Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2017 | Page 18
Figura 2 – Movimentos de angulação e torção da coluna vertebral durante a prática
desportiva.
através do nível de ossificação e
fusão das apófises da crista ilíaca. 1
Os pacientes com imaturidade
esquelética (estadios 0 e 1 de Risser)
e curvas entre 20 e 30 graus têm 65%
de risco de progressão, enquanto os
de estadios 2 a 4 têm cerca de 20%
de risco de agravamento da defor-
midade. 1,56 Os pacientes com coluna
imatura e curva superior a 30 graus
têm risco de progressão entre 70%
e 90 %. As curvas superiores a 40
graus podem diminuir a capacidade
vital e afetar a função respiratória. 2
O desenvolvimento de deformidades
e a maior progressão de curvas ocor-
rem mais frequentemente nos picos
de crescimento, provavelmente
devido a ativações neuromusculares
assimétricas e alterações na estabi-
lidade biomecânica nestas fases de
maior velocidade de crescimento, o
que explica a maior frequência da
escoliose infantil (até aos 2-3 anos)
e do adolescente (acima dos 10
anos), em comparação com a juvenil
(entre os 4 e 9 anos). 41,48 Isto tam-
bém justifica a maior frequência de
deformidades da coluna nos indiví-
duos com pico de crescimento mais
elevado, isto é, que crescem mais
rapidamente num período de tempo
relativamente curto, aumentando
a probabilidade de aparecimento
de assimetrias neuromusculares e
biomecânicas na coluna. As curvas
de maior dimensão e as curvas torá-
cicas duplas têm risco superior de
progressão em comparação com as
curvas pequenas, lombares e úni-
cas. 57 A deformidade tende a progre-
dir durante a fase de crescimento da
coluna, que termina na maturidade
esquelética com a ossificação das
placas de crescimento. Apesar disto,
a evolução da curva pode continuar
no indivíduo com maturidade esque-
lética devido a degeneração discal e
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osteocondral, mas de forma muito
mais lenta, de apenas 1 a 2 graus por
ano. 2,19
Deformidades da coluna vertebral
e prática desportiva precoce
Os desportos que implicam mais
movimentos de torção e posturas ou
movimentos com angulações impor-
tantes do tronco, tais como ginás-
tica, natação, ténis, voleibol, ande-
bol, hóquei, artes marciais, danças,
patinagem artística, ciclismo, remo,
desportos de lançamentos, despor-
tos de saltos (Figura 2) provocam
cargas axiais assimétricas repeti das
sobre a coluna vertebral. A prática
intensiva destes desportos ao longo
de alguns anos na fase de imaturi-
dade esquelética e crescimento pode
favorecer um crescimento longi-
tudinal assimétrico das placas de
crescimento dos corpos vertebrais
e o consequente desenvolvimento
de deformidades estruturais da
coluna. 2,4,10,12,39,58-70
Wojtys EM et al. 39 analisaram
2270 crianças entre os 8 e 18 anos e
verificaram que as cifoses torácicas
mais acentuadas se verificavam nos
ginastas, seguidos dos pratican-
tes de futebol americano, hóquei,
natação e wrestling, e que apre-
sentavam uma correlação positiva
com o tempo cumulativo de prática
desportiva, em particular naqueles
em que esta ultrapassava as 400
horas por ano (prática intensiva). Por
sua vez, as curvas mais pequenas
foram mais frequentes nas crian-
ças que não praticavam qualquer
desporto. Tanchev PI et al. 12 estu-
daram 100 raparigas praticantes de
ginástica rítmica e identificaram
uma incidência de escoliose mais
de 10 vezes superior nas ginastas
em comparação com a população
geral da mesma faixa etária (12% vs
1.1%), defendendo a existência de
uma tríade de risco nestas crian-
ças: hiperlaxidez articular genera-
lizada (fator hereditário), menarca
e maturidade esquelética tardias e
cargas assimétricas repetidas sobre
a coluna vertebral imatura. Apesar
disto, Meyer C. et al. 71 defendem que
a maior prevalência de escolioses
entre as crianças praticantes de
ginástica se deve à hiperlaxidez arti-
cular e não ao desporto em si. Afir-
mam que a hiperlaxidez é um fator
de risco para desenvolver escoliose
e que estas crianças, pela sua maior
mobilidade articular e facilidade em
praticar ginástica, acabam por se
selecionar e praticar mais frequente-
mente este desporto.
McMaster ME et al. 72 identificaram
como fator de risco de desenvolvi-
mento de escoliose do adolescente
a prática de natação em piscinas
interiores por crianças com idade
inferior a 1 ano. Outro estudo, com
uma amostra de 112 adolescentes
nadadores de competição, demons-
trou riscos superiores de assime-
trias do tronco (odds ratio 1.86), de
hipercifose (odds ratio 2.26) e de
hiperlordose (odds ratio 2.24) em
comparação com um grupo de con-
trolos não desportistas. 73 Os estudos
de Becker TJ. 60 e de Meliscki et al. 64
demonstraram em nadadores que as
curvas de escoliose ocorreram mais
na direção da mão dominante e para
o lado oposto ao que os atletas mais
elevavam a cabeça para respirar.
Conclusões semelhantes em
relação à direção da curva e da mão
dominante foram obtidas para as
escolioses no voleibol, o que pode ser
explicado pelas cargas assimétricas
sobre a coluna vertebral provocadas
pelos movimentos do tronco típicos
dos desportos de uso unilateral pre-
dominante do membro dominante,
tornando-os provavelmente despor-
tos de risco para desenvolvimento de
deformidades da coluna. 12,63,74 Modi
H et al. 74 verificaram numa amostra
de 116 adolescentes praticantes de
voleibol que estes apresentavam
5 vezes mais risco de escoliose em
comparação com controlos não
atletas (5.2% vs 1%). Warren MP et
al. 53 estudaram 75 praticantes de
ballet profissional com uma média
de idades de 24.3 anos e verificaram