Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2017 - Page 15
muscular após o alongamento 23 ,
podendo mesmo haver aumento da
força que se reflita positivamente na
performance. 18 No entanto, há que ter
em conta a modalidade especifica,
sendo que em modalidades com
predomínio da força-resistência pode
haver diminuição da força após o
alongamento balístico. 21 Portanto,
parece que o efeito do alongamento
balístico na performance depende
do modo de contração muscular
predominante do desporto específico,
podendo aumentar a performance
nos desportos onde predominam os
ciclos rápidos e repetidos de contra-
ção excêntrica seguida de contração
concêntrica (stretch–shortening cycles,
SSC) 24 ou diminuir a performance dos
desportos onde predominam contra-
ções submáximas de longa duração. 25
Os efeitos prejudiciais do alon-
gamento na força muscular e na
performance podem ser evitados, pelo
menos parcialmente, realizando o
aquecimento dinâmico submáximo
aeróbio. 26 Este tipo de aquecimento
pode otimizar a força muscular. 27
Um número reduzido de alongamen-
tos (3 a 4) de duração mais curta
(com menos de 60-90 segundos de
tempo total de alongamento) ou o
alongamento de baixa intensidade
(causando apenas ligeiro descon-
forto) podem também ser fatores
atenuantes do declínio da força após
alongamento estático. 18,21,28 A maior
capacidade atlética pode ser tam-
bém um fator atenuante. 29
Influência do alongamento prévio
ao exercício na prevenção de
lesões
A sensação retardada de desconforto
muscular (SRDM) foi recentemente
considerada a forma mais leve
de lesão 30 , embora não se possa
considerar
uma lesão
estrutural.
Uma revisão
recente da
Cochrane 31
demonstrou
que o alonga-
mento prévio
ao exercício
não diminui de
forma clinica-
mente signifi-
cativa a SRDM. Da mesma forma,
revisões sitemáticas 32 e estudos
randomizados controlados 33 não
demonstram reduções estatistica-
mente ou clinicamente significati-
vas do risco de lesão.
O aquecimento dinâmico sub-
máximo aeróbio pode prevenir
lesões. 34 A maioria dos investiga-
dores que demonstram redução do
risco de lesão após alongamentos
incluíram este tipo de aquecimento
nos seus estudos, não permitindo
assim tirar conclusões acerca do
seu uso isolado previamente ao
exercício. Alguns estudos de revisão
concluíram que desportos com
SSC de elevada intensidade (como
o futebol) podem beneficiar com
alongamentos prévios ao exercício 5 ,
embora os trabalhos experimentais
citados incluam sempre o aqueci-
mento dinâmico e não o alonga-
mento isolado.
Discussão
É extremamente complexo elabo-
rar recomendações gerais quanto
aos alongamentos, dadas as con-
tradições entre os vários estudos
experimentais nesta área. Na base
desta falta de unanimidade estará a
elevada heterogeneidade na metodo-
logia utilizada, incluindo variações
nos tipos e duração do alongamento,
na capacidade física testada e no
condicionamento atlético.
As alterações agudas nas proprie-
dades viscoelásticas, principalmente
a redução da tensão muscular, não
parecem oferecer proteção contra
a lesão. O ganho agudo de alguns
graus de AdM podem não ser prote-
tores, em parte porque a maioria das
lesões musculares ocorrem durante
a contração excêntrica dentro das
AdM normais. 35 Adicionalmente, o
ligeiro benefício do ganho agudo na
AdM pode não justificar o possível
efeito negativo na performance, prin-
cipalmente para os alongamentos
estáticos e FNP de longa duração
e elevada intensidade. Por outro
lado, pode haver algum benefício na
performance e no risco de lesão com
o alongamento estático ou FNP de
curta duração e baixa intensidade
realizado previamente ao exercício,
nomeadamente nos desportos que
repetidamente solicitam ampli-
tudes articulares extremas e con-
trações musculares próximas do
alongamento muscular máximo. Os
alongamentos estáticos e FNP de
longa duração ou intensidade não
aparentam trazer maior benefício,
apresentando, pelo contrário, um
risco acrescido de induzir défice de
força muscular.
No geral, os alongamentos balís-
ticos são os mais indicados previa-
mente ao exercício por induzirem
menor défice de força muscular, per-
mitindo ao mesmo tempo aumentar
de forma aguda a AdM e a ativação
neuromuscular, sendo esta uma
parte relevante da rotina geral de
aquecimento dinâmico. 36
Conclusão
Independentemente da modalidade
escolhida, o alongamento deve ser
sempre integrado na rotina de aque-
cimento dinâmico dado que apenas
desta forma está demonstrado que
pode prevenir lesões. Os efeitos
agudos na performance e no risco de
lesão podem variar de acordo com
o tipo, duração e intensidade do
alongamento, com o tipo e função
do músculo em que o alongamento
é aplicado, com o desporto especí-
fico e o condicionamento do atleta.
O alongamento de curta duração e
menor intensidade parece oferecer
os benefícios quase máximos por
alterações da biomecânica com
menor risco de efeitos deletérios
induzidos por inibição da ativação
neuromuscular.
Os autores negam qualquer conflito de interesses
Luís Lima
lima.lm@gmail.com
CMM – Centro Medico de Aveiro, Av. Artur Ravara Nr. 6,
3810-096 Aveiro, Portugal
Bibliografia em:
www.revdesportiva.pt (A Revista Online)
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