Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2016 | Page 28
melanocompetentes (fototipos 4, 5
e 6)1,6,10. O facto de grande parte da
amostra considerar que se enquadra
num fototipo 5, menos suscetível
à radiação solar, poderá contribuir
para justificar a elevada percentagem (84,8%) de inquiridos com
“Comportamento despreocupado”
(Gráfico 1).
O obstáculo mais vezes referido
pelos inquiridos à não aplicação ou
aplicação incorreta de PS foi a falta
de paciência (Gráfico 6), seguido
pelo desejo em se bronzearem
mais rapidamente (o qual foi mais
relevante para as raparigas do que
para os rapazes) e de acharem que
não era necessário a sua aplicação (o qual foi mais referido pelos
rapazes). A coloração ideal da pele
varia entre as diferentes culturas.
Historicamente, a pele pálida foi
durante muito tempo um sinal de
elevado nível social, enquanto a pele
bronzeada estava mais associada
aos trabalhadores manuais que
sofriam exposição solar intensa26.
Por volta de 1855, a pele bronzeada
começou a ser associada a saúde,
quando se começou a usar a luz
solar como tratamento de tuberculose, depressão e outros problemas
psiquiátricos27. Foi apenas na década
de 1920 que a estilista Coco Chanel
popularizou a pele bronzeada como
sinal de beleza e a exposição solar
como prazerosa26. Recentemente,
devido à evolução científica e consciencialização dos riscos associados
à exposição solar, o desejo de uma
pele bronzeada, apesar de ainda
muito presente, tem vindo lentamente a diminuir, reforçando-se a
proteção solar e a cor natural da
pele de cada um26,28. É importante
ter a noção que não existe bronzeamento saudável29. Como resposta
à agressão pela radiação UV, os
melanócitos libertam mais melanina para os queratinócitos numa
tentativa de proteger a pele contra
futuras agressões solares, dotando
a pele de uma tonalidade mais
escurecida. No entanto, a presença
de pele bronzeada implica que já se
verificaram lesões celulares e está
associada a envelhecimento cutâneo
precoce e cancro de pele30. A ideia do
bronzeamento proteger de futuras
agressões é falsa, correspondendo a
uma tentativa infrutífera do nosso
organismo, na medida em que esta
produção adicional de melanina
apenas confere o equivalente a FPS
igual a 2 a 4, longe do mínimo que
é necessário para proteção eficaz
dos raios UV29. O PS garante uma
barreira física e química que protege
Gráfico 3 – Situações que justificam uso de PS.
Gráfico 5 – Temporalidade da aplicação de PS.
26 Julho 2016 www.revdesportiva.pt
a pele contra os raios UV, mas não
é uma barreira total, permitindo
um bronzeamento ligeiro gradual
e menos agressivo e lesivo, pelo
que deve ser sempre aplicado em
situações de exposição solar26,27,29.
O objetivo não é limitar atividades
que impliquem exposição solar mas
encontrar um equilíbrio entre as
medidas de fotodermoproteção e a
prática de atividades desportivas e
de lazer ao ar livre, sendo para isso
fundamental o uso correto de PS
associado às outras medidas anteriormente referidas.
Relativamente à perceção de cada
aluno sobre o seu grau de esclarecimento em relação ao uso correto do
PS, verificou-se que cerca de 80% dos
inquiridos cujas respostas os incluíram no score “Conhecimento insuficiente” julga ter esclarecimento
suficiente sobre este tema. Esta falsa
sensação de conhecimento pode
constituir mais um entrave à adesão
a campanhas de fotodermoproteção.
Conclusões
O presente estudo conclui que a
maioria dos adolescentes da amostra apresenta níveis de conhecimento insuficientes e comportamentos
negligentes
relativamente
ao uso adequado
de PS. Os principais motivos de
não uso ou uso
incorreto de PS
são não terem
paciência para
o aplicar, desejo
de obter bronzeamento mais
rápido e não
julgarem necesGráfico 4 – Áreas onde aplicar PS.
sário. Apesar de
terem níveis precários de conhecimento, grande
parte dos inquiridos afirmam ter
esclarecimento
suficiente sobre
uso correto de PS.
Apesar das limitações do estudo
(questionários
Gráfico 6 – Motivos do não uso ou uso incorreto de PS. de autopreen-