Medicina Desportiva informa julho 2019 · 11