Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2012 | Page 13
Uma das possíveis causas envolvidas é a alteração irreversível das
propriedades mecânicas da fáscia,
isto é, aumento da espessura com
prejuízo para a compliance3. A hipertrofia muscular per si também contribui para o problema. O seu papel
é tanto mais importante quanto
maior for a variação em determinado espaço de tempo (ex. início de
época desportiva, aumento da carga
de treino)2-4,9. Aumentos rápidos do
volume muscular devido a retenção
hídrica (ex. consumidores de suplementos de creatina monohidratada)
podem desencadear uma síndrome
compartimental4.
Por sua vez, o exercício físico
induz uma chamada de sangue para
o músculo. Esta vasodilatação local,
a par da própria contração muscular,
provoca aumento do volume muscular (até 20%) e, tendo em conta
o espaço exíguo de limites rígidos,
o aumento da Pic2–4,9.Este aumento
induz diminuição do fluxo sanguíneo local e origina um ambiente
hipóxico. Caso a isquémia se prolongue no tempo ocorre morte celular
no endotélio e no músculo, o que
perpetua o edema local e estabelece
um estado inflamatório, respetivamente2.
Está descrito que indivíduos
treinados têm maior capacidade
vasodilatadora quando comparados
com indivíduos não treinados, fator
com impacto negativo no que concerne ao SCCE5. As deficiências nos
processos biomecânicos aquando da
atividade física também influem no
despoletar de SCCE3.
O repouso reduz as necessidades
metabólicas do músculo e contraria os processos que provocam o
aumento da Pic. Isto permite normalizar o ambiente fisiológico e anular,
a seu tempo, a sintomatologia.
Diagnóstico
O diagnóstico de SCCE carece de
uma história clínica cuidada, isto
porque os doentes apresentam-se normalmente assintomáticos
aquando da consulta. Esta é uma
das razões para o seu subdiagnóstico. Outra é o facto de, sendo uma
situação auto-limitada, muitos dos
potenciais doentes simplesmente
desistirem da prática da atividade
física em vez de procurarem ajuda
médica2,4,5,7,9. Além disso, acresce o
comum conselho de alguns profissionais “se provoca dor, não o faça”3.
Os sintomas reportados são
muito caraterísticos e têm um fator
desencadeante – o exercício – e um
fator de alívio – o repouso3,4,6,9,10.Com
o passar do tempo pode verificar-se
o agravamento dos sintomas, isto
é, aparecimento mais cedo e com
maior intensidade, e alívio mais
lento após o cessar de atividade3,10.
Os doentes referem uma dor incomodativa, vaga ou localizada a um
compartimento específico, por vezes
com irradiação para a mão, sensação
de edema e dificuldade em mobilizar voluntariamente a mão2,3,5–7,9,10.
Às queixas álgicas podem associar-se sintomas neurológicos, como
alterações da sensibilidade e, eventualmente, da motricidade2,3,6,9,10. A
apresentação pode ser bilateral em
cerca de um terço dos casos7
No exame objetivo, em repouso,
existe pouco ou mesmo nada que se
possa evidenciar2. Perante isto, deve
realizar-se um teste ergométrico
desporto-específico para reproduzir o conjunto dos sintomas (ex.:
movimento repetitivo de preensão
durante 2 minutos)4,5,7,9. Assim é
possível comprovar os sintomas
reportados pelo doente e observar os
sinais relacionados. O exame neurológico e vascular deve ser realizado
concomitantemente4.
Os sintomas descritos não são
específicos de SCCE e podem
resultar de outras patologias, em
combinação ou em exclusivo. Esta
síndrome deve ser considerada no
diagnóstico diferencial em qualquer
disfunção do membro superior associada ao exercício3,6-9. Para confirmar
definitivamente o diagnóstico pode
medir-se a Pic em 3 fases distintas:
repouso, esforço e após o mesmo
(1’, 5’ e 15’)2-4,6-8,10. Estão descritas na
literatura várias técnicas de medição
da Pic [ex. cateter wick ou slit, STIC
(solid state transduce intracompartmental catheter) e o monitor de pressão
intracompartimental Stryker]1,3,4,10
(fig. 2). Todos eles têm vantagens
e desvantagens, podendo ser utilizados na prática clínica, inclusive
durante o exercício físico.
O aspeto que motiva mais discussão no diagnóstico do SCCE é o valor
de Pic a considerar como patológico
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