Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2017 | Page 12

Tabela 2 . Variação dos dados antropométricos e ecocardiográficos
Parâmetros Inicial
fisiológicas . A alteração mais frequente foi a bradicardia sinusal , presente em 11 atletas ( 64.75 %), seguida de hipertrofia do VE em dois atletas ( 11.8 %), bloqueio auriculoventricular de 1 .º grau e bloqueio incompleto de ramo direito num atleta ( 5.9 %).
Os dados ecocardiográficos mostraram remodelagem cardíaca mais marcada na equipa masculina , com aumento da massa VE , PPVE e espessura relativa das paredes . Também existiu aumento do volume da AE , bem como modificação de parâmetros funcionais – aumento do S ’ e diminuição do valor absoluto da deformação longitudinal global ( DLG ). Na equipa feminina apenas se verificou diferença significativa na velocidade da onda S ’.
Masculinos ( N = 8 ) Femininos ( N = 9 )
Final p value
Discussão
Inicial Final p value
Peso ( Kg ) 75.6 ± 8.6 75.5 ± 8.3 0.92 77.5 76.9 0.63
Massa muscular (%) 42.8 ± 1.5 43.2 ± 1.7 0.26 28.0 ± 1.9 28.9 ± 1.8 < 0.01 Massa gorda (%) 13.4 ± 2.8 14.0 ± 4.7 0.63 35.4 ± 5.5 34.8 ± 4.7 0.09 PAS ( mm Hg ) 134 ± 5.0 128 ± 3 0.02 130 ± 17.0 134 ± 15 0.03 PAD ( mm Hg ) 76 ± 6 73 ± 8 0.21 71 ± 9 76 ± 11 0.02 FC ( bpm ) 59 ± 11 55 ± 8 < 0.01 70 ± 14 68 ± 10 0.68 SIV ( mm ) 8.6 ± 1.5 9.6 ± 1.7 0.10 8.0 ± 1.6 8.7 ± 1.2 0.21 PPVE ( mm ) 8.2 ± 1.2 9.5 ± 1.2 0.05 8.9 ± 1.4 9.0 ± 0.9 0.64 IMVE ( g / m 2 ) 85.8 ± 16.2 97.4 ± 19.3 0.05 79.3 ± 15.9 77.9 ± 12.2 0.74
Espessura relativa
0.30 ± 0.05
0.36 ± 0.05
0.04
0.36 ± 0.06
0.38 ± 0.05
0.36
das paredes
DDVE ( mm )
54.9 ± 2.7
53.2 ± 2.9
0.08
49.5 ± 4.6
47.9 ± 4.6
0.26
DSVE ( mm ) 35.8 ± 3.7 36.1 ± 2.7 0.83 33.5 ± 3.8 32.4 ± 3.5 0.20 Volume da AE ( mL ) 51.8 ± 8.1 58.4 ± 10.9 0.05 56.1 ± 11.5 55.0 ± 12.8 0.73 FEVE (%) 55 ± 5 57 ± 6 0.24 57 ± 5 59 ± 5 0.41 E ’ lateral ( cm / s ) 19 ± 3 19 ± 3 0.92 18 ± 2 17 ± 2 0.63 E / E ’ 4.6 ± 0.8 5.3 ± 0.9 0.14 5.5 ± 1.5 5.8 ± 0.6 0.54 S ’ ( cm / s ) 13 ± 2 14 ± 2 0.02 13 ± 2 14 ± 3 0.01 TAPSE ( mm ) 25 ± 3 25 ± 4 0.93 23 ± 3 24 ± 3 0.43 DLG (%) -19.4 ± 1.3 -17.6 ± 1.8 0.03 -18.7 ± 1.2 -19.0 ± 1.8 0.59
AE : aurícula esquerda ; DLG : deformação longitudinal global ; FC : frequência cardíaca ; FEVE : fração de ejeção do ventrículo esquerdo ; PAD : pressão arterial diastólica ; PAS : pressão arterial sistólica ; PPVE : parede posterior do ventrículo esquerdo ; IMVE : massa do ventrículo esquerdo indexada ; DDVE : diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo ; DSVE : diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo ; SIV : septo intraventricular ; TAPSE : plano de excursão sistólica do anel tricúspide .
Este estudo demonstrou que atletas masculinos e femininos apresentam diferente remodelagem cardíaca , mesmo tratando-se de jovens saudáveis que praticam o mesmo desporto , com características de exercício semelhantes .
Em relação aos dados antropométricos , verificou-se que os atletas masculinos apresentaram reduções da PAS e FC de base , que estão de acordo com o expectável em jovens treinados . 10 As atletas femininas mostraram aumento da PAS e PAD , mantendo-se , no entanto , em valores de pressão arterial considerados normais , sendo que nenhuma das atletas apresentou valores > 140 / 90mm Hg . Também apresentaram aumento , com significado estatístico , da massa muscular e tendência para a redução da massa gorda , que se justifica pelo exercício físico praticado ao longo da época desportiva .
Os dados ecocardiográficos mostraram remodelagem cardíaca nos atletas masculinos com aumento da massa VE , da espessura relativa das paredes e do volume AE . O basquetebol é um desporto com exercício misto – componente dinâmico e estático 11 , sendo o coração destes atletas sujeito tanto a sobrecarga de pressão , condicionando hipertrofia das paredes e consequente aumento da massa do VE , como a sobrecarga de volume , com o consequente aumento do volume das cavidades cardíacas . 3 Os parâmetros funcionais dos atletas masculinos também sofreram alterações , com aumento significativo da velocidade da onda S ’ e diminuição do valor absoluto da DLG do VE . Esta diminuição da DLG está descrita na literatura 12 e poderá representar uma adaptação fisiológica em reposta ao exercício físico . Relativamente às atletas femininas , as adaptações foram escassas e o único parâmetro com alterações estatisticamente significativas foi a velocidade da onda S ’. Na literatura está descrito que o género masculino tem adaptações cardíacas mais marcadas devido às diferenças hormonais entre os dois géneros . Acredita-se que a testosterona e os seus recetores potenciam alterações pró-hipertróficas 13 , enquanto o estrogénio e os seus recetores protegem o miocárdio dessas alterações com efeitos anti-hipertróficos . 14 Nenhuma das atletas avaliadas apresentava espessura da parede do VE > 12mm e apenas uma atleta tinha um DDVE > 54mm ( DDVE de 55mm ). Estes achados estão de acordo com o descrito na literatura 15-16 e servem de importante alerta na avaliação de atletas do género feminino com valores de espessura das paredes ou dimensão das cavidades cardíacas na chamada “ zona cinzenta ”, pois estas devem ser sujeitas a investigações adicionais .
Este estudo avaliou duas equipas semelhantes , excepto no género . Estas praticavam a mesma modalidade desportiva e o treino físico realizado ao longo da época foi idêntico . A principal limitação foi a reduzida dimensão da amostra , a qual se deve ao reduzido número de atletas que as equipas de basquetebol apresentam .
10 Julho 2017 www . revdesportiva . pt