Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2019 | Page 22

curvatura escoliótica é maior (Risser 0-2) e este risco de progressão é maior nas curvas a partir dos 25-30°. Discussão Para tratar ou reverter a progressão da curvatura escoliótica poderemos prescrever uma ortótese e exercícios de fisioterapia específicos (Fits,RPG, Lyon, Med X, Schroth, SEAS, Side- -shift3,...), tentando assim evitar recorrer à cirurgia. As ortóteses mais utilizadas são as Rigo-Cheneau, as do tipo Boston, e as da escola de Lyon, sendo que mais recentemente todas têm cada vez mais sido construídas com suporte informático, recorrendo ao sistema CAD-CAM, tendencial- mente com mecanismos de acção 4D. A eficácia demonstrada em estudos recentes levaram a SOSORT em 2016 a estabelecer as seguintes guidelines de evidência de nível I: 1) ortóteses são recomendadas no tratamento de EI do adolescente; 2) o uso de ortótese é recomendado em doentes com EI acima dos 25 durante o crescimento (Risser 0-2 ); 3) a ortetização é reco- mendada em curvas de 20, com Ris- ser 0-3, com progressão comprovada ou elevado risco de agravamento. São recomendações evidência nível II: 1) utilização de ortóteses de forma per- manente, ou pelo menos 18 horas por dia; 2) atendendo ao facto de haver relação dose-eficácia, o n.º de horas tem de ser ajustado à idade, gravi- dade, estádio de desenvolvimento, compliance expectável. Temos, no entanto, de ter em conta os estudos que avaliam e quantificam o impacto que este procedimento tem na qua- lidade de vida destes doentes, quer na elevada referência a alterações psicológicas, quer no agravamento da vida social. As recomendações relativas à atividade desportiva na EI, nomeadamente aquelas emanadas pelas Guidelines da SOSORT, referem que a atividade física na escola deve ser continuada, restringindo algumas atividades específicas com maior mobilização axial, mesmo com orte- tetização, pelo benefício psicológico e ganho da capacidade aeróbia. Conclusão É fundamental o diagnóstico pre- coce da escoliose, o enquadramento no estádio de desenvolvimento 20 julho 2019 www.revdesportiva.pt pubertário para, em conjugação com os graus de curvatura, adequar o tratamento. A atividade desportiva deve ser encorajada, nomeadamente a continuidade da Educação Física escolar, evitando os exercícios com grande mobilização axial. Bibliografia 1. Stefano Negrini et al, 2016 SOSORT guideli- nes: orthopaedic and rehabilitation treatment of idiopathic scoliosis during growth; Scoliosis and spinal disorders, 2018, 13(3):1-48. 2. Stuart L Weinstein et al, Effects of bracing in adolescents with Idiopatic Scoliosis, N Engl J Med; 2013; (369): 1512-21. 3. Lucas Piantoni et al, Scoliosis and spinal disorders; 2018; (6)13-26. Dr. Basil Ribeiro Medicina desportiva. V N Gaia O traumatismo no campo: como proceder? Palavras-chave: Trauma, coluna vertebral, desporto Introdução O trauma da coluna vertebral no desporto, embora ocorra com menor frequência em relação a outros trau- mas, obriga a atuação imediata e correta, já que poderão surgir graves complicações neurológicas, assim como respiratórias. A imobilização e transporte da vítima requerem cuidados específicos, os quais estão já perfeitamente tipificados. Discussão No trauma da coluna vertebral a localização mais frequente é na coluna cervical, podendo ocorrer, ou dever ser considerado, aquando na concussão cerebral. A história clínica é importante, principalmente saber o mecanismo de lesão. A observação deste facilita a suspeição da lesão da coluna vertebral e a implementação das medidas adequadas. A primeira atuação é ... não atuar sem antes do interrogatório realizado à vítima consciente e a observação (inspeção e palpação) da coluna. No imediato importa averiguar a locali- zação da eventual dor, assim como a existência de alterações da sensi- bilidade, perguntando-se se existem “formigueiros” nos respetivos mem- bros, ou de défices motores. A posição em que se encontra o pescoço, numa posição em que vítima encontra maior conforto, deve ser mantida, pelo menos inicialmente, e nunca poderá haver mobilização intempestiva para a posição que “dá mais jeito”. A pes- quiza da sensibilidade nas regiões do deltoide (raiz de C6) e do polegar (raiz de C5) é importante, pois as lesões cervicais acima de C6 podem resultar em perda parcial ou total da função respiratória. A palpação das apófises espinhosas cervicais (ou lombares) é de grande importância. A ausência de dor tranquiliza, assim como autoriza a realização de rotações cervicais ativas, bem a como a flexão. No caso da concussão cerebral a necessitar de transporte para uni- dade de saúde diferenciada ou na impossibilidade de excluir naquele momento a lesão da coluna vertebral antes do transporte deve ser colo- cado o colar cervical. Depois, o atleta deve ser mobilizado adequadamente (rolamento – 4 pessoas no mínimo, ou levantamento – 6 pessoas no mínimo) aquando da colocação no plano duro. Este é o momento para se observar a região posterior do tronco. Devem ser colocados os imobilizadores cervicais e depois os cabrestos para impedirem a rotação cervical. Finalmente, a imo- bilização ao plano duro deve ser feita com a colocação da “aranha”, a qual segura a vítima se houver necessidade de rolar a vítima no momento do vómito. Idealmente o transporte deve ser realizado para unidade de saúde com TAC, não sendo necessário a velo- cidade excessiva na vítima consciente. Conclusão O trauma da coluna vertebral merece atenção, avaliação e atuação médica adequadas. Os sinais e sintomas, juntamente com o mecanismo da lesão, ajudam na avaliação e atuação. Mobilizar e imobilizar a vítima deve ser feita de acordo com os protocolos. Desvalorizar deste tipo de trauma pode trazer consequências muito más. Bibliografia 1. Adavanced Life Trauma Support – Student Course Manual. American College of Sur- geons, Chicago. 10ª ed, 2018