Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2016 | Page 24

é fundamental para contrariar a prática desportiva inadequada, que poderá levar à perda das suas características anabólicas e construtivas, levando entre várias outras coisas, ao dano físico e mental. Isso implica uma evidente necessidade de apoio médico-fisiológico e nutricional, com acompanhamento vincado nos eixos endócrinos, nomeadamente o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal. Considerando que a linha que separa a fadiga construtiva do overtraining (muitas vezes associado ao overworking) é ténue, a avaliação baseada na interpretação das sensações corre o risco de falhar redondamente. N os dias de hoje é fundamental fazer um seguimento físico, mental e bioquímico, indicando o caminho a que o treino nos está a conduzir. É essencial a deteção precoce do denominado NFOR – Non-Functional Over Reaching, evitando o declínio físico e mental do atleta. Estas situações, para além de provocarem muita sintomatologia, associam-se a um resposta travada de cortisol, não havendo a sua devida produção, necessária para a obtenção dos resultados, potenciando quadros depressivos, fadigas acentuadas, frenadoras da capacidade funcional e social, o que promove múltiplos distúrbios orgânicos, incluindo o aparelho osteoarticular. Prof. Doutor Vítor Hugo Teixeira Nutricionista Faculdade de cIências da Nutrição. Porto Nutrição De entre as ciências do desporto, a nutrição deverá ter sido a área que mais evoluiu nos últimos anos. O número de estudos publicados sobre o impacto da nutrição no desempenho desportivo tem crescido a um ritmo vertiginoso, que se tem traduzido numa (nem sempre fiel) reprodução exponencial na blogosfera. Com este pano de fundo, esta apresentação pretendeu responder a algumas das dúvidas que ecoam entre os profissionais de saúde sobre as questões da nutrição aplicadas ao desporto. Uma das principais questões mais frequentemente colocadas no 22 Julho 2016 www.revdesportiva.pt âmbito do desporto é sobre os suplementos para os quais existe evidência científica robusta a atestar o seu efeito ergogénico. O Instituto Australiano do Desporto responde a esta questão de forma clara (http://www. ausport.gov.au/ais/nutrition/supplements), identificando aqueles com maior grau de evidência: cafeína, creatina, bicarbonato, β-alanina e sumo de beterraba. Deve ser-se criterioso na escolha, em função das exigências do desporto(ista), e ser intransigente quanto à segurança dos suplementos (10-15% estão contaminados com substâncias proibidas pela WADA), restringindo o leque de opções aqueles que foram testados em laboratórios independentes. Uma situação que deverá merecer um cuidado nutricional redobrado é a dos atletas lesionados. Na fase de imobilização devem evitar-se deficiências nutricionais (nomeadamente energéticas), distribuir melhor a ingestão proteica pelo dia alimentar, evitar megadoses de antioxidantes e evitar bebidas alcoólicas. Um erro comum é castrar em demasia a energia com o objetivo de não se acumular massa gorda. Apesar de indesejável, poderá ser mais problemático dificultar a regeneração de tecidos por carências nutricionais, uma vez que um eventual acumulo de tecido adiposos será revertido na fase de recuperação funcional. Nesta fase, a ingestão energética deve ser mais ampla e acompanhada da toma de creatina de forma a potenciar o ganho de massa muscular. Um tema recorrente prende-se com a ingestão de alimentos (e suplementos) proteicos, muito em voga. Tem-se acumulado evidência de que um aporto aumentado de proteína (1,6 a 2,7g/kg/dia) contribui para um emagrecimento mais eficiente ao preservar a massa muscular de atletas. Tão, ou mais, importante que a quantidade total ingerida é sua a fragmentação em 4 ou 5 episódios alimentares (e não mais), cada um com aproximadamente 20g (0,25g/kg). Prof. Dr. João Páscoa Pinheiro Medicina Desportiva e Medicina Física e de Reabilitação. Faculdade de Medicina – Universidade de Coimbra Lesões musculares A lesão muscular intrínseca é uma das patologias mais frequentes na prática desportiva, com expressão muito particular nas modalidades desportivas tradicionais e na dimensão competitiva. A incidência e prevalência variam com a modalidade, horas de treino e exigência competitiva. Representa 30% das lesões do futebol e 30% de todas as lesões desportivas. Como principais fatores de risco (intrínsecos e extrínsecos / modificáveis ou não) estão descritos a biomecânica regional, a idade, o padrão de flexibilidade e de força muscular, a história prévia de lesão muscular, o gesto desportivo dominante, a metodologia de treino e o apoio médico-desportivo entre outros. A lesão muscular expressa um dano estrutural com três fases bem definidas, nomeadamente a destruição (rotura e necrose da fibra muscular), a reparação (regeneração da fibra e formação de cicatriz) e a remodelação (adequação à função e intervenção no risco de recidiva). Esta sequência é incontornável variando com a qualidade e intensidade do processo traumático. O diagnóstico é essencialmente clínico, pressupondo um exaustiva história clínica (anamnese e exame físico), aconselhando-se a seguinte metodologia: descrição do acidente e mecanismo lesional, os acontecimentos imediatos, a inspeção, as manobras/ testes específicos… e os exames complementares (ecografia+++). A compreensão anátomo-clínica é decisiva, devendo poder concluir uma classificação / estratificação do grau lesional e inequivocamente a existência ou não de hematoma (puncionável?). A ecografia deve ser entendida como a continuação do exame clínico, permitindo identificar o músculo e a dimensão lesional, guiar a drenagem do hematoma e acompanhar a evolução lesional (do hematoma, da fibrose, da calcificação) bem como fazer o exame dinâmico. Continua na página 27