Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2017 | Page 20

que 24 % apresentavam escolioses , o que é significativamente superior à frequência na população geral .
A prevalência de dançarinos com menarca tardia e amenorreia secundária foi elevada e mais frequente nos pacientes com escolioses em comparação com os que não tinham deformidades da coluna ( 83 % e 44 % vs 54 % e 31 %, respetivamente ). Estes dados apoiam que o desenvolvimento de deformidades da coluna está associado a cargas assimétricas típicas deste desporto durante um período de suscetibilidade da coluna imatura mais prolongado , típico do hipoestrogenismo , sendo que o risco de desenvolver escoliose aumenta com o aumento da idade da menarca . Por sua vez , Longworth B et al . 75 verificaram que quase um terço das adolescentes dançarinas de ballet da sua amostra apresentaram escoliose , demonstrando assim 12.4 vezes mais risco de desenvolver deformidade da coluna em comparação com controlos não dançarinos .
Apesar destes dados , não existe atualmente evidência científica suficiente para afirmar que um desporto particular possa causar ou contribuir para o desenvolvimento
4 , 21 , 58 , 76 , 77 de deformidades da coluna . Em contrapartida , considera-se que o exercício físico recreativo ou amador a nível moderado é importante para o desenvolvimento normal da coluna vertebral , do esqueleto e da criança em geral . 39 , 78 , 79 Alguns autores referem mesmo que a prática controlada de determinados desportos deve ter um papel no tratamento conservador das deformidades vertebrais , na medida em que pode potenciar a estabilização neuromuscular da coluna e assim contribuir para diminuir a progressão das curvas .
1 , 2 , 21 , 58 , 62 , 66 , 76 , 81-83
No entanto , é atualmente consensual que um desporto que envolve angulações e torções do tronco praticado a nível competitivo não é recomendado perante atletas com elevado risco de progressão da deformidade . 84 Admite-se que o exercício físico pode ser ao mesmo tempo um fator de risco e um fator protetor em relação ao desenvolvimento e progressão de deformidades da coluna vertebral , dependendo de fatores tais como tipo de desporto , nível ligeiro , moderado ou intensivo de prática desportiva , volume de treinos , características biomecânicas da postura e simetria dos movimentos , entre outros
58 , 76 , 85
.
Conclusões
A literatura científica sugere que algumas deformidades estruturais da coluna vertebral adquiridas durante o crescimento podem estar relacionadas com a prática intensiva de desportos que envolvem cargas axiais assimétricas sobre a coluna numa fase de maturação esquelética . Face a estes resultados , deve refletir-se sobre os riscos deste tipo de exercícios em crianças e adolescentes , podendo a adaptação do tipo , duração e frequência de cargas aplicadas sobre a coluna vertebral ser importante na prevenção do desenvolvimento de deformidades . São necessários estudos prospetivos comparativos e aleatorizados de modo a se poderem desenvolver estratégias de prevenção destas deformidades , nomeadamente através do planeamento de atividades que respeitem os princípios do crescimento e desenvolvimento normal da coluna vertebral , e assim evitar potenciais situações de espondiloartrose secundária e dor crónica precoces . O aumento da evidência científica acerca do papel da modulação biomecânica na progressão e mesmo na origem das deformidades da coluna vertebral poderá também contribuir para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas personalizadas que permitam corrigir as cargas assimétricas sobre as placas de crescimento e assim evitar a progressão e mesmo corrigir a deformidade .
Os autores declaram a não existência de conflitos de interesse .
Correspondência para
Diogo Moura Ortopedia e Traumatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra dflmoura @ gmail . com
Bibliografia
1 . Schiller JR , Eberson CP . Spinal deformity and athletics . Sports Med Arthrosc . 2008 ; 16 ( 1 ): 26-31 .
2 . Gielen J , Eede E . Scoliosis and sports participation . International SportMed Journal . 2008 ; 9 ( 3 ): 131-140 .
3 . Omey ML , Micheli LJ , Gerbino PG II . Idiopathic scoliosis and spondylolysis in the female athlete . Tips for treatment . Clin Orthop Relat Res . 2000 ; 372:74-84 .
4 . Stošic D , Milenkovic S , Živkovic D . The influence of sport on the development of postural disorders in athletes . Physical Education and Sport , Special Issue , 2011 ; 9 ( 4 ): 375-384 .
5 . Moura D , Figueiredo A , O ’ Neill J , Fonseca F . Prática Desportiva Precoce e Deformidades da Anca . Rev . Medicina Desportiva informa , 2015 , 6 ( 5 ): 12 – 15 .
6 . Caine D , Howe W , Ross W , et al : Does repetitive physical loading inhibit radial growth in female gymnasts ? Clin J Sport Med 1997 ; 7:302-308 .
7 . Li KC , Zernicke RF , Barnard RJ , et al : Differential response of rat limb bones to strenuous exercise . J Appl Physiol . 1991 ; 70 : 554 – 560 .
8 . Matsuda JJ , Zernicke RF , Vailas AC , et al : Structural and mechanical adaptation of immature bone to strenuous exercise . J Appl Physiol , 1986 ; 60 : 2028-2034 .
9 . Agricola R , Heijboer MP , Ginai AZ , et al . A cam deformity is gradually acquired during skeletal maturation in adolescent and young male soccer players : a prospective study with minimum 2-year follow-up . Am J Sports Med , 2014 ; 42:798 – 806 .
10 . Stokes IA , Spence H , Aronsson DD , et al . Mechanical modulation of vertebral body growth . Implications for scoliosis progression . Spine . 1996 ; 21:1162-1167 .
11 . Potoupnis ME , Kenanidis E , Papavasiliou KA , Kapetanos GA . The role of exercising in a pair of female monozygotic ( high-class athletes ) twins discordant for adolescent idiopathic scoliosis . Spine ( Phila Pa 1976 ). 2008 ; 33 ( 17 ): E607-10 .
12 . Tanchev PI , Dzherov AD , Parushev AD , Dikov DM , Todorov MB . Scoliosis in rhythmic gymnasts . Spine ( Phila Pa 1976 ). 2000 ; 25 ( 11 ): 1367-72 .
13 . Hawes MC , O ’ Brien JP . The transformation of spinal curvature into spinal deformity : pathological processes and implications for treatment . Scoliosis . 2006 ; 31:1 ( 1 ): 3 .
14 . Burwell RG . Aetiology of idiopathic scoliosis : current concepts . Pediatr Rehabil . 2003 ; 6 ( 3- 4 ): 137-70 .
15 . Gorman KF , Breden F . Idiopathic-type scoliosis is not exclusive to bipedalism . Med Hypotheses . 2009 ; 72 ( 3 ): 348-52 .
16 . Lowe TG , Edgar M , Margulies JY , Miller NH , Raso VJ , Reinker KA , Rivard CH . Etiology of idiopathic scoliosis : current trends in research . J Bone Joint Surg Am . 2000 ; 82-A ( 8 ): 1157-68 .
17 . Miller NH . Idiopathic scoliosis : cracking the genetic code and what does it mean ? J Pediatr Orthop . 2011 ; 31 ( 1 Suppl ): S49-52 .
18 . Porter RW . The pathogenesis of idiopathic scoliosis : uncoupled neuro-osseous growth ? Eur Spine J . 2001 ; 10 ( 6 ): 473-81 .
19 . Veldhuizen AG , Wever DJ , Webb PJ . The aetiology of idiopathic scoliosis : biomechanical and neuromuscular factors . Eur Spine J . 2000 ; 9 ( 3 ): 178-84 .
Restante Bibliografia em : www . revdesportiva . pt ( A Revista Online )
18 Julho 2017 www . revdesportiva . pt