Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2016 | Page 8

AHA / ACC SCIENTIFIC STATEMENT

Comentário

Eligibility and Disqualification Recommendations for Competitive Athletes With Cardiovascular Abnormalities : Task Force 13 : Commotio Cordis A Scientific Statement From the American Heart Association and American College of Cardiology
Mark S . Link , MD , FACC , Chair ; N . A . Mark Estes III , MD , FACC ; Barry J . Maron , MD , FACC ; on behalf of the American Heart Association Electrocardiography and Arrhythmias Committee of the Council on Clinical Cardiology , Council on Cardiovascular Disease in the Young , Council on Cardiovascular and Stroke Nursing , Council on Functional Genomics and Translational Biology , and the American College of Cardiology
Dr . Paulo Dinis , Dr . Lino Gonçalves Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – Hospital Geral Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
A American Heart Association e o American College of Cardiology ( AHA / ACC ) publicaram no final de 2015 as novas recomendações para elegibilidade ou desqualificação de atletas com patologia cardíaca . Foram abordados diversos temas , entre os quais o commotio cordis ( Task Force 13 ) 1 .
Na definição do commotio cordis refere-se que é uma entidade clínica caracterizada por um evento disrítmico primário que conduz à morte súbita , devido a um impacto brusco , não penetrante e relativamente inocente na região precordial . É importante diferenciá-lo da contusão cardíaca , já que esta última está associada a trauma e a lesão cardíaca estrutural 1 , 2 .
Foi descrito pela primeira vez em meados do século XVIII . Inicialmente pensou-se que este fenómeno era raro , mas nas últimas décadas tem sido cada vez mais reportado . Provavelmente este facto acontece , não pelo aumento da frequência , mas sim pela crescente notoriedade que cada caso representa , pois é uma das principais causas de morte súbita no jovem atleta , sendo apenas ultrapassado pela miocardiopatia hipertrófica e pela anomalia congénita das artérias coronárias 3 . O impacto psicossocial deste acontecimento , quer pela idade dos atletas , quer pela mediatização dos meios de comunicação , fez com que nos últimos anos se tenha investigado mais sobre esta condição .
A prevalência do género masculino pode ser explicada pela maior adesão dos rapazes a este tipo de desportos , mas não se pode excluir a possibilidade de existir uma componente genética que crie uma maior suscetibilidade , quer por diferenças dos canais iónicos , quer também por modificação dos mesmos pelas hormonas sexuais 2 .
Os fatores de risco são bem conhecidos . Afeta principalmente adolescentes do sexo masculino ( 95 %), sendo que a idade média se situa entre os 14 e os 15 anos 1 , 2 . Nestas idades , a parede torácica mais fina e com maior complacência torna estes jovens mais suscetíveis . O desporto onde se verifica o maior registo de eventos é o basebol 2 . No entanto , também é relativamente frequente noutros desportos , como o lacrosse , o hóquei ou o softball . Estes desportos têm um risco acrescido devido ao perigo de impacto da bola ou do disco na região precordial . Também pode ocorrer noutros desportos , nomeadamente nos de
Ref . http :// cdn . lifeinthefastlane . com / wp-content / uploads / 2010 / 05 / Comotio-Cordis-Softball1 . jpg
contacto físico e de combate , sendo o punho e o cotovelo os principais agentes desencadeantes .
A localização do impacto , a forma do objeto , o timing e a velocidade são importantes . Só os impactos que ocorrem na zona precordial é que conseguem desencadear o evento . Os objetos de forma esférica , densos e de pequena dimensão , que se dirigem perpendicularmente à parede torácica , têm mais propensão a desencadear a fibrilhação ventricular e posterior paragem cardiorrespiratória 1 . No laboratório e em modelos animais , já se demonstrou que o timing é crucial , pois os impactos que coincidem com o período vulnerável do segmento ascendente da onda T , mais precisamente entre os 10 e 30 milissegundos imediatamente anteriores ao pico da onda T , é que conseguem desencadear mais frequentemente o evento disrítmico 2 . A velocidade do impacto também é importante : as velocidades próximas dos 64 km / h são as mais perigosas , ao passo que as velocidades acima dos 80 Km / h já estão associadas a contusão cardíaca , ou seja , lesão cardíaca estrutural 2 .
A confluência dos fatores de risco supracitados , localização , orientação , velocidade e timing do impacto , em conjunto com as características do atleta jovem , com parede torácica fina e complacente , originam um aumento súbito da pressão intratorácica ,
6 Julho 2016 www . revdesportiva . pt