Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2013 | Page 4
Entrevista
Rev. Medicina Desportiva informa, 2013, 4 (4), p. 2
Dr. Domingos Gomes
Especialista em Medicina Desportiva, CESPU – Gandra, Paredes
Ex-médico de equipa do F C Porto
Como começou e há quantos
anos se dedica à Medicina
Desportiva?
As coincidências existem principalmente quando se vive e se
atua de boa-fé. Em Agosto de
1967 partiu de lisboa e Navio
Niassa com 1800 homens. Entre
eles iam dois oficiais: 1 médico de um
dos batalhões de cavalaria (Dr. Vitorino Santana), médico do FCP, e eu,
oficial da companhia de polícia militar
173, e foi assim o primeiro contacto.
Em 1971/72, acabado o curso e como
elemento de uma equipa de urgência, encontro o Dr. Vitorino Santana
como urologista. Depois, em 1973 sou
convidado para médico da secção de
natação do FCP pelo Dr. Santana. Em
1974/75, a pedido do mesmo, fui fazer
os eletrocardiogramas à equipa sénior
do FCP durante os exames médicos
da pré-época. Em 1976 fui convidado
pelos Srs. Pedroto e Jorge Nuno Pinto
da Costa para ser médico da equipa
sénior de futebol do FCP. Em 1981 em
u fui nomeado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos
para coordenar e integrar uma Comissão para a criação da especialidade de
Medicina Desportiva, acrescentando
a especialidade de Medicina Interna à
de Medicina Desportiva.
O seu passado está profundamente
marcado ao F C Porto. Há 20–30
anos era fácil ser médico de equipa?
Quais eram as suas dificuldades no
diagnóstico e tratamento das lesões?
É um facto a minha ligação ao FCP
durante 30 anos. Nessa época não
foi fácil ser médico de equipa, na
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qual predominava o conceito orto-traumático. Foi necessário alterar
esta forma de estar, procurando
formar uma equipa multidisciplinar, preparada para a prevenção,
tratamento e recuperação dos atletas. Contudo, não existiam livros
escritos e os meios de diagnóstico
eram escassos. Foi por isso necessário procurar novos avanços e
processos, noutros locais do Mundo,
através da ida a congressos e locais
de excelência.
Quais foram os momentos de
maior glória e também de maior
tristeza?
A estrutura do futebol está
totalmente alterada. Para melhor
ou para pior? Perderam-se a
intimidade, a solidariedade, a
familiaridade?
Tem algum episódio engraçado
que gostaria de contar?
É claro que está alterada. Não sei se
para melhor ou pior, apenas diferente. Os valores referidos alteraram-se e alguns perderam-se, talvez
provocado pela própria sociedade e o
seu conceito financeiro.
Na sua prática clínica no clube
aprendeu também com os
treinadores? Qual(is) o(s) que o
mais marcaram?
Aprendi e muito. Distingo três que
se cruzaram no meu percurso: o
Sr. Pedroto, aprendi a estar e atuar
nesta área; o Artur Jorge, pela responsabilização e individualização
do médico e do seu departamento; e
Sir Bobby Robson (um Lord) por ser
uma pessoa educada, conversadora,
grata, leal e cooperante, aprendi
muito com ele e com o seu adjunto
na altura, o José Mourinho.
Os momentos de glória, desportivamente, foi a influência tida na
preparação e prevenção do jet-lag
para a final em Tóquio em 1987,
bem como a final Europeia pelo que
representou e representa. Os de
maior tristeza foram as lesões dos
atletas (Octávio, Pacheco, Gomes,
etc.), bem como a saída do Futre.
Como devem imaginar existem
muitos episódios. Refiro apenas um
que teve a ver com a preocupação de
chegar depressa a um atleta lesionado no campo, a qual motivou uma
derrapagem em direção ao mesmo,
parecendo mais uma placagem do
médico ao jogador.
Que conselho dá aos jovens
médicos que querem enveredar
pela Medicina Desportiva?
Se gostam e têm espírito pioneiro,
não hesitem em abraçar a Medicina
Desportiva, pois vão encontrar uma
satisfação e formação fundamentais
no âmbito preventivo, terapêutico e
recuperativo, que vos realizará profissionalmente. Sejam conscientes e
nesta população tão especial, nunca
curem apenas os sintomas, mas
procurem sempre as causas.