Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2013 | Page 31

têm um efeito potenciador do rendimento desportivo e que a sua utilização fora de competição se enquadra como um ato inerente à vida privada do praticante. 10. Este elevado consumo de canabinoides pelos atletas tem alguma justificação social ou desportiva? SS – Acredito que a justificação é essencialmente social. Chego a esta conclusão tendo em conta a reduzida influência objetiva dos canabinoides na melhoria da performance desportiva e, por outro lado, o facto destas substâncias serem as mais utilizadas na população jovem em geral, cujo consumo está igualmente a aumentar. Assim, seria até de estranhar se não se verificassem os mesmos comportamentos nos praticantes desportivos. O desporto não é uma ilha plena de valores e comportamentos positivos e saudáveis, rodeada por diabólicas tentações e exemplos negativos para o Ser Humano. O desporto reproduz as tendências sociais e, porventura, em muitas circunstâncias, amplia o que de negativo existe na Sociedade. 11. Existem movimentos que apelam a retirada dos canabinoides da lista da AMA. Prevê que tal venha a acontecer no futuro? LH – Neste preciso momento o Código Mundial Antidopagem está em fase de revisão para que seja aprovada no final de 2013 uma nova versão, que entrará em vigor no dia 1 de janeiro de 2015. Discutem-se se os critérios de inclusão de uma substância ou método proibido na Lista se devem manter ou se o critério relacionado com o aumento do rendimento desportivo tenha que estar obrigatoriamente presente para que uma substância ou método integrem a Lista. Existe igualmente uma proposta para que se introduza no regime sancionatório uma nova secção dedicada às drogas de abuso, onde parte do período de suspensão da atividade desportiva poderia ser substituída pela submissão do praticante desportivo a um programa de reabilitação. 12. Os casos positivos com canabinoides poderão funcionar como arma de dissuasão do consumo das drogas verdadeiramente eficazes no rendimento desportivo? SS – Não creio que haja transferência de efeito dissuasor para o consumo de drogas cujo efeito se centra nos mecanismos biológicos otimizadores do rendimento desportivo. A montante, os motivos essenciais que conduzem ao consumo são distintos, o que se associa a mecanismos psicológicos diferentes. Acredito que a maioria dos consumidores de canabinoides utiliza esta substância socialmente, não focado nos efeitos de melhoria da performance. Ao contrário, os atletas que consciente e intencionalmente se envolvem na dopagem pretendem utilizar meios ilícitos que favoreçam a obtenção de um rendimento superior. Em ambas as situações as substâncias são meios instrumentais para atingir um objetivo pessoal. Com os canabinoides visa-se a vivência de um estado psicológico agradável e/ou a integração social, enquanto com as “drogas verdadeiramente eficazes no rendimento desportivo” se pretende ganhar vantagem sobre os adversários na competição desportiva. Os primeiros poderão ter mais cuidado, evitando o consumo em períodos suscetíveis de detetar vestígios de canabinoides, mas os segundos procurarão camuflar os efeitos e encontrar drogas mais eficazes e menos suscetíveis de serem detetadas. 13. A prevenção e a informação são instrumentos importantes. O que se passa nas aulas da Faculdade? SS – No que respeita às disciplinas que leciono, e que estão na área da psicologia do desporto, os estudantes são estimulados a elaborar trabalhos sobre as questões psicológicas da dopagem, os quais são apresentados e discutidos em aulas práticas. Pretende-se compreender os mecanismos que levam ao envolvimento no consumo de substâncias dopantes, nas perspetivas psicológicas e sociais, bem como levantar princípios que possam contribuir para uma eficaz educação dos jovens praticantes no que concerne à prevenção de tais comportamentos. Neste âmbito, refere-se o envolvimento social e o papel dos outros significativos, designadamente pais, amigos, treinadores e outros atores do sistema desportivo. PS – Neste aspeto só posso referir o que se passa no