Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2017 | Page 14

Rev. Medicina Desportiva informa, 2017, 8 (4), pp. 12–13 Alongamento Pré-Exercício: Qual o Benefício? Dr. Luís Lima 1 , Dra. Ana Lima 2 , Dra. Diva Jesus 3 Medicina Física e de Reabilitação; 2 Médica interna de formação específica em Medicina Geral e Familiar; 3 Medicina Física e de Reabilitação. Porto. 1 RESUMO / ABSTRACT Esta revisão aborda os efeitos agudos do alongamento miotendinoso realizado previamente à prática de exercício. São discutidos os efeitos dos diferentes tipos de alongamento ao nível do risco de lesão aguda e o seu impacto em parâmetros com relevo à prática desportiva, como a força e a flexibilidade. Os efeitos agudos na performance e no risco de lesão podem variar de acordo com o tipo, duração e intensidade do alongamento, entre outros fatores. Independentemente da modalidade escolhida, o alongamento deve ser integrado na rotina de aquecimento dado que apenas desta forma está demonstrado que pode prevenir lesões. Como regra geral, alongamentos pré-exercício de baixa intensidade e duração oferecem os efeitos biomecânicos pretendidos com menor risco de afetar o desempenho atlético. This review addresses the acute effects of stretching performed prior to exercise. We discuss the effects of the different types of stretching on the risk of acute injury and their impact on sports such as strength and flexibility. The acute effects on performance and risk of injury can vary with the type, duration and intensity of the stretching, among other factors. Regardless of the chosen modal- ity, the muscle stretching should be combined with the warming-up routine since only by doing so it is demonstrated that it can prevent injuries. In general, low intensity and duration muscle stretching achieves the intended biomechanical effects with lower risk of affecting performance. PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS Alongamento muscular, lesão, força, flexibilidade Stretching, injury, strength, flexibility Introdução É consensual que o alongamento miotendinoso aumenta a amplitude de movimento (AdM). 1,2 No entanto, no que toca aos seus efeitos na performance 3,4,5 e no risco de lesão 6,7 as opiniões divergem, sobretudo quando realizados previamente ao exercício, para os quais temos de considerar os seus efeitos agudos. Podemos agrupar o alongamento, de acordo com a resposta biomecâ- nica e neurofisiológica 1 , em três tipos: estático, facilitação neuromuscular propriocetiva (FNP) e balístico. 1, 8, 9 Em relação à resposta biomecânica do alongamento Os alongamentos repetidos dimi- nuem ligeiramente a tensão muscular devido à redução da sua viscosidade. 1,8,10 Imagine-se a resistência exercida sobre uma bola a atravessar um tubo preenchido por um fluido. A viscosidade será tanto menor quanto maior a velocidade da 12 Julho 2017 www.revdesportiva.pt bola. No entanto, devido às proprie- dades elásticas do músculo, a maio- ria da tensão muscular mantém-se (tal como um elástico, se o esticar- mos várias vezes sem o deformar manter-se-á uma dada tensão para um determinado comprimento). Adicionalmente, o alongamento aumenta ligeiramente o compri- mento da unidade músculo-tendão, sendo este um dos efeitos agudos, juntamente com a diminuição da viscosidade. 8 A duração e magnitude das alte- rações das propriedades viscoelás- ticas, do comprimento da unidade músculo-tendão e da AdM podem variar com a intensidade do alon- gamento. 8,9 Neste sentido, tem-se verificado que um número reduzido de alongamentos (3 a 4 alongamen- tos, cada um com a duração de cerca de 30 segundos) é suficiente para causar a maioria destas alterações de forma quase máxima. 8,14 A AdM aumenta com os três tipos de alon- gamento, sendo o balístico o menos eficaz. 8,9 Os ligamentos, os tendões e a fáscia partilham as mesmas propriedades viscoelásticas do mús- culo 8 e podem também ser modifica- das pelo alongamento. Em relação à resposta neurofisiológica do alongamento Estudos experimentais demonstram que o alongamento estático causa inibição dos aferentes dos fusos neuromusculares e da excitabilidade do motoneurónio medular espinhal, diminuindo a ativação neuromuscu- lar. 15 O alongamento FNP parece ser o que mais diminui a ativação neu- romuscular, causando maior relaxa- mento muscular do que os alonga- mentos estático e balístico. 16 Este efeito inibitório mantém-se tempo- rariamente após o alongamento e pode prolongar-se durante horas. 17 Por outro lado, este efeito inibitório é muito inferior ou até inexistente após o alongamento balístico. 18 Influência das alterações biomecânicas e neurofisiológicas na capacidade atlética São muitos os estudos experimen- tais que demonstram a ocorrência de défices de força muscular após um pequeno número de alongamen- tos estáticos de curta duração (30 a 45 segundos) 2 , incluindo défice de força muscular isométrica máxima 4 e menor altura de salto. 19 Os défices de força muscular podem manter- -se durante pelo menos 120 minutos após o alongamento 4 e podem dever- -se, em parte, à inibição da ativação neuromuscular 20 , conforme já refe- rido anteriormente. Embora exista uma preponderância de estudos que reportam a redução da força muscular (nomeadamente da força- -máxima e força-potência) após alongamentos estáticos, a litera- tura não é unânime neste tema. 21,22 Nesse sentido, e em contrapartida, alguns autores defendem que os desportos em que predominam os exercícios realizados no extremo da amplitude articular podem ser melhorados pelo alongamento estático. 18 Quanto ao alongamen to balís- tico, parece haver concordância entre investigadores no sentido em que não ocorre o défice de força